A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, esteve na Vila de Constância na manhã desta quarta-feira para um conjunto de visitas. Desde logo a Casa Memória de Camões e o Jardim Horto, numa altura em que está para breve a apresentação do programa das comemorações dos 500 anos do nascimento do poeta. Antes, visitou a Igreja Matriz da vila e o cemitério, contíguo ao monumento classificado e que precisa urgentemente de ser alargado.
A governante aceitou o desafio do autarca de Constância, Sérgio Oliveira, numa audiência que este teve no Palácio da Ajuda no sentido de apelar à governante uma visita à vila. Foi, de resto, a primeira vez que um ministro da Cultura visitou este concelho.
Nesta audiência, Sérgio Oliveira levou três temas no bolso. Um tem a ver com a integração de Constância nas celebrações dos 500 anos do nascimento do poeta com ligações à vila, onde terá vivido alguns anos.
A titular da pasta da cultura esteve acompanhada por Vasco Silva, diretor-executivo da Comissão para as Comemorações do V Centenário de Luís de Camões, e por Diogo Ramada Curto, Diretor Geral da Biblioteca Nacional de Portugal.
As outras áreas da visita estiveram ligadas ao património pelo que Dalila Rodrigues fez-se ainda acompanhar por João Soalheiro, Presidente do Conselho Diretivo do Património Cultural. E aqui o foco foi o alargamento do cemitério que fica contíguo à Igreja Matriz, monumento classificado, e que por esse motivo tem regras muito apertadas no que diz respeito a questões urbanísticas. O monumento em si precisa de uma intervenção no sentido de melhorar a cobertura e, desta forma, poder salvaguardar a riqueza interior.
Sérgio Oliveira revelou que o Município está para avançar com uma empreitada de cerca de 300 mil euros, ao abrigo de uma ITI (Instrumento Territorial Integrado) na Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo.
Sérgio Oliveira, presidente CM Constância
Já o padre Nuno Silva aponta a valores mais elevados, ou seja, aquilo que é preciso fazer terá um custo de mais de três milhões de euros.
Padre Nuno Silva
E foi isso que o pároco foi mostrando à comitiva. Ou seja, a riqueza do interior da Igreja construída no século XVII no local onde antes existia a capela de S. Julião.
A ministra foi acompanhando as explicações e, sempre muito interventiva, foi abordando diversas áreas, como a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem num “selo” no teto da nave ou até um quadro de Rivera que existe na sacristia do monumento.
De acordo com a DGPC “a Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, edificada em 1635, veio substituir a pequena capela com o mesmo orago edificada em meados do século XVI por ordem do bispo da Guarda na zona mais alta de Constância, então designada pelo topónimo de Punhete.
O templo foi mandado erigir a expensas da Confraria de Nossa Senhora dos Mártires, apresentando uma ampla estrutura de gosto maneirista, que convive harmoniosamente com o programa decorativo rococó, derivado da morosa campanha edificativa, que se arrastou até meados do século XVIII.
Em 1755, ainda decorriam as obras de reedificação, a capela quinhentista primitiva foi demolida, estando até então integrada na nova estrutura da igreja. Veio substituir a pequena capela com o mesmo orago edificada em meados do século XVI por ordem do bispo da Guarda na zona mais alta de Constância, então designada pelo topónimo de Punhete.
O templo foi mandado erigir a expensas da Confraria de Nossa Senhora dos Mártires, apresentando uma ampla estrutura de gosto maneirista, que convive harmoniosamente com o programa decorativo rococó, derivado da morosa campanha edificativa, que se arrastou até meados do século XVIII.
Em 1755, ainda decorriam as obras de reedificação, a capela quinhentista primitiva foi demolida, estando até então integrada na nova estrutura da igreja.”
Já na questão do cemitério é um processo que não é novo, mas poderá ter finalmente desfecho positivo.
O cemitério está numa zona com limitações urbanísticas pelo que o seu alargamento necessita de autorização da Direção-Geral do Património Cultural. Só que, já lá vão alguns anos, quando houve obras na escola primária, foi ali edificado um muro não autorizado. Ora, são anos de burocracias por causa desta construção. O que parece estar quase resolvido, porque no processo em curso está previsto que este imbróglio fique validado e que seja autorizado o alargamento. É que, de acordo com Sérgio Oliveira, há anos que não é possível aos habitantes comprarem campas.
Dalila Rodrigues, ministra Cultura
Dalila Rodrigues destacou que a visita começou pela Igreja e “pelas pretensões [do município] a que seja emitido um parecer favorável ao alargamento do cemitério, por se tratar de uma zona não edificante.”
Do património para os 500 anos de Camões
Dalila Rodrigues e restante comitiva seguiram depois para a Casa-Memória de Camões que “vai ser valorizada, desde logo, pela comunidade, e pelos meios que o Ministério da Cultura dispõe e pela Comissão do Centenário”, afirmou a governante.
A visita começou com o presidente da direção, Máximo Ferreira, a explicar o que é, atualmente, a Casa-Memória e como foi crescendo, da ideia, ao projeto e à obra.
As ruínas da casa quinhentista foram classificadas como imóvel de interesse público em 1983. Sobre elas, depois de consolidadas, foi erguida a Casa-Memória de Camões, segundo projeto da Faculdade de Arquitetura de Lisboa. As obras, iniciadas em 1991, arrastaram-se por vários anos devido à dificuldade sentida pela Associação da Casa de Camões para reunir os financiamentos necessários.
Evocou Manuela de Azevedo, a jornalista e investigadora camoniana, que dedicou parte da sua vida à ideia de haver em Portugal, e em Constância, um centro de estudos camonianos. A direção atual tem querido manter a ideia, a filosofia, mas adequada ao local e aos tempos. Depois explicou a ligação à comunidade escolar com a realização das Pomonas Camonianas, todos os anos, à volta do 10 de junho. “Temos tentado desenvolver programas com os meninos da escola e depois esperar que os pais venham atrás”, vincou Máximo Ferreira, explicando depois que para os 500 anos foi criada uma parceria com o Centro de Ciência Viva para “uma sessão de planetário com a astronomia dos Lusíadas.”
O também diretor do Parque de Astronomia da vila, explicou que no planetário da Marinha, em 1972, teve envolvimento num projeto de planetário ligado aos Lusíadas.
Mas a Casa-Memória tem projetos e o presidente não se fez rogado, pediu ajuda. Não pediu dinheiro, pediu antes à governante, e equipa, que possam mostrar os caminhos a percorrer para ir buscar apoios para os novos desafios, principalmente, nas acessibilidades. A ideia é melhora-las através de um edifício existente que está em ruínas. “Queríamos ligar os três pisos e com elevador”, vincou Máximo Ferreira.
Da Casa-Memória rumo ao jardim horto. Máximo Ferreira, de forma simples, conduziu uma visita pelos “corredores” do jardim desenhado por Gonçalo Ribeiro Teles. Aqui e ali foi explicando o conceito do mesmo. É um jardim que mostra todas as plantas que fazem parte ou que estão presentes na obra de Camões. E mesmo as mais exóticas como a pimenta ou a canela. E foi junto à caneleira, uma árvore frondosa, que gracejou a dizer que quando as sementes da caneleira proporcionam árvores novas, as mesas são extraídas da terra e vendidas.
Neste jardim há muito da história dos Lusíadas, uma esfera armilar, oferecida pela Escola de Belas Artes, e que na década de 90 do século passado foi transportada de Lisboa para Constância por um helicóptero da Força Aérea Portuguesa. Há ainda a ligação à astronomia, do geocentrismo, um modelo de Universo que colocava o planeta Terra como o centro de tudo, com o Sol, a Lua e os demais corpos celestes a orbitar este centro.~
Seguramente que tanto Vasco Silva como Diogo Ramada Curto, para além da ministra, levaram na bagagem informação para colocar Constância no programa das comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões.
Foi com essa intenção que Sérgio Oliveira convidou a ministra a fazer esta deslocação a Constância.
Sérgio Oliveira, presidente CM Constância
Tendo afirmado que Constância é “a terra mais camoniana de Portugal”, o autarca disse que “a senhora ministra, e a comitiva que a acompanhou, sai daqui mais sensibilizada e verificou no terreno que Constância tem efetivamente uma ligação muito próxima, muito íntima, com Camões e que é merecedora de integrar as comemorações” dos 500 anos do nascimento do poeta.
A ministra Dalila Rodrigues afirmou que foi feito um “reconhecimento ‘in situ’, por forma a que, antes da apresentação do programa final, já com um calendário associado”, o mesmo seja “apresentado em breve”.
A governante disse que Constância, no distrito de Santarém, “vai integrar seguramente alguma atividade relativa ao tema” por não ser possível “ignorar a importância e a memória que se associa aos lugares”.
Tendo feito notar que “não é competência da ministra da Cultura tomar decisões relativas ao programa das comemorações”, Dalila Rodrigues disse, no entanto, que “é dever da ministra reconhecer e mediar”.
Dalila Rodrigues, ministra Cultura
A ministra da Cultura, a primeira titular desta pasta a visitar Constância declarou que “o que nós queremos nesta deslocação é homenagear a vila de Constância com os seus vários temas e a qualidade histórico-artística.”
Dalila Rodrigues espera, em breve, anunciar o programa completo, já que o Governo atual estendeu comemorações para dois anos, ou seja, de 2024 a 2026.
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