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Ambiente: Empresários, ambientalistas e autarcas rejeitam novo açude no Tejo (c/áudio)

15/02/2025 às 11:35

Empresários, ambientalistas e autarcas das Câmaras de Constância e Barquinha apelaram à mobilização “contra a construção de um novo açude” no rio Tejo, junto àqueles municípios, alertando para os prejuízos que causaria em temos económicos, turísticos e ambientais.

“O objetivo desta conferência de imprensa foi reafirmar e não esquecer este assunto, que a consulta pública decorre até dia 28 deste mês, e também mobilizar as pessoas para participarem” e se envolverem num projeto cuja concretização trará “impactos negativos para o nosso território, não só para Constância, com para a Barquinha e para a região do Médio Tejo”, disse à Lusa o presidente do município de Constância (Santarém), Sérgio Oliveira.

Em conferência de Imprensa, promovida pelos municípios de Constância e Vila Nova da Barquinha, pelas juntas de freguesia de Constância e Praia do Ribatejo, pelo Fluviário “Foz do Zêzere” e pelo proTEJO – Movimento pelo Tejo, foi debatido o impacto negativo previsível do novo açude a construir no rio Tejo, na localidade de Praia do Ribatejo, na zona entre Constância e Vila Nova da Barquinha, e anunciadas "ações de informação, sensibilização e mobilização" das comunidades.

“No caso específico de Constância, toda a planificação e desenvolvimento nos últimos 30 anos foi virado para os rios (...) e à cota [prevista] e do conhecimento técnico que temos da documentação disponibilizada [sobre o novo açude], a zona ribeirinha de Constância, uma parte dela, ficará submersa”, notou o autarca.

Para Sérgio Oliveira, com a ideia de um novo açude, saem “todos prejudicados”, num processo sobre o qual “deveria ter sido dado conhecimento prévio aos municípios e às associações locais, para envolver a população e a comunidade, para que efetivamente fosse construído um projeto que fosse de consenso de todos e que não fosse esta situação que prejudica altamente Constância, Barquinha e a região do Médio Tejo”, declarou.

 

Sérgio Oliveira, presidente CM Constância

Em causa está a construção de um novo açude no Tejo, na zona definida como “Constância Norte”, estando a decorrer o período de discussão pública do projeto até 28 de fevereiro, no portal público Participa (participa.pt), no âmbito do Estudo da Valorização dos Recursos Hídricos para a Agricultura no Vale do Tejo e Oeste.

Se os empresários e ambientalistas apontaram hoje a “impactos negativos no turismo natureza, na fauna, na flora”, e na importância de um rio Tejo “livre de açudes e barreiras para preservar a biodiversidade e a dinâmica ribeirinha”, os autarcas de Constância e Barquinha apontaram a uma cota de 20 metros que iria inundar a praia fluvial de Constância, recentemente inaugurada, a montante, assim como parte do trilho panorâmico do Tejo, a jusante, e condicionar o próprio acesso ao castelo de Almourol, edificado numa ilhota no rio e que ficaria sem água à sua volta.

“Há aqui situações que, objetivamente, quem está em Lisboa e quem está fora dos territórios não sente, não falou com as pessoas, tem desconhecimento deste lago [que será criado] e das suas consequências”, disse à Lusa, por sua vez, o presidente do município de Vila Nova da Barquinha.

“É um açude de grande dimensão, estamos a falar de um lago [plano de água], dentro daquilo que está projetado, que rondará muito perto de dois a três quilómetros de extensão, com 20 metros de altura, e 400 metros de comprimento, e que tem um impacto significativo no território e, objetivamente, até em termos climáticos e em termos de humidade”, frisou Fernando Freire.

 

Fernando Freire, presidente CM Vila Nova da Barquinha

Os autarcas, ambientalistas e empresários criticaram ainda a “falta de informação e de discussão” e a “falta de diálogo prévio” com os eleitos locais e com as comunidades sobre os reais impactos de um açude cujo projeto foi lançado a 2 de dezembro para consulta pública.

O presidente da Junta de Freguesia de Praia do Ribatejo, José Pimenta, explicou que o executivo está contra a construção deste açude. “Se for construído será na Praia do Ribatejo e vai amputar o início do trilho panorâmico, vai amputar a ilha do castelo de Almourol e os pesqueiros entre o castelo e Praia do Ribatejo.”

  

José Pimenta, presidente JF Praia Ribatejo

 

A posição dos autarcas de Constância e Barquinha é secundada pela Comunidade Intermunicipal (CIM) do Médio Tejo, entidade que agrega 11 municípios.

Do lado dos empresários também há preocupações. Gonçalo Neves, presidente Aventur e do Fluviário do Zêzere indicou que esta construção viria bloquear as atividades das empresas que conseguiram um complemento de atividades com o Trilho Panorâmico do Tejo.

O empresário explicou ainda que ao longo da última década houve uma estratégia para esta região através de diferentes programas de apoio porque são atividades que têm uma grande sazonalidade. “Este é um produto endógeno que está em risco. Se fizerem o lago acaba a descida do rio.”

O empresário disse ainda que enquanto responsável pelo fluviário, que trata dos peixes desta região, “passamos a vida a formar as crianças e surge um projeto que mata a subida de peixes alteramos de forma drástica o ecossistema.”

 

Gonçalo Neves, empresário Aventur

O Movimento proTEJO, por sua vez, está a apelar aos cidadãos para aderirem ao seu parecer “Discordância” para a construção de um novo açude "pelos graves danos ecológicos que (...) irá exercer sobre os ecossistemas das bacias do rio Zêzere e rio Tejo, em incumprimento das Diretivas Quadro da Água, Aves e Habitats, e da Estratégia para a Biodiversidade 2030 da União Europeia”.

Segundo o proTEJO, o novo açude também irá causar “danos económicos, sociais, patrimoniais e de paisagem cultural que afetarão as populações ribeirinhas dos concelhos de Vila Nova da Barquinha e Constância".

 

Paulo Constantino, porta-voz proTEJO

O porta-voz do movimento de defesa do Tejo indicou ainda que há outras alternativas para captar água para a agricultura. O que está previsto, indicou é um investimento de 1,3 mil milhões de euros de investimento no global entre barragens e o açude.

Paulo Constantino apontou a existência de zonas de captação de água do rio, que mostra que pode haver captação de água sem barreiras.

Paulo Constantino, porta-voz proTEJO

Foram ainda anunciadas, pelo proTEJO, mais três ações que visam impedir a construção deste açude. A 15 de março acontecerá uma sessão pública de esclarecimento aos cidadãos sobre o Estudo de "Valorização dos Recursos Hídricos para a Agricultura no Vale do Tejo e Oeste"; a 26 de abril o 12.º Vogar contra a indiferença - Por Um Tejo Livre “Não ao novo açude no rio Tejo em Constância/Praia do Ribatejo (VNB)”, ou seja, uma descida de canoa Constância / Almourol; e a 17 de maio 2.º Encontro Nacional de Cidadania em Defesa dos Rios e da Água As organizações que integram seis movimentos cívicos, de norte a sul do país, promovem o “Encontro Nacional de Cidadania pela Defesa dos Rios e da Água”

 

c/lusa

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