Realizou-se esta terça-feira mais uma edição do Fórum do Conhecimento que, este ano, teve como tema central a “Inclusão: Desafios para o futuro”.
Com o objetivo de promover a reflexão e o debate sobre o exercício da cidadania, o Fórum do Conhecimento teve dois temas centrais em debate: a educação e inclusão e os desafios na integração dos migrantes.
O primeiro painel de intervenções contou com a presença de João Costa, agora responsável da Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva. O ex-ministro da Educação abordou alguns desafios globais dos sistemas educativos como o caso da inclusão.
Apresentação de João Costa
À Antena Livre, João Costa falou do que falta fazer nas escolas portuguesas para que se tornem, efetivamente, inclusivas. Tocou “em várias dimensões” e disse que “há, por um lado, um investimento que tem de ser continuado nos recursos humanos nas escolas, mas não é só disso que falamos. É também de uma transformação em metodologias de ensino, de forma a que todos possam conviver na mesma sala de aula. Passa por trabalhar em parceria com os encarregados de educação e os encarregados de educação trabalharem em parceria com a escola. E passa muito por uma grande intencionalidade, ou seja, eu perceber se quero uma escola inclusiva, tenho que ter uma biblioteca escolar inclusiva, um desporto escolar inclusivo, uma Associação de Estudantes inclusiva, uma aula de matemática inclusiva... e isso implica trabalho e implica, sobretudo, muito trabalho conjunto, muito trabalho colaborativo entre todos os agentes”.
No entanto, segundo João Costa, há que “assumir, procurar e identificar o mais cedo possível - e este mais cedo possível significa logo no início do ano letivo, na articulação entre ciclos - as necessidades que os alunos têm para não as deixar evoluir”.
Questionado se os professores estarão dispostos a acrescentar mais esse «trabalho» ao que já têm, o ex-ministro da Educação afirma que “a minha experiência é, globalmente, muito positiva, mesmo muito positiva”. Não nega que “os professores sentem-se, muitas vezes, desapoiados. Seja por nós que passámos pelos Governos, seja por falta de formação... e por isso é muito importante trabalhar em conjunto. Mas eu acho que os professores têm a intencionalidade certa e querem que isto aconteça. Na Agência que eu dirijo, uma das linhas fortes é perceber quais são os melhores modelos de apoio aos professores para eles conseguirem abraçar esta missão”. E como está Portugal nessa caminhada? “Nós, neste momento, somos um país de referência”, garantiu o responsável da Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva. “É muito interessante sair aqui do retângulo e perceber que somos um país de referência quer na inclusão de alunos com deficiência nas escolas - nós em 2017 já tínhamos 98% de alunos com deficiência em escolas regulares - quer nas políticas de educação inclusiva. Há países que estão praticamente a traduzir a nossa legislação de inclusão para as suas legislações. Portanto, é muito curioso ver que, com toda a consciência das dificuldades que ainda temos, somos um dos países mais avançados nesta matéria”.
Na apresentação que João Costa fez no Fórum do Conhecimento, apontou a diferença que existe entre inclusão e integração. E afinal, qual é? “Integrar significa estar no mesmo edifício e no mesmo recinto e incluir significa participar e estarmos todos juntos, independentemente das nossas especificidades. No contexto escolar, significa estar na mesma escola ou estar na mesma sala de aula”.
Declarações de João Costa à Antena Livre
O Fórum do Conhecimento é uma organização do pelouro da Educação da Câmara de Abrantes e a vereadora responsável também falou à Antena Livre. Celeste Simão explicou a escolha do tema da inclusão para este Fórum e disse que “temos um Projeto Educativo Municipal com um Plano de Ação em que nos comprometemos fazer, todos os anos, um momento de paragem para reflexão sobre os temas que consideramos, à época, mais atuais. Neste momento, como o tema que está na ordem do dia é a inclusão, (...) e não a podemos entender dentro do espaço educativo como um diploma legal, pois é muito mais do que isso, resolvemos este ano ter esta temática que é muito importante ser discutida com os parceiros da comunidade”. A vereadora assumiu que “este fenómenos das migrações é uma realidade com que lidamos todos os dias, não só nas escolas mas na comunidade. Temos as nossas escolas do 1.º ciclo, jardins de infância e escolas secundárias com muitos alunos imigrantes, de diferentes nacionalidades”.
Quanto às principais dificuldades com que as escolas se debatem devido a este fenómeno, Celeste Simão reconheceu que, do que lhe vão relatando, “é mais a aprendizagem da língua, porque todos eles trazem consigo uma cultura diferente, em que nós temos que saber interagir com eles e eles interagirem connosco”. E essa tem sido “a dificuldade maior” pois, como assegurou, “não tem havido grandes problemas com a alimentação nem outros problemas de maior”.
A necessidade de “falar de inclusão todos os dias” prende-se com o facto de “os alunos estão cá, os pais e encarregados de educação estão cá, as famílias estão cá, não vale a pena tentar fugir” a esta questão que “é uma realidade”.
Os últimos números que dão conta de quantas nacionalidades estão presentes no concelho de Abrantes são referentes ao mês de setembro de 2024 e, à data, “já eram 22 nacionalidades, com mais de 200 alunos estrangeiros”. Celeste Simão acredita que, neste momento, “se não temos cerca de 300, temos próximo disso, porque as escolas, nomeadamente as do 1.º ciclo, estão cheias. A Escola Manuel Fernandes atingiu o limite de alunos, bem como a Escola Solano de Abreu”.
Com novos planos de ação a serem implementados no terreno e novas interações a acontecerem diariamente, também quisemos saber se os professores do concelho se mostram disponíveis para adotar novos métodos, adaptados a esta nova realidade. A vereadora não escondeu que “dá trabalho”, mas não quis “contornar a questão”. Disse que “temos que estar todos” disponíveis, “não são só os professores, é a comunidade. E nós na Câmara Municipal estamos disponíveis para estar com os professores nesta tarefa. É que eles [os professores] têm os alunos dentro das escolas, não há volta a dar. É uma realidade que veio para ficar (...) e o que queremos é que estes alunos fiquem na escola porque continuamos a acreditar que vale a pena aprender”.
Celeste Simão concluiu dizendo que “se não estivermos disponíveis, não estamos preparados para fazer melhor. E é isso que tem que acontecer”.
Celeste Simão em declarações à Antena Livre
No Fórum do Conhecimento houve testemunhos de migrantes que vivem no concelho e também partilha de experiências dos vários projetos que estão em campo, quer pelas autoridades competentes, quer pela sociedade civil.
Nuno Gomes, da área do desporto da Câmara de Abrantes, deu a conhecer o projeto do Desporto Inclusivo em Abrantes, com testemunhos emocionantes de mães que viram progressos nos seus filhos com deficiência.
Seguiu-se a mesa redonda dedicada ao tema “Da exclusão à inclusão”, com a participação de Ana Silvério, do Agrupamento de Escolas N.º 1 Abrantes, Marta Neves, do Agrupamento N.º 2 e Susana Carvalho, da EPDRA – Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes e da ESTA – Escola Superior de Tecnologia de Abrantes.
“Integração dos migrantes – Desafios” foi o tema do segundo painel de debate que deu a conhecer projetos de inclusão e integração social, nomeadamente o projeto YOLOabt.com – E9G da Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação de Abrantes e o projeto “Conhecer para Acolher” do Município de Abrantes. No final, houve partilha de testemunhos de migrantes que estão a viver em Abrantes, com a presença de Santiago Kinkela (Angola), Mário Makondambuta (Angola), Maria Eduarda Timóteo (Brasil) e Robson Veloso (S. Tomé e Príncipe).
O evento foi aberto à comunidade e foram muitas as pessoas que foram passando ao longo da tarde pelo Edifício Pirâmide.
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