Parados há mais de um ano por causa da pandemia vários setores de atividade de mundo rural apresentam dificuldades, tal como outros setores da economia.
A caça é uma das atividades que está suspensa e com ela todo um segmento que lhe está associada. Os matilheiros de cães de caça para montarias são um desses exemplos. E sem trabalho, o treino dos animais é afetado assim como a saúde financeira destas empresas localizadas um pouco por todo o país.
André Grácio é um advogado de Abrantes e um grande entusiasta do mundo rural e das suas tradições. Tem sido um defensor, dos mais ativos, daquilo que são as vivências as gentes que vivem da terra e na terra, nas suas mais diversas vertentes.
E é neste contexto que, pela segunda vez em tempos de pandemia, liderou um grupo alargado de outros defensores da caça e do mundo rural para darem corpo a uma ação de solidariedade destinada a angariar ração para as matilhas de cães que estão paradas e, logo, sem trabalho causam dificuldades aos seus proprietários.
E foi isso que aconteceu em Mação, neste sábado, dia 8 de maio. Inicialmente a ação esteve prevista para datas anteriores, mas os períodos de limitação da liberdade, devido aos Estados de Emergência, foram adiando o encontro.
Finalmente, neste sábado, foi possível, ao longo de todo o dia, fazer um encontro, autorizado pelas entidades de Saúde Pública, para fazer a entrega de cinco toneladas de ração recolhidas para distribuir pelas matilhas da região.
E em festa do mundo rural que se preze, não faltaram as matilhas, os matilheiros e os entusiastas cinegéticos.
André Grácio revelou que o encontro foi agendado para Mação, uma autarquia que se associou à matriz que o evento pretendeu ter, e que ofereceu uma tonelada de alimento para os cães.
Neste encontro participou ainda a Confraria do Bucho e Tripa do Pego que é uma associação ligada à gastronomia e, por si só, às tradições do Mundo Rural. Aliás, a gastronomia faz parte deste mundo que começa agora a ganhar outra visibilidade, apesar de todos os constrangimentos que pode ainda ter.
André Grácio fez questão de explicação esta ação e de referir, várias vezes, que não são contra os animais. A caça é uma tradição que faz parte deste mundo, dos antepassados e que é uma marca nada indelével da sociedade rural. Até porque, frisou, estas ações de caça (montarias) muitas vezes são feitas para controlar a densidade de espécie ou para a defesa das produções agrícolas.
André Grácio
Daniela Canha, da Confraria do Bucho e Tripas revelou a solidariedade dos confrades com uma iniciativa de solidariedade. A confraria é de gastronomia e tem o objetivo de salvaguardar as tradições gastronómicas da região. E a caça está presente na cozinha da nossa região, motivo pelo qual acederam ao convite para participar na iniciativa.
Daniela Canha
Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação, e Vasco Marques, vereador, marcaram presença no encontro. A autarquia, para além da oferta de uma tonelada de ração para as matilhas, montou os espaços para acolher as matilhas presentes no encontro.
Vasco Estrela deixou bem claro que esta é uma atividade de um mundo rural que tem sido esquecido e que, de vez em quando, tem uns olhares mais atentos. Nem sempre pelos bons motivos, é certo.
Vasco Estrela, presidente CM Mação
Miguel Ribeiro, veio com a sua matilha “Furacão” da Figueira da Foz. Explicou à Antena Livre que veio para o convívio e para se solidarizar com as outras matilhas.
Há mais de um ano sem montear, houve alguns apoios que não chegam para manter os animais. E para além das montarias há uma outra componente que também é caça. E este foi, referiu, um grande exemplo de um evento de caça.
Este foi o primeiro encontro de matilheiros desde que começou a pandemia. E o trabalho não é apenas a caça pela caça. Há um trabalho de redução da densidade de javalis para, em determinadas zonas, reduzir a sinistralidade rodoviária, por um lado, e o apoio à proteção de culturas agrícolas, por outro.
Miguel Ribeiro, matilheiro
Ainda sem se saber quando regressam à atividade cinegética, os matilheiros da região tiveram, este sábado, um incremento à sua atividade. Com apoio alimentar para os animais e com uma mostra dos cães que estão a necessitar de campo.
Já agora para os leigos na matéria, uma matilha é como uma “equipa de futebol que tem defesas, médios e avançados”. A matilha tem os cães que localizam e retiram os javalis dos silvados, tem os corredores que correm e encaminham os javalis para as portas das montarias e tem os defensores, porque, por vezes, é preciso “umas mordidelas”.
Em tempo de pandemia não tem havido treino para apurar os genes de cada um dos cães que compõem uma matilha, ao fim e ao cabo, uma equipa.
Matilhas presentes no encontro/mostra: Lis, Nabão, Trinca-Espinhas (Mafra), Beira Rio (Ansião), Saianda (Carvoeiro-Mação), Furacão (Figueira da Foz), Menino (Vale da Gama-Mação), Oeste (Caldas da Rainha), Maravilhas (Envendos-Mação), Mistura Fina (Tomar), Moreira (Guarda) e Mata Bicho (Abrantes).
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