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Figos: Nem mais, nem menos!

12/11/2016 às 00:00

Documentos seculares aludem à suculência dos figos gerados pelas figueiras do Alto Ribatejo. A árvore é impopular, as razões radicam-se no facto de o traidor Judas Iscariotes se ter enforcado numa figueira, a má fama não impede a gulosa consumição dos seus frutos ao atingirem adequado grau de maturação.

Fruto originário do Oriente depressa atingiu o Mundo Helénico merecendo os favores da generalidade das populações, os Romanos inventaram diversas receitas cujos elementos primaciais eram os figos. Uma delas – presunto cozido – continua a figurar em muitas cartas de comeres de restaurantes italianos, nos de todo o Mundo a delicadeza gastronómica – foie gras – ganha sapidez porque os referidos frutos engordam os patos e os gansos, assim a tradição romana perdura.

Há vários tipos de figos: brancos, castanhos, amarelos, roxos, verdes, os quais surgem ao longo da maior parte do ano.

Os Fenícios grandes navegadores comiam-se secos, a sua irradiação pelo Mediterrâneo e costa Atlântica é atribuída a estes negociantes que também introduziram na Ibéria o grão-de-bico.

De grande valor energético, ricos em lípidos outrora ajudavam as Mestras cozinheiras a superar a carência de açúcar ou mel pois após serem secos eram cozidos e a água ficava açucarada. Nas famílias de menores recursos aproveitava-se a dita água na confecção de variados preparos culinários, caso da mexuda.

Na alimentação das comunidades rurais os figos frescos alegravam as refeições estivais fosse na condição de coroamento das mesmas, fosse no coadjuvar de postas de peixe frito e fatias de carne frias. Já secos tornavam-se indispensáveis no matabicho (pequeno almoço da generalidade das mulheres e homens. A cozinha de necessidade é pródiga na construção de comeres de produtos sazonais, atreitos a rápida passagem ao estado de fermentação ou podridão. A argúcia no seu aproveitamento é a causa de autênticas obras-primas da culinária mundial. O clássico O Banquete dos Eruditos, de Ateneu de Neucrátis refere algumas dessas criações a demonstrar aos chefes do momento quão têm a aprender lendo os antigos.

Escritores do talante de Camilo, Fialho de Almeida e Aquilino Ribeiro aludem a figos nos seus livros.

Na denominada alta-cozinha os figos adoçam e perfumam pratos de carne de caça, coelho, lebre e perdiz, ainda pastelaria fina e compotas.

Os figos deterioram-se facilmente, não aguentam muito tempo após serem colhidos, no entanto, as técnicas de conservação no frio possibilitam conceberem-se inúmeras composições culinárias seja na categoria de elemento principal, seja na de acompanhantes de múltiplos matizes, sem esquecer bebidas em vários tons e ardores. A aguardente de figo é vivaz exemplo.

A carência de espaço impede-me de tecer considerações sobre a possibilidade de os figos poderem configurar apelativo receituário de cariz regional, fica o alerta, aos seus consumidores peço o favor de meditarem na vetusta máxima: uns comem os figos, a outros rebentam-lhe os beiços. Nem mais, nem menos!

Armando Fernandes

 

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