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Especial Semana Santa Sardoal: Cada foto é um olhar de “Paixão e Luz”

6/04/2023 às 19:11

A Procissão dos Fogaréus em Sardoal, na Quinta-feira Santa, apresenta umas características muito próprias, intimistas e que convidam à introspeção. A música marca um ritmo pausado, a iluminação apenas de velas e candeias criam sombras nos corpos e rostos dos crentes que acompanham o Senhor da Misericórdia pelas ruas escuras da vila.

E foi este cenário, único, que levou o jovem fotógrafo de Sardoal, Paulo Sousa, a encetar um desafio grande. Estamos na década de 80, muito antes de máquinas digitais ou de telemóveis que fazem quase tudo o que queremos. Com a sua máquina e com rolos adequados, quando em vez dos ISO ainda se falava em ASA, Paulo Sousa usava os de 800 ou mil ASA para as experiências. É que, em 1986, fotografar à noite, sem flash e com apenas meia dúzia de velas na procissão, era de uma dificuldade extrema. Para lá dos rolos, abertura de lente e tempos de revelação das películas mais longos, o Paulo foi fazendo as experiências e guardando, ano após ano, os registos destas procissões.

Os anos foram passando, as tecnologias evoluíram e hoje podemos fotografar a Procissão dos Fogaréus com ISO’s de 24.000 e com outra luminosidade porque há cada vez mais pessoas a levar as velas e até as janelas, sacadas ou muros da vila têm as luzes trémulas para a passagem do Senhor.

Veio a pandemia e o Paulo foi às caixas de memórias e começou a passar para o digital as fotografias de papel, a preto e branco, de anos de procissão. E de começou com experiências, a técnica apurou o sentido aguçado do olhar do Paulo Sousa. E se a Procissão dos Fogaréus repete todos os anos o mesmo cerimonial, o fotógrafo continuam, igualmente, a percorrer as ruas em busca desses pormenores, rostos, pessoas para registar aquele momento.

E é este trabalho que pode ser apreciado no Centro Cultural Gil Vicente, até 27 de maio, numa exposição intitulada “Paixão e Luz”.

Ao Jornal de Abrantes Paulo Sousa disse que no início não tinha as preocupações documentais que tem hoje, quando começa a Procissão. Eram experiências. E as fotografias a preto e branco são uma ínfima parte do espólio que tem nos seus arquivos. Muitas de pessoas que já não estão entre nós. Mas todas a mostrar um cenário de Fé e Tradição que, ainda hoje, se mantêm.

Nestes novos tempos a tecnologia facilita a documentação fotográfica, a tecnologia permite passar da cor para o preto e branco num estalar de dedos. Mas olhar aguçado continua o mesmo e o próprio Paulo diz que há sempre, a cada ano que passa, um qualquer pormenor que não foi visto noutras procissões.

E questionado sobre a possibilidade de lançar um livro indo ao “baú” cheio de “documentos” desde 1986, Paulo Sousa responde: “Um? Não. Dava para vários.”

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