O governo decidiu esta semana suspender a produção de eletricidade nas barragens do Cabril e Castelo de Bode devido à seca que atinge o país. João Matos Fernandes anunciou que, até nova decisão, as unidades hídricas da EDP só podem produzir eletricidade duas horas por semana para garantia dos sistemas.
A descida da água no Castelo de Bode é uma realidade. E nas extremidades da albufeira a descida do nível da água está a preocupar bastante os operadores turísticos e os autarcas que temem problemas futuros no abastecimento publico de água às populações.
Vila de Rei é um desses exemplos. A captação de água é feita na albufeira, numa cota semelhante à da EPAL (que abastece a partir da zona de Martinchel toda a área metropolitana de Lisboa). E se, nesta altura, ainda não é preciso por “as mãos na cabeça” Ricardo Aires, presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei, teme que, se não chover bem, este ano possa ser dramático para toda a atividade sazonal de verão que assenta, em muito, no Castelo de Bode.
“Hoje, com os meios que temos para saber se vai chover muito ou pouco, o governo de Portugal, penso eu, que não fez o trabalho como deve ser”, começou por dizer o autarca de Vila de Rei. E justificou de imediato esta posição. “Em dezembro já se sabia que ia haver um inverno muito seco. E sabendo que a Central do Pego ia acabar a produção de eletricidade em novembro alguém tinha de produzir energia. E foram as albufeiras, neste caso a barragem de Castelo de Bode”, continuou Ricardo Aires, destacando que só esta semana é que o governo tomou uma posição sobre esta matéria.
O presidente da Câmara de Vila de Rei disse que já tinha informado a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre as preocupações em relação à captação de água para abastecimento público, mas que nunca obteve qualquer justificação ou explicação. “Penso que deveríamos ter agido muito antes, ainda por cima quando se sabe que estamos a comprar energia produzida a carvão em Espanha, depois de termos fechado a nossa (Central do Pego). Acho que foi um cálculo mal feito.”
Ricardo Aires acrescentou as preocupações para o abastecimento de água ao seu concelho “visto que estamos quase a atingir a cota mínima que temos na captação. Só tenho informação verbal, não tenho informação por escrito. Mas o que espero é que comece a chover o mais depressa possível. Espero que esta medida (proibição da produção de eletricidade na barragem do Castelo de Bode) não tenha sido tomada muito tarde.”
Reportagem do jornalista Jerónimo Belo Jorge com Ricardo Aires, presidente CM Vila de Rei
Já o turismo, primavera e verão de 2022, pode estar seriamente comprometido e “por isso é que disse que espero que chova”. É que Fernandaires e Zaboeira são duas zonas balneares de Vila de Rei que podem ter um verão muito complicado. É que todas as estruturas foram feitas tendo como base a cota normal no verão, muito superior aquela que existe, neste momento (fevereiro). Há soluções, mas implicam investimentos e gastar dinheiro.
Por exemplo, explicou Ricardo Aires à Antena Livre, já pedimos para prolongar uma rampa para deixar os barcos na água, no ancoradouro de Fernandaires e ainda não tivemos resposta. Por outro lado, lamentou o autarca, o “cable park” de Fernandaires, que permite a prática do wakeboard está inoperacional. Ou seja, se não subir a cota não será possível praticar esta modalidade náutica.
E este baixo nível da água pode, segundo Ricardo Aires, implicar prejuízos muito grandes para a atividade económica que gira em torno das águas interiores. E, a ser assim, o presidente da Câmara diz que o governo tem de pensar em conceder apoios às empresas que vão ter, seguramente, muitos prejuízos.
Apesar dos problemas que pode vir a causar, esta diminuição do nível da água está a deixar a descoberto, em diversos locais. Um desses locais é a antiga aldeia de Foz da Ribeira (Aveleira). É em frente à aldeia de Matagosa (margem de Abrantes). Começam a surgir as construções, poços, fornos, casas. Ou as ruínas do que foram, antes da década de 50 do século passado, essas construções rurais que foram tapadas com enchimento da barragem.
As estruturas da aldeia de Foz da Ribeira vão ficando a descoberto / Créditos: Jorge Sousa Lopes
Nesse sentido o presidente da Câmara de Vila de Rei anunciou que a autarquia contratou uma empresa para fazer o registo fotográfico dessas estruturas que vão ficando a descoberto, 70 anos depois de terem ficado submersas. Trata-se de registar o património e a história daquelas comunidades.
Apesar disso, o autarca espera é que chova e que os níveis da água possam subir, evitando, desta forma, preocupações acrescidas com o abastecimento público de água e com as atividades turísticas do verão.
De acordo com as informações meteorológicas é pouco provável que chova neste mês de fevereiro e a Serra da Estrela não tem neve que permita um degelo primaveril com escorrência de águas para a bacia do Zêzere e das suas albufeiras.