Floriano Vaz e a sua esposa, Habibi Majul, responsáveis e gestores da Quinta do Pinhal
Os primeiros registos datam de 1902, mas é certo que o olival é anterior a essa data. Do antigo olival provém um azeite natural, com uma vertente histórica muito carregada e que hoje é perpetuada por Floriano Vaz e a sua esposa, Habibi Majul, responsáveis e gestores da Quinta do Pinhal, em Constância.
No passado, a quinta tinha uma grande dimensão, albergava quase todos os terrenos agrícolas entre Constância e Montalvo e ainda aqueles que se estendiam até à zona de Martinchel, já no concelho de Abrantes. Hoje, reúne cerca de 30 hectares e chega às mãos de Floriano por iniciativa do seu pai que adquiriu a propriedade há 30 anos atrás.
“O meu pai nunca exerceu atividade agrícola no espaço. Inicialmente, a quinta era um espaço privado, depois foi sendo melhorada e foram se construindo as casas de Turismo Rural. Depois, surgiu o espaço que deu lugar ao antigo Club IN onde em tempos foi o lagar da quinta”, conta Floriano.
O responsável, de 33 anos, refere que sempre gostou do contacto com a natureza e que esse gosto foi surgindo pela vivência na Quinta do Pinhal. “Sempre gostei do campo e comecei a pensar em soluções que pagassem a manutenção da quinta. Os campos estavam de facto meio abandonados e a ideia foi adquirir alguns animais para irem ajudando com as ervas e, mais tarde, agarrar na vertente do azeite”, disse.
“É um produto exclusivo sendo que estamos a falar de oliveiras centenárias”
O azeite secular da Quinta do Pinhal surgiu oficialmente o ano passado. O azeite provém das cerca de 1200 oliveiras, espalhadas em 15 hectares, e que em 2017 totalizaram 800 litros de ouro vegetal.
“O nosso olival é muito antigo, foram gerações e gerações a dar continuidade a esta prática. Temos algumas oliveiras com perto de 200 anos e algumas com pelo menos 1000. Inicialmente, nós só apanhávamos a azeitona para consumo próprio e para a família. Todos os anos, fazíamos a colheita e nunca apanhávamos a totalidade da azeitona. Há cerca de um ano, começámos com a iniciativa de comercializar e começámos a tentar a recuperar o máximo da produtividade do olival”, explica Floriano.
O olival da Quinta do Pinhal tem capacidade para cerca de 5.000 litros de azeite. Um azeite sobretudo caracterizado pela azeitona galega, que provém de oliveiras milenares e centenárias de grande porte.
“É um produto exclusivo sendo que estamos a falar de oliveiras centenárias e desde o ano passado que temos tido muita procura, tanto que já escoámos todo o azeite. Não era muito, mas o pouco que havia já foi todo”, salienta Floriano, destacando o facto de o azeite ser “100% natural, pois não fazemos qualquer tipo de tratamento ao olival”.
Por convite da Câmara Municipal, o azeite da Quinta do Pinhal esteve representado no concurso das 7 Maravilhas à Mesa e para venda está disponível na própria quinta, numa loja de produtos em Tomar e no restaurante - o Manjar dos Templários - propriedade do irmão de Floriano. Em breve, o jovem espera colocar o seu azeite na Loja Camões com Sabor, no centro histórico da vila de Constância.
Para este ano, as expectativas são as melhores e certamente a produção será superior à do ano passado. “Este ano, a azeitona está um bocadinho atrasada, mas prevemos daqui a um mês iniciar a colheita. É difícil perspetivar a quantidade, mas achamos que vamos aumentar a produção e chegar aos 40% da produtividade do olival, portanto, cerca de 2.000 litros”, refere.
“A apanha tem de ser feita de uma forma muito mais delicada”
Com o desenvolvimento do olival, a Quinta do Pinhal tem tido muita procura do Turismo Olivícola. Muitos turistas da Europa vêm para ficar na quinta, participar nos trabalhos da apanha da azeitona e aproveitar a estadia no campo e tudo o que a quinta oferece.
“Temos casos de pessoas que querem vir recolher a azeitona connosco, participar nos trabalhos e ficar no nosso espaço. Temos algum contacto de universidades onde nós oferecemos o alojamento e os alunos vêm para a apanha da azeitona e estar na quinta”, conta Habibi Majul, salientando que “muitas vezes temos turistas que nunca viram um olival na vida e nunca viram a produção de azeite e têm interesse pela nossa cultura mediterrânica”.
O olival da Quinta do Pinhal pelo facto de ser centenário é um olival que requer muita manutenção e um trabalho que resulta bastante de mão de obra familiar. Este ano, Floriano avança que vai necessitar de contratar mão de obra e explica porquê: “O facto de serem oliveiras com muitos anos requerem uma manutenção muito mais trabalhosa. As copas têm mais de 2 metros de altura, logo, para colher a azeitona é muito mais trabalhoso. A poda também é mais complicada, porque as oliveiras têm grande volume e apanha tem de ser feita de uma forma muito mais delicada”.
Após o trabalho da colheita, a azeitona galega da Quinta do Pinhal segue para o lagar de Carvalhal Grande, em Tomar. No local, “a azeitona é moída e isolada das outras”, salienta o responsável.
Para além da vertente do azeite, a Quinta do Pinhal é um espaço dedicado aos animais e à agricultura de vários produtos, nomeadamente de cereal.
“Tenho animais em liberdade são eles os responsáveis pela fertilização e mobilidade dos solos. Há cerca de 3 anos que tenho porcos, pois faço produção de leitões em liberdade e eles é que me ajudam a mobilizar as terras e contribuir para o sucesso do olival. Também, tenho um rebanho de cabras que tratam da limpeza dos rebentos e acabam por nos fazer economizar na parte da mão de obra, o que é vantajoso porque acabamos por ter sempre o espaço limpo”, explica Floriano.
Quinta do Pinhal um espaço dedicado ao Turismo
A vertente do Turismo Rural tem sido também uma aposta de Floriano e de Habibi, que em conjunto, recebem anualmente vários turistas que ficam nas 8 casinhas, todas elas equipadas com um estilo rural, mas muito bem composto e acolher.
Ao longo dos últimos anos, a quinta também se tem dedicado à promoção de eventos como sejam casamentos, batizados, entre outras cerimónias.
Um dos objetivos de Floriano é criar uma Quinta Pedagógica e fazer com que “todas as atividades da quinta funcionem no seu pleno para termos trabalho todo ano e em todas as temporadas, mantendo a quinta sempre viva”.
“A vida aqui trouxe-nos qualidade de vida, o contacto com a natureza e a tranquilidade do campo. É um trabalho que acarreta muitos desafios e é muito duro e pesado fisicamente, mas quem corre por gosto, não cansa”, vincou.
Joana Margarida Carvalho