A entrar nos 20 anos de edição da revista Zahara, o que representa 39 edições da revista de história local, há mais uma mão-cheia de histórias para ler e guardar.
Neste número 39 o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (MIAA) está em destaque na revista pela importância do edifício em si (Convento de S. Domingos) e pelas coleções que disponibiliza aos visitantes, quer seja a coleção municipal de arqueologia e arte sacra, o espólio de Maria Lucília Moita ou a coleção de arqueologia da Fundação Estrada.
José Martinho Gaspar, diretor da revista editada pela Palha de Abrantes, destacou os textos publicados nesta edição e revelou um desejo grande ter poder ver gente jovem a bater à porta para publicar textos.
E depois adiantou que esta revista, sendo de história local, ou usos e costumes, não é feito por um grupo de investigadores ou historiadores. Tem contributos de todas as pessoas que queiram deixar registo de temas que podem ter a ver com património material ou imaterial, com costumes ou com pessoas de cada um dos concelhos que abrange.
O Centro de Estudos de História Local de Abrantes (CEHLA) abraça os concelhos de Abrantes, Sardoal, Mação, Constância, Gavião e Vila Nova da Barquinha.
José Martinho Gaspar apresentou a edição e disse que Teresa Aparício foi em busca dos barqueiros. Um que ainda trabalha em Constância, pago pela Câmara Municipal, e outros que perduram nas memórias de quem usava as barcas para passar o Tejo. Fosse na Barca da Amieira, Ortiga/Alvega, Barca do Pego ou Rio de Moinhos, sem esquecer que na década de 50 havia também um barqueiro em Água das Casas.
João Filipe, de Ortiga, aprofundou a figura do Vitorino Fernandes, contando algumas histórias de “um homem que respeitava o rio, mas que o rio também o respeitava.”
Dulce Figueiredo escreveu sobre a biblioteca de Sardoal, que está em obras e a comemorar 25 anos.
Mário Jorge Sousa escreve sobre uma rua de 200 metros e era uma das ruas mais importantes de Sardoal. Em 1961 foi lá que o meu pai montou a tipografia. Trata-se da atual Rua Gil Vicente.
José Rafael Nascimento escreveu sobre as ligações enre as cidades de Abrantes e Caldas da Rainha. Tudo começou numa ligação entre o Orfeão de cada uma das localidades sendo que o maestro do Orfeão das Caldas da Rainha era abrantino. Recorrendo a notícias da época deu conta de uma deslocação de uma comitiva da cidade de Caldas da Rainha a Abrantes. De notar que em Abrantes existe a Rua Cidade Caldas da Rainha e nas Caldas existe a Rua Cidade de Abrantes.
Na Comenda, Gavião, está a renascer o “Clube Castelanense”. De acordo com Jorge Branco só perduravam memórias dos pais sobre este clube. Com os arquivos do Governo Civil de Portalegre houve a recuperação da informação e com os estatutos de 1950 um grupo de habitantes da Comenta refundou esse clube.
Carlos Grácio, de Belver, escreve sobre gastronomia, ligando a gastronomia à área geográfica e cultural da freguesia, porque tem algumas especificidades. Vai buscar as características ao Alentejo com as migas, mas vai ao Tejo buscar a lampreia e a sopa de peixe e à beira os maranhos, muito embora estas sejam apresentadas de uma forma diferente.
José Manuel de Oliveira Vieira foi conhecer melhor os esquecidos do republicanismo abrantinos. Nomeadamente de Manuel Fernandes pequeno é um desses nomes. E com uma referência a espólio valioso desta época que existe em casa do filho.
Joana Margarida Carvalho dá a conhecer a salsicharia MF de Rio de Moinhos. Conta se a forma como se faziam, e fazem, os enchidos nesta freguesia e tem um conjunto de imagens como se faziam as matanças dos porcos.
Joaquim Candeias da Silva apontou baterias para o Rei D. Manuel foi o rei que mais dias passou em Abrantes. “O paço real no século XVI era aqui nesta praça (edifício da Câmara Municipal)”. É um artigo sobre este período em que, por causa da peste, o rei passou mais de 200 dias em Abrantes.
Maria Lurdes Vicente e Vasco Marques entraram na aldeia da Queixoperra para fazerem uma reflexão sobre o homem e o trabalho na terra. “E se o hipermercado nos deixar de fornecer alimentos onde os vamos buscar?” Foi a reflexão que ambos deixaram.
José Martinho Gaspar, diretor Zahara
No final da apresentação da revista o vereador da Câmara de Mação, Vasco Marques, deixou o apelo para se ter atenção ao património imaterial que se vai perdendo e para a necessidade de ser salvaguardado.
Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal de Sardoal, apontou a uma necessidade, cada vez maior, de haver um registo em papel para perdurar no tempo. É que, de acordo com o autarca, a geração de hoje tem tudo em digital, em discos, em nuvens que podem ser perdidas.
Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes, destacou o confronto com o futuro e com uma aposta no arquivo em forma digital, aludindo ao serviço do Arquivo Municipal Eduardo Campos. Depois vincou que “o Município vai continuar a apoiar esta edição da revista.”
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