SALPICOS DE CULTURA.....
“Viver numa Europa sobressaltada”
As questões em torno da consciência coletiva de se ser, ou não, europeu, têm sido, ultimamente utilizadas como temáticas de permanente discussão. É curioso mesmo verificar que não raro aparecem como preocupações coladas às do chamado desenvolvimento sustentado e, cada vez mais, aparecem mesmo como reflexões que suscitam interrogações de índole pessoal.
O facto é que venho mesmo reparando que no âmbito da problemática da Psicologia do Desenvolvimento Humano, alguns de nós colocam mesmo a temática anterior partido de perguntas onde o interrogar-se sobre qual o papel do homem no âmbito geral da existência, ou saber o que irá ser da espécie face ao desenvolvimento tecnológico, ou ainda o que poderá vir a acontecer face às questões climáticas, são preocupações evidentes.
Porém, noto que ultimamente as interrogações sobre a Europa onde vivemos, e as perplexidades face ao que parecem ser comportamentos de desquite de responsabilidades sociais, que muitos julgavam já ser objeto de respostas coletivas e solidárias bem adquiridas, ganham relevância.
Parece-me mesmo que um certo receio se vem instalando, e alguns de nós começam a revelar sintomas de um medo estranho que fenómenos que se julgavam “coisas do passado”, venham a acontecer de novo. Claro que pela parte que me toca faço o possível por ir ajudando a que tais sentimentos se diluam. Mas a evidência dos factos obriga a que estejamos atentos.
Foi essa atenção que me levou a adquirir o livro de Simon Jenkins titulado “Breve História da Europa” que possui em subtítulo a expressão “De Péricles a Putin”, e que foi editado pela EDITORIAL PRESENÇA em 2020.
Confesso que não sei se foi mais o título que o subtítulo que me levou a decidir pela aquisição da obra, até porque tratar de forma breve a história da Europa não é coisa que muito me agrade. Porém, o esforço de começar a ver a Europa a partir do que na Grécia antiga aconteceu, já é algo que me entusiasma.
Tive oportunidade de compulsar a obra, com cuidado. Contudo, devo confessar que a decisão pela compra da obra foi, no momento, muito marcada pelo que na contracapa da mesma vem escrito. Nela é dito: “A Europa tem tido, ao longo de dois mil anos, um êxito notável. Nesta nova e impressionante edição, Simon Jenkins relata a evolução do continente europeu, desde uma época em que esta não era mais do que um campo de batalha até à atualidade”.
Claro que face à citação anterior, o que retive mais foi o facto de ser dito que estamos a viver num sítio, a Europa, que até há bem pouco tempo, não era mais que um campo de batalha. Mas continuando a ler o que vem escrito na tal contracapa veja-se o que se pode constatar: “Ao passar por uma turbulência quase permanente, a Europa deixou uma marca indelével no mundo. Como terá um pequeno continente conseguido atingir um poderio tão evidente?”
Bem, o que aqui agora se pode ter por adquirido é que este tal sítio onde habitamos terá impressionado pelos ganhos de importância que conseguiu granjear, pelo que poder-se-ia pensar que os reflexos negativos das tais batalhas poderiam ter sido ultrapassados.
Porém, continuando a leitura do texto é possível verificar que quem o fez não está assim tão seguro dos êxitos conseguidos. É que ao abordar as questões da consciência coletiva a que acima me referi, e ao finalizar a citação, é feita uma interrogação perturbadora: “Por que razão a diplomacia resvala, frequentemente, para banhos de sangue e quais são os seus reflexos nos nossos dias?”
Parando para refletir, penso então que têm razão aqueles que se interrogam quanto ao futuro que poderemos ter pela frente. Contudo, porque acredito que mais uma vez a inteligência humana saberá dar as respostas adequadas, fico com a ideia que mesmo que futuras turbulências nos batam à porta, serão encontradas as melhores soluções. A forma como, mesmo com sobressaltos, a ciência está a dar combate à pandemia que veio para se instalar, parece-me ser um bom exemplo.
Despeço-me com amizade,
Luís Barbosa*
*Investigador em psicologia e ciências da educação
SALPICOS DE CULTURA, uma parceria com a Associação Internacional de Estudos Sobre a Mente e o Pensamento (AIEMP)