A Ermida fez 10 anos e assinalou a data com um convívio no Crispean’s, ou seja, no bar onde pode ser encontrada na plenitude de todas as variedades. E são 12 em outras tantas torneiras que permitem conhecer a cerveja artesanal, das leves às pesadas ou à reserva. Ali, pode perguntar diretamente ao cervejeiro Rui Reis tudo o que quiser sobre a forma como a Ermida é produzida. E sem truques ou segredos.
O aniversário é o 10.º, mas Rui Reis começou muitos anos antes as experiências com as leveduras e com as aromatizações.
Os 10 anos da "Ermida" marcam o lançamento da marca, o licenciamento da atividade pelo Município e, um ou dois meses mais tarde, a legalização pela Alfândega de Peniche. “Como é uma produção de álcool temos uma autoridade que nos regula, e foi em maio de 2014 que tivemos todas as autorizações.” Rui Reis revela que foi neste momento o arranque da comercialização legal da "Ermida".
Rui Reis, no Crispean's pode provar, a copo, 12 variedades da "Ermida"
Os primeiros passos, recorda, foram dados na garagem dos pais com a produção de uma cerveja de trigo, uma belga. Não houve uma “foram logo umas quatro receitas que gostava de experimentar. Não havia ali intenção de comercializar, era uma brincadeira, eram experiências”, diz acrescentando que “o ambiente familiar foi logo o primeiro local de prova e de reações.” Depois o círculo alargou aos amigos que iam provando e pedindo ao Rui algumas unidades para eventos e foi assim que começou a comercialização.
A cerveja chama-se "Ermida", mas o nome só surgiu depois do início da produção e estava mais perto do que o que se pode pensar. Ou ate mesmo do que o Rui poderia pensar. “A "Ermida" foi produzida na garagem da casa dos meus pais, na Rua Ermida de Santo André. As primeiras cervejas artesanais tinham uma grande monástica, na Bélgica eram produzidas por monges. Ora, mundo monástico e como estava a começar, não era uma catedral era só uma capelinha, o nome estava lá. Ermida. O nome começou a ficar na cabeça das pessoas e pronto. Logo de seguida ‘vestimos’ a garrafa, porque inicialmente ia sem rótulo. E ficou a 'Ermida'.”
Rui Reis começou a produzir, mas nunca deixou de investigar e de experimentar leveduras novas, sabores novos. Nesta altura tem um portfólio de 16 variedades da Ermida, que são produzidas com sazonalidade. Algumas, acrescenta, não são produzidas todos os anos.
O cervejeiro tem uma ligação forte às suas raízes, à sua terra. Pelo que criou, recentemente, a "Ermida Cidade Florida", com rótulo próprio e diferenciador que pretende ser uma homenagem a Abrantes. E criou-a para ser uma cerveja mais leve, mais “bebível” por todos, homens e mulheres. “Era um projeto que tinha na gaveta e que por estímulo e incentivo de um amigo, o Dr. Luís Peixoto, acabei por o colocar em prática.” A ideia era simples, criar uma cerveja que agradasse a homem e a mulher, mais de verão, mais fresca e menos encorpada. Para criar a "Cidade Florida" o cervejeiro indica que se inspirou nalguns ingredientes da cidade. “Lembro que em junho [pelas Festas] é a floração das tílias, notamos esse cheirinho pela cidade. Foi um clique colocar esses “cheiros”, tanto que leva chá de tília, leva casca de laranja, as sementes de coentros, levou uns toques que gengibre que lhe vai assentar frescura e tem algum picante, pelo que vai manter o sabor nas nossas papilas gustativas”, explica acrescentado que toda a sua produção é feita com “água da nossa terra, água da rede pública.” A ideia, reafirma, sempre foi fazer um trabalho genuíno sem correção de perfil mineral.
2024 não vai trazer nenhuma novidade para fazer crescer o portfólio, mas na cabeça há sempre ideias novas a germinar. Há misturas que estão na gaveta à esperar de poderem ser testadas.
Para fazer a cerveja artesanal tem que se juntar alguns ingredientes. O principal, a água, abunda, tanto mais que é água da rede de consumo público. Os maltes, lúpulos e as leveduras, a maior parte são importados. “São cervejas muito exclusivas com ingredientes muito específicos e, nalguns casos, que não existem em Portugal”, explica sem rodeios, Rui Reis e clarifica que, atualmente, trabalha com lúpulos da Nova Zelândia, Estados Unidos, Chéquia, Inglaterra e do “Sol Nascente” e os maltes vêm da Alemanha ou Inglaterra. Depois há um conjunto de outros ingredientes locais que vão criar odores e sabores na própria cerveja e que fazem de cada variedade um produto diferenciado. Como exemplo, a “Cidade Florida” acrescenta o chá de tília, a casca de laranja, as sementes de coentro e um toque de gengibre.
Quanto à comercialização, a garrafa [0,33 ou 0,75 cl] é procurada para ofertas, já a cerveja a copo é a que mais sai no Crispean’s, ao longo do ano, ou mais no verão nos eventos ao ar livre em que a Ermida está presente, como, por exemplo nas Festas de Abrantes.
Rui Reis diz que tem a capacidade de produção no máximo. “Por ano, em todas as variedades, temos uma produção global de 2.500 litros.”
Os clientes, principalmente os novos, podem fazer algumas perguntas, porque a cerveja artesanal difere da corrente que os portugueses consomem. Mas Rui Reis diz que o cervejeiro também tem a responsabilidade de explicar o que é que as pessoas vão beber. As perguntas mais correntes têm a ver com aromas e sabores e outras mais específicas apontam às origens dos ingredientes depois “dou a provar e, ou gostam, ou não, e é dessa forma que encontram a sua cerveja.”
Rui Reis, cervejeiro
E numa cervejaria artesanal, como o Crispean’s pode pedir-se uma mais leve, uma “Cidade Florida” ou uma “Blonde Ale”, se for apreciador por pedir uma mais encorpada, que pode ser mais escura, “Imperial Stout” ou uma “IPA” ou uma “Reserva” ou “Whinter Ale”.
No sábado, dia 25, entre uma sangria de “Cidade Florida” com frutos vermelhos ou uma das 12 cervejas disponíveis nas torneiras a “Ermida” assinalou os 10 anos de vida em festa. Não faltou o bolo, os parabéns, a música ao vivo, a animação dos clientes e, claro, o brinde nos flutes.... com a "Ermida Cidade Florida”.
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