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Taça do Ribatejo: 2 de maio de 1986: O dia em que Francelina Chambel decretou feriado em Sardoal (C/ÁUDIO)

2/06/2022 às 11:12

O futebol tem muitas histórias e esta é uma das que ficam na memória de quem a vivenciou e fica nos registos de uma vila, de uma autarquia, para além do clube, naturalmente.
Na época desportiva 1985/1986 “Os Lagartos” de Sardoal conquistaram a sua primeira, e única até agora, Taça do Ribatejo.

O jogo foi disputado no Campo Chã das Padeiras, terminou empatado 2-2 ao fim dos 90 minutos e no prolongamento, Fernando Silva de penálti, carimbou a vitória para a equipa do concelho de Sardoal, na altura treinada por Alexandre Paulo.

Fernando Silva foi o herói da Taça do Ribatejo 85/86, época em que os Lagartos de Sardoal, na altura na 2ª Divisão Distrital, venceram o troféu ao bater na Final o CD Torres Novas.

Fernando Silva ainda se lembra bem deste jogo. “A primeira coisa que posso contar foi a enchente que o campo tinha. O Chã das Padeiras era pelado, muita gente do Sardoal se deslocou de autocarro.”

O ex-jogador não esquece o valor da equipa torrejana que na época anterior tinha andado na terceira divisão nacional. “Mas fomos para o jogo com muita atitude e muita raça. Conseguimos vencê-los.”

E Fernando Silva lembra um momento do jogo que poderia ter evitado a ida a prolongamento: “Fui bater um canto aos 90 minutos. A bola bateu na trave e não entrou. Poderíamos ter evitado o prolongamento.” Mas se a bola não entrou aos 90 minutos acabou por entrar no prolongamento.

“O Brás, era o extremo-direito. Era muito rápido. E numa das jogadas arrancou sobre o lado direito e foi rasteirado à entrada da área. O árbitro assinalou logo. Eu fui marcar o penálti frente ao Lisboa, que era o guarda-redes do Torres Novas. Veio cumprimentar-me, desejou-me boa sorte e que falhasse o penálti. Foi a conversa dele para mim quando me deu a bola para a mão. Aquilo faz tremer um bocadinho.”

Mas o jogador da equipa sardoalense respirou fundo e marcou e “depois foi correr o campo todo a festejar.” O jogo viria a terminar pouco tempo depois e, como por artes mágicas, ou da vitória, parece que “ninguém estava cansado. Foi correr e saltar.”

E depois a outra memória, do pós-jogo: “Foi uma grande festa. 1.º de Maio, feriado. Foi uma festa até de madrugada. A senhora presidente da Câmara [Francelina Chambel] deslocou-se ao local onde estávamos e decretou feriado municipal no concelho de Sardoal no dia a seguir, que era sexta-feira.”

A festa da equipa começou mais cedo. Logo no Chã das Padeiras. “Houve invasão de campo, ficámos sem as camisolas, desapareceram-me as botas [até hoje não sabe delas]. No regresso ao Sardoal eu vinha no autocarro dos adeptos e quando chegámos o Largo do Pelourinho estava cheio, à nossa espera. Depois fomos para uma casa de um diretor e estivemos lá até às 4 ou 5 da manhã.”

Fernando Silva, agitou as suas memórias desse dia 1 de maio de 1986 e ainda se lembrou que “houve ali umas pessoas que não tinham gostado que tivesse sido eu a marcar o penálti. Mas o professor Alexandre Paulo manteve a sua ideia. Se fui eu que marquei os penáltis durante a época porque é que não marcava ali? Mas havia jogadores acima da média. O Branquinho, o Zé Tó que era defesa-direito, o Rafael que era extremo-esquerdo (...) o Fernando Silva era mais um jogador de combate, de luta, de correr no meio-campo. Tinha muita preparação.”

Questionado sobre a forma como o treinador Alexandre Paulo preparou a semana que antecedeu a final Fernando Silva disse que foi o normal. “Não podia apertar muito porque já na altura ele era muito rigoroso no aspeto físico. Estávamos muito bem fisicamente. Vencíamos os jogos todos na segunda parte. E ali aconteceu. No prolongamento fomos mais fortes. Mesmo no dia do jogo andámos à vontade. Fomos de manhã para Santarém, almoçámos e depois cada um fez o que quis até à hora do jogo.”

O Torres Novas era uma equipa poderosa e “Os Lagartos” militavam na segunda distrital. Fernando Silva lembrou que nessa época a equipa não perdeu um único jogo, apenas registou dois empates contra o Vilarense.

A conquista da Taça do Ribatejo para o Fernando Silva foi o ponto máximo da sua carreira. “Passados mais de 30 anos quando nos encontramos ainda é uma festa. Já nos encontrámos algumas vezes e até já fizemos um jogo contra os veteranos do Sport Lisboa e Benfica.”

E das memórias do baú de Fernando Silva, salta a ligação direta à final do próximo domingo. 36 anos depois, no mesmo Chã das Padeiras, numa final da Taça do Ribatejo, voltaremos a ter um Silva em campo, pois Fernando é pai de Zé Pedro, jogador do Abrantes e Benfica.

“Eu já lhe transmiti que seja um jogo normal, mas de deixe tudo em campo. Que se esfarrape que tem o dia a seguir para descansar. Que não se enerve. Eu sei a capacidade dele em campo e sei que num lance aéreo ele pode resolver o jogo. O que lhe disse foi para estar à vontade, para lutar e para vencer para poder dedicar a vitória ao irmão e à afilhada.”

E a curiosidade é que não é normal que o filho possa seguir as pisadas do pai, 36 anos depois, ainda por cima no mesmo campo. Caso o Zé Pedro fosse o marcador do golo decisivo como é que o pai viveria o momento: “eh pá! ... há coisas que se sentem cá dentro, não é fácil explicar.”

Fernando Silva vai estar na bancada a torcer pelo filho e pelo Abrantes e Benfica, mas não esconde que esta semana anda mais nervoso, muito mais nervoso.

A final da Taça do Ribatejo a disputar entre o Abrantes e Benfica e o Fazendense será domingo, às 11 da manhã, no campo Chã das Padeiras. A Antena Livre inicia a emissão de Antena Desportiva às 10 horas e vai ter uma equipa em Santarém para lhe trazer o relato, comentários e todas as incidências deste jogo.

Ricardo Beirão e Jerónimo Belo Jorge

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