Os diretores escolares e as famílias fazem um balanço positivo do ensino à distância, imposto pela pandemia de covid-19, reconhecendo que está a correr melhor do que no ano passado, mas ainda há dificuldades e nada substitui o presencial.
Há quase um mês em ensino à distância, devido ao agravamento da pandemia em Portugal, os representantes desses dois elementos da comunidade educativa olham para trás e não têm dúvidas: a versão 2.0 das aulas ‘online’ está a ser bastante melhor do que a primeira experiência, mas não é um oásis.
“Tem corrido bastante bem, atendendo às circunstâncias, e foi possível usar a experiência do primeiro confinamento, que nos ajudou a resolver alguns problemas, mas nenhum de nós está convencido que o ensino a distância substitua o ensino presencial”, disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).
Apesar do balanço positivo, Manuel Pereira aponta problemas que não são novidade, mas persistem: alunos com dificuldades no acesso à Internet, crianças ainda muito dependente do acompanhamento dos pais e falta de condições de trabalho em casa.
Neste ensino à distância, o Ministério da Educação alargou o acesso às escolas de referência para acolhimento, que passaram a receber também os estudantes com necessidades educativas especiais e aqueles que não tinham condições para acompanhar as aulas ‘online’.
“Estamos muito atentos e, se um aluno tiver faltas injustificadas, embora tenha condições em casa, é referenciado de imediato para vir frequentar o sistema ‘online’ na escola”, explicou o presidente de outra associação representativa dos diretores escolares.
Para Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), essas condições em casa ultrapassam a disponibilidade de um computador e acesso à Internet, sendo mais importante o próprio ambiente doméstico.
“Que me interessa a mim que um aluno tenha um computador que é uma espécie de Ferrari, se só pode conduzi-lo num caminho de cabras?”, compara.
Nas mais de 700 escolas de referência, os alunos têm material e uma equipa para os ajudar a acompanhar através do computador as aulas que continuam a ser dadas pelos seus professores, e também do lado dos pais essa alternativa foi considerada fundamental.
“É uma ajuda essencial para quem não tem outra forma de acompanhar as aulas e até para evitar danos maiores, porque neste tipo de ensino muitas crianças regridem nas aprendizagens e esta é uma forma de minimizar a situação”, considerou o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap).
Para Jorge Ascenção, uma das principais falhas que se manteve neste novo ensino a distância prende-se, por outro lado, com a forma como o trabalho foi organizado.
As escolas tiveram autonomia para definir a percentagem de aulas síncronas e assíncronas e enquanto umas optaram por replicar para o ‘online’ o horário das aulas presidenciais – uma opção que os representantes dos pais e diretores consideram desajustada –, outras parecem não assegurar acompanhamento suficiente.
“Muitas vezes, depende mais das pessoas do que dos recursos, e temos situações muito dispersas. Há situações em que se liga só uma vez por dia e noutras nem isso”, lamenta Jorge Ascenção.
Por outro lado, Rui Martins, que lidera a Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), sublinha também as dificuldades sentidas pelas próprias famílias em gerir a escola dentro de casa.
“Isto veio obrigar a que as famílias tivessem feito um esforço acrescido e têm sido dias muito instáveis”, disse, referindo o importante contributo do alargamento do apoio à família, que passou a incluir pais que têm a cargo crianças até ao final do primeiro ciclo, e que entrou em vigor na semana passada.
Ainda assim, acrescenta, o cenário não se torna muito menos complexo para as famílias que têm, neste momento, mais de um filho em ensino a distância.
Apesar da lista mais curta de problemas apontados agora, relativamente ao período de ensino a distância que marcou o ano letivo passado, e das soluções que têm a vindo ser adotadas, pais e diretores continuam preocupados com os efeitos nas aprendizagens.
“Creio que são as crianças mais novas, sobretudo do 1.º ciclo, que poderão pagar a fatura mais pesada nos próximos anos e terá de haver nos próximos tempos um investimento forte do Ministério da Educação para recuperar e consolidar aprendizagens”, considerou Filinto Lima.
O outro representante dos diretores, Manuel Pereira, vai mais longe e considera que a situação é mais grave este ano, considerando que já no 1.º período letivo muitas escolas tiveram alunos e turmas inteiras em casa devido a surtos de covid-19.
Além desta, Rui Martins da CNIPE refere uma preocupação mais imediata, que não se resolve com a consolidação a longo prazo das aprendizagens e para os quais considera urgente encontrar uma alternativa: os alunos que vão realizar exames de acesso ao ensino superior.
Os estabelecimentos de ensino estão encerrados desde o final de janeiro, quando o Governo anunciou a suspensão das atividades letivas durante duas semanas, que seriam compensadas no Carnaval, Páscoa e numa semana extra do final do ano letivo.
Entretanto, as aulas foram retomadas no dia 08 de fevereiro, mas em regime de ensino à distância, à semelhança do que aconteceu no ano passado. A data para o regresso deverá ser conhecida na próxima semana.
Lusa