Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial disse na cerimónia de inauguração das obras de requalificação do Cineteatro de Mação: “Temos de contrariar décadas e décadas de políticas erradas. Temos de ter apoios e majorar os apoios as empresas que já cá estão e depois atrair outras.”
À margem da cerimónia, em declarações aos jornalistas a ministra disse que a única forma que temos de valorizar os territórios do interior é olhar para eles de forma “diferente do que temos feito no passado.” De acordo com a ministra a forma de fazer política e “de termos políticas iguais para todo o território provou que é uma política errada. E nós tivemos décadas e décadas de políticas erradas que só acentuaram a desertificação do interior.”
E no seguimento desta declaração Ana Abrunhosa vincou que a desertificação foi acentuada em todas as suas dimensões, populacional, de atividade económica o que “trouxe depois os incêndios e as catástrofes que hoje vemos com as alterações climáticas. Aliás, Mação viveu isso ainda há não muito tempo.”
E depois revelou que a única forma de alterar este estado é contrariar. E contrariar, segundo a ministra, é “olhar para o interior de forma diferente e, se for preciso, por exemplo, usar os fundos europeus de forma diferente daquela que usamos no litoral, temos de o fazer. Se for necessário criar políticas só para o interior, apoios só para o interior, é isso que temos de fazer. Se existirem políticas nacionais que impliquem um apoio maior para o interior, iremos fazê-lo.”
Deixou ainda a indicação que estas medidas diferenciadoras já começaram a ser feitas no anterior governo, durante a pandemia. “Vamos continuar a fazê-lo e temos de robustecer a diferenciação, de olhar com mais atenção os problemas do interior”, referiu a ministra que mesmo assim notou que estas medidas começarem a ser aplicadas com a maior urgência não “conseguiremos contrariar décadas e décadas de má política que prejudicaram o nosso país.”
E questionada sobre se a administração central está sensível para esta alteração, Ana Abrunhosa respondeu que o facto de existir um Ministério da Coesão Territorial no anterior governo e de continuar neste, fortemente reforçado é seguramente um sinal e forte. O Ministério da Coesão Territorial abarca tudo o que importa para o interior: “nós temos as CCDR’s, temos os fundos europeus, temos a descentralização, temos as autarquias, temos o ordenamento do território. Temos todas as armas que interessam para a valorização do território.” A ministra não deixa de lado o facto de, nestas matérias, ter de trabalhar com todos os outros ministérios, Educação, Saúde, Economia, Administração Interna, Ambiente (...), mas acredito que o primeiro-ministro é o primeiro a querer que se faça política de forma diferente.” E revelou que se não acreditasse neste neste desígnio não teria aceitado o convite para continuar à frente deste Ministério.
A governante diz que é a voz do interior no Conselho de Ministros e que apresenta nas reuniões as vontades e as necessidades do interior do país. Por exemplo, na área da saúde, em que a descentralização para as autarquias está mais atrasada. “Temos de trabalhar. Estarei sempre ao lado dos autarcas, neste trabalho de confiança que temos de fazer com os ministros das várias áreas que sejam necessárias para desenvolver este território” garantiu a governante.
Em dia 25 de Abril, quando se cumpriu a Democratização e Descolonização falta o terceiro D da revolução que é o Desenvolvimento, pois está e estará sempre em construção. “Não temos dúvidas que o nosso país, nos últimos anos se desenvolveu, também não temos dúvidas que o nosso interior se transformou, mas também não temos dúvidas que continuamos a ter um país assimétrico. E enquanto tivermos um país assimétrico, significa que o local em que vivemos não representa igualdade de oportunidades por isso está sempre por cumprir. Depois temos os movimentos populistas que ganham dimensão porque acham que fazemos más políticas para os territórios.”
Ana Abrunhosa, ministra Coesão Territorial
Mas a ministra vai mais longe e deixou a sua visão de coesão territorial.
É que, cada vez mais, na sua ótica, tem de ser olhar para os territórios do interior de forma isolada, os municípios, ou agrupados. É que, também cada vez mais há processos que têm de ser desenvolvidos de modo supramunicipal para melhor e mais rapidamente resolver problemas dos cidadãos.
“Já temos bons exemplos de projetos desenvolvidos no interior que é possível atrair atividades baseadas na tecnologia e no conhecimento para estes territórios. Aliás, estão na moda no que toca à procura de certas empresas para se localizarem porque os seus profissionais procuram qualidade de vida ou de sossego para trabalhar. E falo de empresas de tecnologias da comunicação e temos excelentes exemplos de norte a centro do país.”
Ana Abrunhosa sublinhou que estes projetos hoje podem ser contados pelos dedos das mãos. Mas manifestou esperança que possam vir a ser tantos que deixem de se poder contar pelos dedos das mãos. Já sobre o declínio populacional a governante é clara: “não conseguiremos recuperar a população que tínhamos no interior. Mas da maneira que estamos então vamos ter problemas gravíssimos no nosso interior. E não esqueçamos 2017 em que vivemos tragédias que só aconteceram porque abandonámos o nosso interior. Durante décadas tivemos políticas erradas.”
E este ministério poderá não resolver tudo em quatro anos, mas que possa criar condições para iniciar esta mudança que não pode acontecer sozinha. Tem de haver, segundo a ministra, uma participação efetiva dos municípios e das Comunidades Intermunicipais porque muitos dos problemas hoje não se resolvem à escala municipal. E Ana Abrunhosa deixou um exemplo de um dos problemas dos nossos dias que tem de ser resolvido à escala supramunicipal: os transportes. E depois vincou a necessidade de os municípios terem visão estratégica de poderem trabalhar em conjunto, independentemente das suas cores políticas. E logo de seguida a ministra indicou que “às vezes até são da mesma cor e não trabalham em conjunto.”
A ministra concluiu que esta é uma responsabilidade coletiva, de todos, incluindo os cidadãos e é um trabalho sempre inacabado. Os problemas vão mudando e temos de nos adaptar. E a sustentabilidade são se pode fazer só porque “Bruxelas” assim o quer, é uma responsabilidade de todos e se existirem dúvidas “voltemos a 2017 para saber o que são alterações climáticas e perceber o impacto avassalador que têm na nossa vida.”As políticas foram erradas, o interior está a perder cada vez mais população, resta saber se a adaptação das terapêuticas e deste “novo” olhar sobre o interior tem ou não resultados positivos.