O presidente da Comissão Distrital da Proteção Civil de Santarém pediu hoje ao Governo para que tome medidas “musculadas”, como a decisão de encerrar as escolas, porque a subida de casos da covid-19 é “dramática”.
O também presidente da Câmara Municipal do Sardoal, Miguel Borges, disse à Lusa que, “ao contrário do que é transmitido”, os surtos nas escolas estão a aumentar, havendo atualmente, no distrito de Santarém, 126 turmas em regime não presencial devido a infeções pelo novo coronavírus.
“Os números estão a subir de uma forma dramática. O número de trabalhadores na área da saúde que não estão ao serviço, ou porque estão em isolamento ou porque estão positivos, tem aumentado bastante”, disse, adiantando que começa também a não haver capacidade de resposta dos laboratórios para a realização de rastreios, mesmo em situações com alguma gravidade.
Miguel Borges pede ao Governo que “invista num mês de medidas verdadeiramente drásticas”, em vez de andar “de confinamentozinhos em confinamentozinhos, com muitas exceções”, numa altura em que as pessoas “estão cansadas” e a adotar comportamentos que não são responsáveis.
“Tem de haver um conhecimento sociológico do que é a população e perceber que, se não for de uma forma musculada, as pessoas, que estão cansadas, muitas delas já passaram por vários confinamentos, começam a não acreditar que seja esta a solução, o que é mau”, disse, apontando incongruências das medidas, que levam a “muitas interrogações”.
“Chegou o momento de quebrar barreiras e influências, e pormos verdadeiramente o dedo na ferida. Temos mesmo de fechar. Amanhã é tarde e depois de amanhã mais tarde é, e isto custa muito”, declarou.
Considerando a educação uma “falsa questão, facilmente rebatida”, Miguel Borges questiona do que se está a espera para encerrar, defendendo que a medida seja tomada num momento em que ainda é possível “controlar” e alertando para a capacidade de propagação da nova estirpe do SARS-CoV-2 entre os mais jovens.
Miguel Borges, Presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil de Santarém
Pedindo que se oiça também quem está no terreno, o autarca deu o exemplo do seu município, que criou formas de assegurar que, mediante um acordo escrito com os pais, os alunos que não acompanham aulas ‘online’ ou não fazem os trabalhos são transportados à escola, onde são acompanhados por professores de apoio, assegurando que os mais desfavorecidos não ficam para trás.
Miguel Borges defende ainda que sejam tomadas medidas para colmatar a falta de recursos humanos tanto na área da saúde como para apoio às estruturas que acolhem idosos, seja recorrendo a profissionais aposentados, seja criando condições para que funcionários de serviços municipais que foram encerrados se voluntariem.
Apontando o exemplo da estrutura de retaguarda para acolhimento de utentes de lares que tenham de fechar devido à covid-19, situada em Fátima (concelho de Ourém), o responsável da comissão distrital referiu que, neste momento, tem apenas os recursos humanos suficientes para garantir o bom acolhimento dos cerca de 40 idosos que lá se encontram.
Embora o Centro Espiritual Francisco e Jacinta Marto, em Fátima, disponha de 130 camas, a estrutura não está em condições de acolher esse número de pessoas, afirmou.
“Não podemos arriscar termos pessoas e depois não termos médicos, enfermagem e pessoal auxiliar que possa fazer um acompanhamento digno”, salientou, acrescentando que “os que estão, estão com esse acompanhamento, que tem sido até reforçado”, para que os profissionais possam também ter os seus períodos de descanso.
Na estrutura encontram-se 35 idosos que foram transferidos na passada quarta-feira de um lar ilegal situado em Samora Correia, no concelho de Benavente, na sequência de um surto que infetou 43 dos 44 idosos que se encontravam nas instalações, entretanto mandadas encerrar pela Segurança Social por falta de condições.
Estão ainda seis outras pessoas, duas delas já em condições de regressar ao seu local de origem, disse, adiantando que um dos idosos transferidos de Samora Correia e internado no Hospital de Leiria acabou por morrer.
Em Portugal, morreram 9.028 pessoas dos 556.503 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
Lusa