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Município Abrantes
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Assembleia de Abrantes evocou os 45 anos de Abril em Mouriscas

25/04/2019 às 00:00

As condições do tempo mudaram o local da Assembleia Municipal de Abrantes do largo das Ferrarias para o ginásio da Escola Básica de Mouriscas, mas não mudaram o sentimento da liberdade e de festejo que marcou a cerimónia.

À entrada para a sala os deputados municipais, os demais eleitos e os cidadãos foram agraciados com a oferta de um cravo vermelho como marca do 25 de Abril de 74, 45 anos depois.

António Gomes Mor, o presidente da Assembleia Municipal de Abrantes, destacou dos tempos anteriores a Abril de 1974 a história, um pouco da sua história antes da Revolução. O atual presidente da Assembleia Municipal de Abrantes iniciou-se nas lides associativas no tempo em que a liberdade era controlada pelo Governo e em que o direito ao associativismo era, também ele, controlado com rédea muito curta. O autarca fez questão de lembrar, aos mais novos, que para ser dirigente associativo tinham de enviar todos os dados pessoais para o ministério da tutela que agia de imediato caso pusessem o pé em ramo verde. “Cresci num Portugal amordaçado, ajudei a criar a secção de um partido político por onde viria a ser eleito na primeira eleição livre. E hoje ainda aqui estou”, vincou o autarca.

Mas António Mor deixou também palavras aos restantes autarcas, principalmente os de freguesia, já que são eles o elo mais próximo entre o poder e as populações. São também eles que do pouco fazem muito, falando em termos de recursos financeiros. O autarca salientou as recentes descentralizações de competências do poder central para o local, de forma positiva, mas muitas vezes com almofadas financeiras muito curtas. Logo de seguida evocou exemplos locais como os protocolos de descentralização que a Câmara de Abrantes tem feito com as freguesias do concelho como uma forma de descentralização muito anterior a esta que o governo agora lançou.

O pós 25 de Abril de 74 “trouxe a água, a eletricidade, os esgotos, o ensino e a saúde, tantas vezes criticada, mas acessível a todos” frisou, deixando ainda uma palavra às escolas e ao sistema de educação com o exemplo que como as coisas se transformam: em Mouriscas o famoso Colégio Infante de Sagres deu origem à Escola Profissional de Desenvolvimento Rural que forma jovens para o território nacional e para o mundo que fala português.

Manuel Valamatos, presidente da Câmara Municipal, começou por registar o dia marcante nas memórias dos portugueses que nasceram antes de 74 e que se recordam daquele momento, deixando depois a mensagem clara que os “Capitães de Abril devolveram a dignidade ao povo português”. Da evocação dos 45 anos de Abril Valamatos entrou na área política da atualidade destacando os dois atos eleitorais que vêm aí. Primeiro a Europa, aquela Europa que é necessária mais forte, mais social e com menos populismo e depois, em Outubro, a escolha de um novo governo nacional. O autarca fez questão de deixar presente um estudo da Universidade do Minho que revela que entre 110 países Portugal ocupa o 24º lugar em termos de qualidade de vida.

Manuel Valamatos afirmou estar a honrar Abril quando a “Câmara abre diálogo com as Juntas de Freguesia, quando fazem protocolos de descentralização com as Juntas de Freguesia, quando investimos nas mais variada áreas e honramos Abril quando investimos nas pessoas”.

Piedade Pinto, pelo PS, evocou a conquista da liberdade, lembrando outras conquistas que o Abril de 74 permitiu e acrescentou a luta diária para a credibilização do papel dos políticos na sociedade nacional e local. E destacou que dentro de famílias políticas distintas há muito mais a aproximar os eleitos do que a separar ou a criar divergências.

Piedade Pinto aclarou que a “democracia deve ser melhorada todos os dias”, deixando o apelo às populações para que não se abstenham de exercer os seus direitos, porque a abstenção é a forma de colocar as decisões e os destinos nas mãos dos poucos que participam.

João Fernandes, pelo PPD/PSD, elogiou a descentralização das Assembleias Municipais pelas freguesias, a começar logo por esta que evoca a liberdade. Revelou a amizade do seu pai com o Capitão Salgueiro Maia, que andou com ele ao colo, e aproveitou para, tendo nascido depois de 74, direcionar o discurso para a necessidade do cultivo das identidades do país e da região, principalmente das locais.  

João Fernandes apontou a preservação das identidades locais como o mercado municipal ou figuras de Abrantes, como Solano de Abreu ou Eurico Consciência porque “temos uma cidade, uma vila, aldeias, campos agrícolas e dois rios”. E deixou a mensagem de uma grande necessidade de ensinar às novas gerações os valores de Abril.

Pedro Grave, pelo Bloco de Esquerda, começou por destacar o desconhecimento dos mais jovens sobre o 25 de Abril de 74, do tempo anterior com a repressão das liberdades, das artes, da música. Foi o 25 de Abril que criou os pilares das melhorias subsequentes e devemos aos capitães de Abril algo fundamental como o livre arbítrio, a possibilidade de escolha.

Pedro Grave deixou também bem vincado que a liberdade nos dá também mais responsabilidade e que os valores da revolução dos cravos podem muito bem ser a base para passarmos pelos tempos conturbados dos dias de hoje, na Europa e no mundo.

Elsa Lopes, pela CDU, começou por enfatizar o Movimento das Forças Armadas como movimento militar que fez o Abril de 74, consagrado depois nas primeiras eleições livres em Dezembro de 1976. Nos dias de hoje germinam cada vez mais ideias fascistas pela Europa pelo que as comemorações de Abril podem, e devem, dar resposta aos problemas do país.

Elsa Lopes sublinhou a necessidade de atacar os flagelos atuais da sociedade portuguesa, reforçar o papel social do estado e deixou ainda o apelo claro às participações dos trabalhadores nas comemorações do 1º de Maio na próxima semana. Comemoração do 1º de Maio que foi a primeira grande demostração pública das mudanças que o Abril de 74 provocou no país.

Rui André, presidente da Junta de Rio de Moinhos eleito por um movimento independente, destacou a sua história e dos seus pais que foram para França na década de 60 e que quando voltaram, nos anos 80, os portugueses os tratavam como estrangeiros. Coisas que foram mudando com os tempos pois “Portugal e saudade” são as palavras mais caras dos emigrantes.

Sendo presidente de junta, primeiro por um partido, agora como líder de um movimento independente deixou a mensagem que são necessários mais movimentos deste género porque a abstenção crescente é sinal claro de que os partidos não estão a ser capazes de mudar o rumo das coisas. E deixou a nota de que a ideia de “dividir para reinar” é uma constante presente, embora errada, nos partidos políticos.

Deixou ainda a sugestão de que os presidentes de junta de freguesia deveriam ocupar um lugar central nas assembleias municipais e fora das suas famílias políticas, que essas têm os eleitos diretos.

Pedro Matos, presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas, como anfitrião deu as boas vindas a todos e agradeceu o trabalho de professores, funcionários e crianças da escola do primeiro ciclo pelos trabalhos que fizeram para decorar a sala que acolheu a sessão evocativa do 25 de Abril em Abrantes.

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