“Portugal dos nossos antepassados e Portugal do futuro” foi o tema proposto para uma aula de Eduardo Catroga aos alunos de Economia da Escola Secundária Solano de Abreu. E o ex-ministro das Finanças experimentou a dar uma aula a alunos do ensino secundário, já que a sua experiência em aulas aponta sempre a universitários.
Ana Rico, diretora da escola, fez questão de ler todo o Currículo do abrantino, para que os alunos pudessem perceber que é que iria falar com eles.
Eduardo Catroga nasceu em S. Miguel do Rio Torto, onde tem casa e vem regularmente, licenciou-se em Finanças no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (atual ISEG) em 1966, tendo recebido o Prémio Alfredo da Silva, pela classificação mais elevada do curso. Em 1979 frequentou o Program for Management Development, da Harvard Business School.
Tem uma vida ligada à gestão de empresas e ligada às estratégias empresariais tendo uma incursão na política, em que foi Ministro das Finanças entre dezembro de 1993 e outubro de 1995, no XII governo, liderado por Aníbal Cavaco Silva.
Eduardo Catroga começou por fazer o acolhimento dos jovens com a mensagem: “já dei aulas a muitas turmas de faculdade, mas nunca a uma audiência tão jovem e tão inspiradora. Porque os jovens são o futuro.”
E lançou, logo a seguir, o tema: “o presente é o reflexo do passado. E é no presente que se constrói o futuro.”
E logo a seguir quis situar as gerações do passado, para fazer uma ligação destas a grandes desafios da economia. “Os vossos trisavós viveram no final do Século XIX, os vossos bisavós nos anos 20 do século passado. Os vossos avós apanharam a década de 40. Os vossos pais os anos 70 e vocês a primeira década do Século XXI.”
“Portugal é um país rico ou pobre?”. Foi a pergunta feita para a plateia à que ele próprio respondeu. “Portugal sempre foi um país rico. Medir a pobreza ou riqueza é sempre uma métrica relativa. Mas é preciso perceber o padrão. E o padrão que queríamos era chegar aos níveis dos países mais desenvolvidos da Europa. Estamos a 77% do nível de vida europeu. Já estivemos a 85%, mas também já estivemos a 40%. É preciso medir sempre em relação a um padrão.”
Eduardo Catroga deixou bem presente a sua opinião sobre economia e crescimento económico sem falar em partidos ou ideologias, em semana de campanha eleitoral. “O grande desafio para Portugal é criar riqueza e distribuir a riqueza”, vincou tendo notado que os países mais pobres da Europa são ricos à escala mundial.
Há, no entanto, uma grande diferença na mentalidade quando se fala destas matérias. E deu um exemplo de uma visita de Otelo Saraiva de Carvalho à Suécia de Olof Palme que ao contrário de querer acabar com os ricos queriam era acabar com os pobres.
“Criar riqueza é um processo. São necessárias políticas públicas e empresariais durante longos anos. Há casos mais rápidos de crescimento como a Irlanda ou China. Também tempos o contrário, de países ricos que agora são pobres, a Venezuela ou a Argentina."
Há, segundo Eduardo Catroga, “variáveis para o crescimento económico. O crescimento do emprego anda com o crescimento da população.
7 a 8% da população são estrangeiros. A taxa natural de crescimento tem sido negativa. O capital humano é fundamental para o crescimento económico. O capital físico são infraestruturas e máquinas. O capital natural, são os recursos do território. E depois ainda há o capital institucional que é a qualidade da organização política e da organização empresarial.”
E acrescentou que no país “temos de gerir três pilares, o pilar da política institucional; o pilar financeiro; e o pilar do desenvolvimento humano. E é preciso atuar em permanência sobre os três pilares. Mas para garantir mais e melhor estado social é preciso desenvolvimento e crescimento económico.”
Após a aula, as turmas apresentaram uma série de perguntas a que Eduardo Catroga deu resposta. Algumas ao longo da sua palestra, outras assim que as recebeu dos alunos.
Situação do conflito na Ucrânia
“Em relação ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia prevejo no final deste ano um cessar-fogo. Já teve consequências preço da energia e no preço dos cereais. Europa tem de produzir mais na indústria da defesa. Ou aumentamos riqueza, ou vamos ter de cortar no Estado Social. Temos cenários que não conseguimos prever. A Europa investe 1% do PIB em defesa. Os Estados Unidos 3 a 4% e a Rússia 30%.”
Porque fui para economia?
“O meu pai começou a preparar a minha ida para um colégio, juntou dinheiro. Quando eu disse que queria vir para a Escola Industrial e Comercial de Abrantes (EICA). O meu pai quis saber o que era e uma semana depois veio dizer que podia ir para a EICA.
O meu objetivo foi entrar no curso comércio para poder ir para o curso superior de finanças. Deu certo.”
Combate ao envelhecimento da população
População portuguesa está envelhecida, cidadãos com mais de 65 anos representam 22% da população e a população designada como ativo, entre os 15 e 64 anos, representam 65% do total de habitantes.
Depois, notou, há a tendência para o aumento da esperança de vida, portanto fica a pergunta: qual a solução?
Outro dado a ter em conta é que a taxa de fecundidade em Portugal é de 1,3. Tem havido, depois, algumas tendências positivas porque as mulheres emigrantes têm tido mais filhos do que as portuguesas.
E acrescenta-se ainda a necessidade de sustentabilidade da segurança social que é fundamental. Outro dado de Eduardo Catroga é que “precisamos de aumentar a taxa de poupança na economia Portuguesa. Estamos a ter uma taxa de poupança de 5 ou 6%. E termos mais nascimentos a juntar à imigração pode ser uma solução.” Eduardo Catroga defendeu a imigração, mas refutou a imigração de “porta aberta”. Há a necessidade de imigração mais controlada.
Criptomoedas
“Vieram para ficar. Ainda não tem elementos como a confiança. Vão ter algumas soluções, pode ter investimento, mas é um processo de crescimento. Bancos centrais vão começar a desenvolver moedas digitais”, finalizou o conferencista perante o auditório com os alunos de economia do 10.º, 11.º e 12.º ano da sua escola, da Escola Industrial e Comercial de Abrantes (EICA), hoje com o nome de Escola Secundária Dr. Solano de Abreu.
À Antena Livre Eduardo Catroga manifestou a satisfação de vir à sua terra, às ruas raízes, à “sua” escola. “Ainda tenho a felicidade de ter colegas vivos e tenho o prazer de encontros, como o de hoje, de falar com a juventude. Faz-me também mais jovem.”
Antes do início da palestra o conferencista esteve à conversa com dois colegas dos tempos da EICA e foram recordando alguns colegas através das fotografias das primeiras turmas da escola. “Fomos os chamados ‘fundadores’ da então Escola Industrial e Comercial de Abrantes que teve grande impacto nas décadas seguintes na formação de cultura geral, técnica e profissional de muitos jovens. Tiveram melhor formação e, por consequência, melhores empregos e melhores condições de vida para as famílias e para os seus descendentes.”
Eduardo Catroga nunca perdeu contactos com o concelho, com a aldeia e frisou que vem com regularidade à sua casa. Sobre esta aula esclareceu que já têm alguns conceitos interiorizados de economia e o desenvolvimento económico e social. Mas é muito diferente dar aulas ao ensino superior, portanto preferiu dizer que veio conversar e tentou adaptar a linguagem da riqueza e pobreza, crescimento económico ou produtividade.
E sobre as perguntas escolhidas pelos alunos para que pudesse responder no final representam as grandes preocupações dos nossos dias: crescimento económico, envelhecimento da população, imigração, criptomoedas ou o conflito da Rússia na Ucrânia.
Eduardo Catroga
Eduardo Catroga fez questão de oferecer um livro a cada um dos alunos. “Gestão, política e economia”, da editora Bertrand, tem prefácio de Aníbal Cavaco Silva e posfácio de António Mexia e Paulo Teixeira Pinto. E, naturalmente, assim que recolhera um exemplar, a maior parte dos jovens fez uma fila para poder ter um autógrafo do autor.
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