A vila de Abrantes dos tempos medievais tinha o castelo, mas tinha uma fortificação à volta das casas que a tornava numa fortaleza. As muralhas, revela a cartografia de outros séculos, torneavam todo o aglomerado pelos quinchosos, em direção à rua da Barca, ao Convento de S. Domingos, à Esplanada 1.º de Maio, Rua Luís de Camões, passando pela Avenida 25 de Abril até ao Alto de Santo António, descendo pela Rua D. Afonso Henriques, Rua Ator Taborda até à Igreja de S. Vicente e depois pela Rua Capitão Correia de Lacerda, novamente até ao Castelo.
Até mesmo o Castelo tinha duas fortificações e, à volta, um fosso com 4 metros de largura e, talvez, uns 6 ou 7 de profundidade. Ou seja, nada com o que podemos ver na atualidade.
E nesta Abrantes fortificada, ou muralhada, só se entrava pelas portas. E eram oito portas para entrar ou sair nesta vila fortificada que ao longo dos tempos foi perdendo essas muralhas, ficando aqui e ali alguns resquícios para nos deixar a imaginação tentar criar essa linha de pedras para defesa do povoado. Mesmo assim, talvez só com um projeto a três dimensões ou com realidade virtual possamos perceber o que seria hoje Abrantes, se a muralha não tivesse sido removida em toda a sua linha.
Voltando às portas, volta a ser necessário perceber os movimentos de outrora para perceber a importância destas portas que, quando necessário, eram fechadas nos tempos de batalha ou quando inimigos se aproximavam do povoado.
As portas são dos Quinchosos, da Rua da Barca, do Cabo, Vale Judeu, Chafariz, Santo António, Santa Ana e Ferraria.
Todo este roteiro, apresentado em papel no Dia dos Monumentos e Sítios teve como base o trabalho de investigação de José Vieira. Trata-se de um investigador com muito do seu olhar sobre as questões militares, tanto mais que este é um roteiro de turismo militar, se quisermos olhar para essa forma de promoção. E Abrantes sempre teve uma grande posição militar por causa da sua posição estratégica, no topo de uma colina com visibilidade alonga distância e ao lado de um rio que teve um papel fundamental no comércio. O porto de fluvial tida grande movimentação de barcos, sendo que depois dali partiam os almocreves para uma parte do território do interior levando nas suas carroças os produtos para venda, nomeadamente sal. E os barcos levariam, depois, produtos para a capital, como a palha do trigo alentejano.
Este lançamento aconteceu no Outeiro de S. Pedro, ponto de partida do roteiro e das tropas portuguesas lideradas por Nuno Álvares Pereira para Aljubarrota, onde teve lugar a Batalha que viria “a mandar embora os Castelhanos.” Francisco Lopes e Filomena Gaspar foram os guias deste roteiro das portas, que entre as explicações do que se estava a visitar colocaram sempre muito mais informação sobre a história da Notável Vila de Abrantes.
Francisco Lopes
O lançamento do roteiro aconteceu no dia evocativo dos Monumentos e Sítios e com o vereador que tutela a cultura a dizer que está criado um novo produto turístico. E há vários no terreno. Os caminhos literários constituem um Roteiro com 62 folhas do livro de José Luís Peixoto espalhadas por outros tantos locais de Abrantes, Constância e Sardoal, e são um dos exemplos.
Luís Filipe Dias, vereador CM Abrantes
O vereador Luís Filipe Dias fez o agradecimento ao investigador José Vieira e a quem esteve envolvido na produção deste roteiro. Porque ao trabalho de investigação foi necessário juntar as ferramentas visuais necessárias para que se possa fazer este roteiro com ou sem guia a explicar cada um dos locais a visitar.
O vereador vincou a importância histórica de Abrantes ao longo dos tempos e explicou que este é o primeiro passo que está a ser dado para um conjunto de plataformas que podem mostrar muito de Abrantes e da sua história.
Luís Filipe Dias, vereador CM Abrantes
Crédito: CMA
José Vieira, na sua investigação, diz ter quatro projetos em mente, sendo que este é o segundo que ganhar corpo. O primeiro tem a ver com as cartas militares de Abrantes do Real Corpo de Engenheiros. Este é o segundo que “espero que venha a ter outras performances, a sinalização das portas e dos "través" (obstáculos que existiam em 1808 e no tempo das invasões francesas).
E há depois a história militar de Abrantes, de 1143 a 1834, que venha um dia a ser um livro. “Está tudo pronto.”
José Vieira, investigador
O primeiro grupo de visitantes era numeroso, pela curiosidade de passear por Abrantes, apesar da tarde quente, e conhecer este novo roteiro. E, para além das explicações das portas, Francisco Lopes e a arqueóloga Filomena Gaspar abriram o livro da história de Abrantes e foram deixando muita explicação sobre a história de Abrantes.
Para aguçar o apetite a fazer um roteiro com guias, deixamos dois ou três pormenores destas curiosidades. Por exemplo a porta dos Quinchosos permitiria a defesa da “gafaria”, ou do local onde eram “depositados” os leprosos.
Francisco Lopes
E Filomena Gaspar acrescentou que ali, dentro das antigas muralhas, existiria uma espécie de grande celeiro. Eram locais no subsolo com uma espécie de talhas de enormes dimensões onde seriam depositados os cereais e outros produtos. Pelo menos foi o que ficou a “nu” quando foram feitas obras na Rua Grande que deixaram a descoberto esses achados.
Filomena Gaspar, Arqueóloga
Crédito: CMA
Mas há outras notas que foram sendo deixadas pelos guias. Por exemplo, a existência de vestígios em Abrantes da civilização Fenícia. Ou seja, existem evidências arqueológicas de que comerciantes Fenícios podem ter estado nesta região. Não seria de estranhar, pois o porto fluvial de Abrantes era, à época, muito importante.
Filomena Gaspar, Arqueóloga
E sobre o Castelo de Abrantes, não era como o conhecemos. Filomena Gaspar explicou que à volta tinha um fosso de 4 metros de largura e 6 ou 7 de profundidade. Pelo menos são as evidências das escavações arqueológicas. Mesmo onde hoje conhecemos o Jardim do Castelo, era noutras alturas, o fosso de defesa da muralha. Depois lá veio uma ordem do Ministro da Guerra para “tapar o fosso e fazer um jardim.”
Filomena Gaspar, Arqueóloga
Há muito mais histórias da história de Abrantes, tendo como ponto de partida o Outeiro de S. Pedro e o pondo de chagada a Torre de Menagem do Castelo de Abrantes. Uma viagem de quase 5 km pela muralha da fortaleza de Abrantes.
Francisco Lopes
Nota técnica para este novo roteiro de Abrantes. É um percurso circular, com uma distância de 4,84 km, num desnível acumulado de +134 m, a uma altitude de 191/134 metros e de nível de dificuldade fácil. O roteiro tem um tempo de duração previsto de 1h40, deverá iniciar-se no Outeiro de S. Pedro (39,4619 N – 8,19279 O) e poderá fazer-se em qualquer altura do ano.
Jerónimo Belo Jorge
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