O presidente e treinador do Atlético Alcanenense, que desceu do Campeonato de Portugal ao distrital de Santarém, vai treinar a Associação Desportiva de Mação, que subiu, mantendo-se no entanto como responsável máximo pelo clube de Alcanena.
A situação não é virgem no mundo do futebol, mas é muito pouco frequente e sempre vista com curiosidade pelos adeptos da modalidade. Um dos casos mais falados foi o de César Farías, que adquiriu a maioria das ações do Zulia, da Venezuela, em 2014, e é treinador do The Strongest, da Bolívia, desde 2016, tendo os dois clubes estado muito próximos de se cruzarem na Taça dos Libertadores.
No caso de José Torcato, de 50 anos, que treina e preside o Alcanenense há 11 anos, não há segredos e foi tudo muito simples. "Nós já colaborávamos com o Mação. Tivemos jogadores emprestados e sempre houve uma boa relação e alguma proximidade. Quando não chegaram a acordo com o anterior técnico, as coisas proporcionaram-se, convidaram-me e como eu não queria voltar a treinar no distrital, aceitei", explicou à agência Lusa.
O técnico admite que quando a situação foi pública nem todos parecem ter gostado, mas diz que não há nenhuma incompatibilidade e não é possível agradar a todos: "Há pessoas que gostam muito de nós, outras assim, assim, outras gostam menos. Sei que, de início, alguns ficaram perplexos e pensaram que o Torcato ia abandonar o clube, mas não é nada disso."
O mandato da direção de José Torcato termina em junho deste ano e o presidente-treinador diz que não vai concorrer contra ninguém, mas, se não houver outra lista, como tudo indica, mantém-se à frente do clube para que não se perca o trabalho da última década.
"O Alcanenense é um projeto que demorou muito tempo a conseguir chegar onde está. Acredito que se os campeonatos não mudarem de figurino, nos próximos 50 anos nenhum outro clube da região irá conseguir estar na primeira divisão de juniores como nós estamos", refere José Torcato.
Delegar tarefas é o segredo para que a dupla missão em Alcanena e Mação tenha sucesso. Se o presidente do Alcanenense quer sobretudo manter a equipa de juniores na primeira divisão nacional, o novo treinador do Mação tem como objetivo garantir a permanência no Campeonato de Portugal.
[O Mação] "é um projeto difícil e que vai dar alguma luta. É a primeira vez que o clube vai jogar nos nacionais, mas o poder local está com o clube e é a bandeira da região. Com a minha experiência, acredito que posso ajudar a ter sucesso", refere o técnico, consciente de que Mação fica muito deslocado dos grandes centros e que não é fácil levar jogadores para o concelho.
José Torcato revelou ainda à Lusa que ao longo desta década em que se dividiu pelas funções de treinador e presidente teve dois convites para ser treinador de outras equipas, mas diz que eram projetos pouco aliciantes e que "na altura, não fazia grande sentido aceitar".
O treinador-presidente diz que ambas as missões são muito complicadas, mas admite que a de técnico principal é mais difícil. "Todo o gato percebe de futebol. Basta ver na televisão. O médico, o eletricista, toda gente fala de futebol. Num dia somos os melhores, no outro os piores", conclui.
Lusa