O Serviço de Patologia Clínica do CHMT, iniciou uma nova etapa, ao iniciar os estudos de identificação das variantes mais relevantes do vírus SARS-Cov-2.
Carlos Cortes, diretor do Serviço de Patologia, explica o procedimento em causa, e as vantagens deste estudo de identificação das variantes do vírus.
“Estamos a iniciar os primeiros estudos e os primeiros ensaios que nos vão permitir identificar as variantes mais relevantes do SARS-Cov2. Sabemos que em Portugal já temos algumas dessas variantes presentes e o que o CHMT vai começar a fazer é, por um lado, estudar as variantes de todos os seus doentes positivos e, por outro lado, propor esta tecnologia, nomeadamente em toda a ARSLVT e também do Alentejo, que nos tem enviado muitas amostras”, explica Carlos Cortes.
Uma das variantes que vai ser identificadas é a do Reino Unido, que se tem espalhado um pouco por todo o mundo e está muito presente nos Estados Unidos e também em Portugal e que é uma variante “mais agressiva, provoca mais lesões nos doentes, tem mais letalidade e é mais contagiosa”. Para o patologista, “é importante identificar que doentes são portadores dessa lesão para serem imediatamente isolados, como qualquer doente, mas sabemos que aqui ainda tem que haver mais cuidados e para, nos casos mais críticos, serem equacionados tratamentos mais agressivos”.
A nova tecnologia que o CHMT tem agora ao dispor, desde o dia 16 de fevereiro, “também permite detetar as variantes da África do Sul e a do Brasil, que também têm tido uma relevância epidemiológica e uma relevância clínica”. Explica Carlos Cortes que há alguns estudos internacionais “que nos dizem que essas variantes podem atuar negativamente em relação à imunidade. De tal forma que o Governo da África do Sul já não quer alguns tipos de vacinas, nomeadamente a da AstraZeneca”.
Identificar a prevalência e a distribuição geográfica dos casos das variantes África do Sul / Brasil é importante e é um dos objetivos.
Num futuro próximo, afirma Carlos Cortes, “vamos estar em condições de identificar autonomamente a variante inglesa, a da África do Sul, a do Brasil e outra que tem sido das mais importantes que é a variante da Califórnia”. Essa avaliação vai permitir ter “uma fotografia epidemiológica, com interesse para os doentes que têm essas variantes, porque vamos estar melhor preparados para sabermos como devemos atuar no tratamento dessa doença”, bem como para poder perceber qual a resposta imunitária que esses doentes têm sobre essas variantes. “Será que as pessoas que estão a ser vacinadas agora vão ter a mesma proteção contra o SARS-Cov-2 que tem essas variantes?”, questiona o especialista. É isso que se pretende saber ao criar um mapa, na área do CHMT, para “perceber os predomínios em termos dessas variantes. Se aparecer um surto de uma dessas variantes como é que a população de SARS-Cov-2 se está a construir dentro da área de influência do CHMT”.
Até à data o Serviço de Patologia já realizou mais de 100 mil testes ao SARS-Cov-2, distribuídos por várias áreas geográficas para além da área de influência do CHMT, nomeadamente, Setúbal, Almada/Seixal, Cascais, Loures, toda a zona do Oeste, alguma área do Alentejo e todo o distrito de Santarém.
Um trabalho que se começou do zero pois, como explica Carlos Cortes, “O CHMT não tinha uma resposta muito diferenciada em termos de biologia molecular, porque também não era necessário. Quando havia necessidades, as amostras eram encaminhadas para o laboratório de referência que é o Instituto Ricardo Jorge”.
Com os novos equipamentos, consegue-se analisar e processar “à volta de 100 amostras de cada vez, é uma dimensão completamente diferente” relativamente aos testes rápidos de PCR que eram utilizados antes. “Não são tão rápidos mas como temos vários equipamentos e trabalhamos de forma ininterrupta, conseguimos atingir essa capacidade e este número de 105 mil testes desde o início da pandemia”.
O facto de serem realizados testes fora da área ade influência do CHMT é caracterizada pelo diretor do Serviço de Patologia como “uma boa característica deste hospital” pois “este hospital é do Serviço Nacional de Saúde e tem que saber dar resposta, quando é necessário, aos seus doentes mas também a todos os doentes que necessitam de cuidados de saúde”.
“Sabemos que nestas últimas semanas o SNS teve imensas dificuldades de resposta. O CHMT deu essa colaboração, recebeu doentes de muitas outras áreas e isso foi importante, mas o Serviço de Patologia Clínica, desde há alguns meses, também já dá esse apoio. Temos dado uma resposta que é considerada muito satisfatória (…) porque mesmo com esta quantidade de amostras, demos sempre uma resposta célere e numa articulação muito próxima com todos os delegados de Saúde Pública e todos os profissionais dos ACES”, concluiu Carlos Cortes.