22 lugares literários de Abrantes, 20 Constância e 20 de Sardoal estão disponíveis num livro intitulado “Onde”. E este “Onde” tem 62 páginas, com as letras gravadas em pedra, nesses 62 lugares dos três territórios.
Isto é um caminho literário por terras de Botto, Camões, Gil Vicente e outros (que por cá passaram) aos quais se junta, agora, José Luís Peixoto.
O escritor, natural de Galveias, uma aldeia aqui do lado, do vizinho concelho de Ponte de Sor, até nasceu em Abrantes, no Hospital do Salvador. Peixoto caminhava para Abrantes, para fazer as compras de Natal, quando não havia superfícies comerciais ou estradas (físicas e virtuais) que permitissem chegar em pouco tempo a muito longe.
Apesar dos seus sucessos, em Portugal e fora de portas, nunca o escritor pensou que uma ideia inatingível que uma vez ousou sonhar pudesse, afinal, ser concretizada.
José Luís Peixoto sonhou poder, um dia, ter um livro espalhado por um qualquer território.
E quando recebeu a proposta das três autarquias (Abrantes, Constância e Sardoal) para ajudar a criar um projeto para uma “coisa” que teria o nome de caminhos literários a sua ideia começou a ganhar força. “O texto representou desde logo a reunião de vontades de três concelhos que tinham a vontade de construir alguma coisa. E foram ter comigo.”
Foi nesse momento que o escritor pensou que “aquela” ideia que se podia concretizar: “um livro a céu aberto em que as pessoas tinham de ir aos locais para ler as páginas que estavam espalhadas.” E da ideia começou a pensar nos espaços, a desenhar um fio condutor para ligar, de alguma forma, os espaços de múltiplas naturezas, sendo indicados pelos três municípios.
A verdade é que eram seis dezenas, mas como explicou o vereador da Câmara de Abrantes, Luís Filipe Dias, quando o manuscrito estava quase pronto percebeu-se que das freguesias de Abrantes faltavam duas. Aí foi pedido ao José Luís Peixoto que escrevesse mais duas páginas, sobre Martinchel e Vale das Mós, para que todo o território do concelho de Abrantes tivesse, pelo menos, uma página.
O autor dos livros, em papel e pedra, revelou que depois veio a conceção dos textos que devem ser lidos nos locais. Ou seja, “complica muito mais escrever um texto sobre um local porque ele irá ser lido nos espaços sobre os quais escrevo.” Nesta busca de motivos para a escrita confessou que começou por apelar às memórias. Às suas: “o primeiro ar que respirei foi de Abrantes. E tenho uma ligação a Abrantes porque das Galveias e de Ponte de Sor vínhamos muito para Abrantes. Depois foi perceber que alguns locais têm ligações entre si.”
E foi com os textos já em construção que José Luís Peixoto se deu conta que este livro poderia deixar de ser a céu aberto, como foi pensado, e podia ir para o papel. “E aconteceu.”
José Luís Peixoto acrescentou ainda que a partir destes textos podem surgir outros trabalhos. E isso já está a acontecer com alunos de artes e teatro da Escola Secundária Solano de Abreu.
Estes caminhos são literários, mas apontam claramente aos caminhos turísticos. “De uma forma superficial, pensamos em alguns aspetos que podem ser perniciosas. Podem favorecer narrativas superficiais de territórios. O turismo é a ambição de viajar e conhecer outras realidades, outros territórios outras culturas. E isto pode ser muito importante para as economias dos lugares.”
José Luís Peixoto gracejou quando disse que é preciso ter ousadia.
Eu que não sou daqui venho aqui meter as minhas palavras. “Eu, que não sou daqui, venho aqui meter as minhas palavras. A minha intenção é a melhor. Espero que estes textos acrescentem alguma coisa, mesmo que se vão dissolvendo no futuro.”
Há aqui, neste livro, uma outra perspetiva para o autor. “As palavras gravadas numa placa de betão dão um peso muito maior e acrescentam mais responsabilidade.”
Mas o escritor fez questão de deixar um alerta aos leitores ou potenciais leitores “não são textos informativos, mas têm informação.”
Há a intenção clara que os textos possam trazer pessoas, que tem a ver com a ideia inicial do projeto.
José Luís Peixoto deixou já um dos seus desafios para 2023. “O meu projeto é criar um roteiro em que eu traga cá pessoas para visitar alguns destes sítios e onde eu vou poder falar sobre esses sítios com essas pessoas.”
Depois, olhando ao turismo, deixou também a nota que este “Onde” potencia duas mãos cheias de roteiros. Temos árvores, o Tejo, edificado, largos... e escrever estes textos “acrescentou-me muito” disse o autor.
Depois de escrever os textos do livro, que já está traduzido para inglês e castelhano, “a minha relação com Abrantes tornou-se muito maior.
O escritor deixou ainda uma certeza: “tenho de dar a cara pelos meus livros, daí que trazer um tema para o meu livro é muito importante. E no futuro, certamente, terei personagens de Abrantes nos meus livros.”
O livro “Onde” integra-se no projeto “Caminhos Literários - Botto, Camões, Gil Vicente e outros que por cá passaram” que foi e foi financiado a 100 por cento pelo Programa Operacional do Centro /Centro 2020. A sua conceção e produção representou “um ano e tal de trabalho.”
O livro “Onde” foi apresentado na quinta-feira (16 de dezembro) em Sardoal, na sexta-feira (17 de dezembro) em Abrantes e no sábado (18 de dezembro) em Constância. Todas as sessões contaram com a presença do autor.
Luís Dias, vereador CM Abrantes
À Antena Livre, no final da sessão de Abrantes, na qual estavam dezenas de pessoas a assistir e em fila para receberem um autógrafo do escritor de Galveias, José Luís Peixoto disse que “os diversos lugares tiveram diversas formas de serem integrados neste livro. Os que não conhecia tive de visitar, tive de ler sobre eles, tive de falar com outras pessoas sobre eles, de certa forma tentar captar um pouco da alma desses lugares.”
O escritor revelou que escrever sobre um lugar, sem ser ficção, a olhar para ele é diferente. Existe, no entanto, uma tentativa de perceber o que é que é essencial nesses lugares. Pode ter a ver com história, com algo que esteja ali “gravado.”
E à pergunta sobre qual a sugestão do autor para uma visita, primeiro ao papel e depois aos locais ou em simultâneo, José Luís Peixoto respondeu: “o meu sonho seria que as pessoas tivessem oportunidade de ir com o livro aos lugares, e mesmo que já tivessem lido os textos, que os relessem nos lugares. Até porque os textos foram também escritos com notas dos lugares. E há detalhes nos textos que têm, depois, confirmação nos lugares.”
Os Lugares
Abrantes
1 - Aldeia do Pego (Freguesia de Pego)
2 - Alto de Santo António (União de Freguesias de Abrantes)
3 - Baloiço Panorâmico, Vale das Mós (União das Freguesias de São Facundo e Vale das Mós)
4 - Biblioteca Municipal António Botto, Abrantes (União de Freguesias de Abrantes)
5 - Cais de Acostagem, Rio de Moinhos (Freguesia de Rio de Moinhos)
6 - Castelo de Abrantes (União de Freguesias de Abrantes)
7 - Fonte dos Touros (União de Freguesias de São Miguel do Rio Torto e Rossio ao sul do Tejo)
8 - Herdade da Murteira (EPDRA), Mouriscas (Freguesia de Mouriscas)
9 - Jardim António Botto, Concavada (União de Freguesias de Alvega e Concavada)
10 - Jardim Ator Taborda (União de Freguesias de Abrantes)
11 - Jardim do Castelo (União de Freguesias de Abrantes)
12 - Jardim Soares Mendes, Bemposta (Freguesia de Bemposta)
13 – Martinchel (Freguesia de Martinchel)
14 - Miradouro da Aldeia do Mato (União das Freguesias de Aldeia do Mato e Souto)
15 - Miradouro da Penha, Tramagal (Freguesia de Tramagal)
16 - Miradouro de Fontes (Freguesia de Fontes)
17 - Miradouro do Cristo Rei, Matagosa (Freguesia de Carvalhal)
18 - Museu da Metalúrgica Duarte Ferreira, Tramagal (Freguesia de Tramagal)
19 - Oliveira do Mouchão, Mouriscas (Freguesia de Mouriscas)
20 - Outeiro de São Pedro (União de Freguesias de Abrantes)
21 - Parque de São Lourenço (União de Freguesias de Abrantes)
22 - Santuário de Nossa Senhora do Tojo (União das Freguesias de Aldeia do Mato e Souto)
Constância
1 - Praça Alexandre Herculano
2 - Escadinhas do Tem-te Bem
3 - Antiga Torre de Punhete
4 - Réplica da Fonte Nova
5 - Igreja de Nossa Senhora dos Mártires
6 - Borboletário Tropical
7 - Biblioteca Alexandre O'Neill
8 - Escola Adães Bermudes (Montalvo)
9 - Casa onde nasceu Tomaz Vieira da Cruz
10 - Mosteiro de Nossa Senhora da Boa Esperança
11 - Casa-Museu Vasco de Lima Couto
12 - Açude de Santa Margarida da Coutada
13 - Confluência dos Rios Tejo e Zêzere
14 - Torre do Relógio
15 - Largo Cabral Moncada
16 - Igreja de Nossa Senhora dos Mártires
17 - Museu dos Rios e das Artes Marítimas
18 - Sobreiro de Montalvo
19 - Aldeia da Pereira
20 - Quinta de Santa Bárbara
Sardoal
1 - Praça da República
2 - Antigo Largo do Ensaio da Música
3 - Igreja de Santa Clara
4 - Fonte Férrea (Sardoal)
5 - Chafariz das Três Bicas (Sardoal)
6 - Caminho de Memórias (Sardoal)
7 - Igreja Matriz
8 - Igreja da Misericórdia
9 - Sobreiro da Dona Maria
10 - Eucalipto Grosso
11 - Valhascos
12 - Roteiro do Vinho ao Pão
13 - Marque de Merendas
14 - Centro Cultural Gil Vicente
15 - Escola Primária de Codes
16 - Convento de Santa Maria da Caridade
17 - Artelinho (Alcaravela)
18 - Moinhos de Entrevinhas
19 - Espaço Cá da Terra
20 - Praia Fluvial da Lapa
Galeria de Imagens