O Museu Nacional Ferroviário autorizou o abate da primeira automotora elétrica produzida em Portugal, que está “completamente destroçada” devido ao vandalismo, decisão criticada pela Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro pelo “grande interesse museológico” da peça.
A Unidade Tripla Elétrica (UTE-2001), que faz parte do primeiro lote de automotoras elétricas que entraram ao serviço nos anos 50, construídas pela então Sorefame Metalomecânica Portuguesa, vai ser abatida até ao final desta semana nas instalações da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, no Entroncamento, distrito de Santarém.
“Essa peça está completamente destroçada. Aquilo está completamente desfeito. Na opinião dos técnicos, devidamente fundamentada, essa unidade já não reúne o mínimo de condições para ser incorporada na coleção do museu” justificou hoje à agência Lusa o presidente da Fundação Museu Nacional Ferroviário (FMNF), Jaime Ramos, acrescentando que o parecer técnico foi solicitado pela CP – Comboios de Portugal, em dezembro de 2015.
O presidente da FMNF explicou que a UTE-2001 foi protocolada com a CP em 2010, ano em que a automotora já se encontrava nas linhas junto da Fernave [antigo centro de formação para ferroviários], no Entroncamento.
Uma petição pública ‘online’ entretanto lançada contra o abate da automotora aponta responsabilidades ao museu e à CP pela sua degradação: “Um aspeto em que a FMNF e a CP falharam, foi movê-la das linhas ao pé do museu para a linha da morte, nas imediações da Fernave”, refere petição, salientando que essas linhas férreas são de fácil acesso e nas quais ocorrem recorrentes atos de vandalismo.
Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro (APAC) critica o abate da UTE-2001.
“Do ponto de vista museológico, o impacto grande é o facto de ser a primeira automotora da primeira série de automotoras elétricas em Portugal. Desse ponto de vista, o interesse museológico seria sempre grande” afirmou António Brancanes.
O presidente da APAC lamenta a decisão e deixa uma alternativa: “Lamentamos que seja tomada essa opção relativamente ao abate desse material, na medida em que seria possível, com recurso a peças de outras automotoras da mesma série ou de séries diferentes, recompor ou reconstruir a automotora 2001”, afirmou António Brancanes.
Em resposta escrita enviada à Lusa, a CP explica que, “tratando-se de material com potencial interesse histórico e/ou museológico, a Fundação do Museu Nacional Ferroviário avalia o interesse” em o preservar no seu espólio.
“Relativamente à UTE em causa, está garantida preservação da memória ferroviária que essa unidade representa, através da reserva de outra unidade similar que se encontra em melhor estado de conservação, conforme acordado atempadamente com a Fundação do Museu Nacional Ferroviário”, salienta a empresa.
Contudo, os autores da petição pública esclarecem que a UTE que vai ser abatida é da série 2000 e é peça única.
“Importa frisar que o desenho e estrutura são totalmente diferentes das UTEs das outras fases, nomeadamente da 2050 e 2080 e nenhuma das outras UTEs reúne tanto simbolismo como esta”, lê-se na petição pública.
Lusa