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Especial Vila Nova da Barquinha: A desertificação combate-se com a criação de riqueza

13/06/2022 às 09:15

As Festas do Concelho permitem o convívio e a convivência das famílias e amigos, mas o grande desafio dos autarcas e dos municípios aponta a uma necessidade premente de contrariar os níveis de desertificação que estes territórios, que se diz serem do interior, manifestam. Como se combate? Fernando Freire diz que é simples, mas aponta a uma necessidade do poder central fazer o que tem de ser feito. Infraestruturas, como o aeroporto de Tancos e as duas pontes sobre o Tejo, e depois criar incentivos para fixar empresas. Atrás das empresas vem a riqueza e a fixação de pessoas.

Entrevista por Jerónimo Belo Jorge

Quais são as espectativas e como está a ser preparada a Feira do Tejo, com esta interrupção de dois anos, por causa da pandemia?

Diria que finalmente temos a feira e estamos em festa. Obviamente com o devido cuidado, com parcimónia, com todos alertas da DGS, mas voltamos a poder ter sentimentos de partilha, de amizade, de alegria e de humanidade que é esta proximidade uns dos outros. De nos sentirmos felizes com as várias atividades culturais destes quatro dias e de podermos voltar a encontrar pessoas que não víamos desde 2019, nomeadamente as famílias que se encontram fora dos territórios da nossa área periférica e que vêm ver familiares e amigos num território que está a crescer, a vivificar, no fundo a alegrar-nos.

A pandemia provocou alguma alteração nos grandes investimentos do concelho?

Não. Vejamos, tivemos alguns processos complicados nomeadamente a gestão do teletrabalho e dos respetivos serviços autárquicos, do atendimento ao público que deixou de se fazer presencialmente, mas que nunca deixou de ser feito por videoconferência ou por telefone. Vila Nova da Barquinha nunca parou de fazer os seus investimentos, os seus projetos e, no fundo, os seus sonhos. Mas tivemos limitações, bem significativas, em camadas do tecido social que foram ostensivamente prejudicadas, leia-se a restauração, hotelaria e as atividades que praticam atos comerciais onde está muito público. Teve haver aqui uma simbiose perfeita entre aquilo que era possível, e que a Câmara Municipal tem o seu papel de ajudar e compor em termos sociais aquilo que era possível, sem esquecer a envolvência na assistência, quer em testes ou em máscaras ou quer em toda a logística que foi fundamental e é transversal a todas as autarquias. As autarquias foram fundamentais no combate à pandemia…

…tiveram que se adaptar…

… tivemos. Uma coisa foi certa: as pessoas ganharam confiança nas autarquias locais. A administração central está muito longe, é um conceito vago que fica no Terreiro do Paço. Em Vila Nova da Barquinha, como nas outras autarquias, as pessoas conhecem o presidente da Câmara, a assistente social ou as vereadoras. E nunca deixámos de acudir. Foi um exemplo de vida, e única, esta situação em que vivemos.

 

"a água para nós [Barquinha] fica-nos a 0,72 euros, para Lisboa fica a 0,34. E a água é toda do Castelo de Bode"

 

Há três anos, a propósito de dados demográficos, disse-me que a localização estratégica da Barquinha era um dos pontos fundamentais para não acompanhar as quebras de população? Mantém essa posição?

Sem dúvida. Felizmente Vila Nova da Barquinha não sofreu muito com esta hecatombe. Tivemos uma redução de 3% em relação aos censos anteriores, não é significativo, mas é um índice de preocupação que temos. Esta centralidade, sendo um cruzamento a A13 com a A23, tendo ao lado a ligação rodoviária e a ferroviária é muito competitiva para outras regiões do interior. E digo isto porque até sou natural de Oleiros (distrito Castelo Branco). Dou-lhe um exemplo muito concreto: há dias alguém perguntou-me se tinha um pavilhão disponível para uma empresa. E tinha dois pressupostos. Um era junto a uma autoestrada [dois terços dos concelhos ficam logo de fora] e o outro era ser próximo da via férrea. Ou seja, então 2 ou 3% dos municípios que tinham possibilidades de acolher esta empresa, tinham sido afastados. E também tem muito a ver com preços e com mercado. Ou seja, o empresário tenta mitigar os seus esforços em termos de empresa, e tenta esmagar os preços, colocar os produtos junto das áreas de grande densidade populacional. E isto é como o mapa inclinado [tudo o que é perto do mar é belo, tudo o que é interior… ], mas é lutar contra um desequilíbrio estrutural muito grande e é uma luta desigual. Dou-lhe outro exemplo concreto: á água para nós [Barquinha] fica-nos a 0,72 euros, para Lisboa fica a 0,34. E a água é toda do Castelo de Bode. São estes desequilíbrios que às vezes o poder político não se apercebe que existem e que criam a concentração e desvirtuam a concorrência (entre municípios). Não tenhamos a mínima dúvida. Mas se não houver condições concretas e reais para a criação de riqueza na nossa região, não tenhamos dúvidas, não temos condições concretas para criar riqueza.

Dever-se-ia olhar mais para os territórios de acordo com alta, média ou baixa densidade?

Não iria tanto por aí. Iria mais para a distribuição de riqueza e criar condições objetivas para a instalação de grandes infraestruturas: o aeroporto de Tancos, grandes empresas da área energéticas e outras. Os PIN (Projetos de Infraestruturas Nacionais) que possam alavancar-nos e aproximar-nos da zona do litoral, onde está tudo concentrado, temos de o ultrapassar. Até na regeneração da agricultura. Só 20% do que consumimos é que é produzido cá, os outros 80% é tudo importado. Neste momento temos um projeto para tratar do pinhal e todos andamos com projetos e projetos, mas de facto andamos a mitigar os problemas. Nenhum governo pegou na questão do emparcelamento. Neste momento estamos a fazer o cadastro. Isto é um atraso de anos. Temos de fazer o contraciclo. Como? Criando incentivos às empresas para se fixarem nestas regiões porque as pessoas já perceberam, e a pandemia provou isso, que pode haver muito teletrabalho. As autarquias criaram condições para essa vida. Toda a gente tem piscinas, escolas e outros equipamentos coletivos. Não precisam estar uma hora em filas para levar as crianças à escola.

 

"o grande projeto que temos para a região é o Aeroporto de Tancos"

 

Mesmo assim Vila Nova Barquinha tem o Centro de Negócios lotado, uma zona industrial cheia e a precisar de ser aumentada…

… sim. Não queria fazer comparações com outras zonas do interior, mas tem a ver com isto. Ainda hoje trouxemos a reunião de Câmara um processo de uma empresa que se vai instalar aqui e as empresas que temos tem a ver com acessibilidades. Não há volta a dar.

E que grandes projetos é que a Câmara Municipal ou através da Comunidade Intermunicipal têm para o concelho, até no âmbito do PRR ou do Portugal 2030?

De facto o grande projeto que temos para a região é o Aeroporto de Tancos. Acho que sou um bom exemplo da região: sou o presidente de VNB, a minha esposa trabalha em Tomar e o meu filho em Torres Novas. Tudo aqui é perto de tudo. A distância relativa é curta na nossa região. A CIMT está de mãos dadas, já temos o aval da CIM de Coimbra e seguramente teremos da Beira Baixa e Alto Alentejo, e perseguimos o objetivo de abrir o aeródromo de Tancos ao tráfego civil. Seria uma mais-valia e isso de facto é que seria investir no interior. Fala-se tanto em Montijo e noutras localizações, mas este é que era um investimento verdadeiramente regional. É uma infraestrutura abandonada e que poderia abrir ao tráfego comercial de mercadorias e passageiros. E olhe, as passagens no rio Tejo. Temos aquela ponte em parceria com Constância que está estrangulada. Precisamos de uma nova ponte, e não me interessa muito o local se é no Tramagal ou noutro lado. É preciso é a ponte para capacitar as empresas da margem sul, quer a Mitsubishi quer o ecoparque do Relvão não esquecendo a outra travessia prometida para esta zona da Chamusca.

O Rio Tejo continua a ser uma das marcas do concelho. É preciso apostar mais nas zonas ribeirinhas, com mais regularização de caudais? Como é que pode ser uma ferramenta para alavancar este território?

O rio Tejo é uma preocupação. O Tejo e o Zêzere, porque agora também já ando preocupado com o rio Zêzere. Temos feito grandes investimentos turísticos, temos agora o Trilho Panorâmico do Tejo, temos outros investimentos ribeirinhos, mas temos um problema que é a falta de água. E resolve-se a montante para conseguirmos reter água para regularização do caudal, este ano é um bom exemplo. Falo da barragem do Alvito, ou de outras, que estão projetadas. Há muitas maneiras de a reter quando chove para usar quando deixa de chover…

… não há é atividade que resista a estes caudais instáveis que temos. Ora está cheio, ora vazio…

… e até os próprios ecossistemas ficam muito afetados. Ainda hoje [11 maio] vi em Almourol, numa visita que acompanhei com alunos da Universidade Lusófona, o espanto dos estudantes com a quantidade de peixes no rio. Foi um fenómeno atípico, mas que resulta desta instabilidade dos caudais. Este negócio da luz e da energia que nos prejudica porque não há caudais ecológicos e com isso matamos a fauna e a flora das nossas regiões deve ser uma preocupação nossa, dos cidadãos.

 

"Esperemos que até final do ano os 300 postos de trabalho estejam garantidos"

 

A regeneração urbana tem sido uma aposta do município e de particulares. Isto é apontar ao uso de muitos edifícios que existem nos centros dos aglomerados das nossas vilas e aldeias?

E faz sentido. Mesmo em termos meramente economicistas, do ponto de vista camarário, faz sentido aproveitar todas as redes de saneamento já instaladas em vez de construir de novo. É com muito gosto que pudemos ver no último mês 30 prédios a serem vendidos em que deram à Câmara o direito de preferência. É sinal que a Barquinha está viva, está com força e garra e, quando assim é, estamos no caminho certo. Nós queremos sempre mais, mas é preciso dizer que as verbas transferidas para o Município pelo Orçamento Geral do Estado (OGE) baixaram de sobremaneira e não se pode esquecer que de todo o Médio Tejo VNB é o concelho que recebe menos do OGE. Objetivamente não podemos agradar a toda a gente, mas um autarca fica de coração cheio quando um grupo de alunos visita o território e nos dizem “parabéns presidente, tem uma vila muito bonita.”

Que obra ou projeto é que gostaria de ver a andar nos próximos 12 meses?

Gostava de concluir todos os pedidos que estão feitos para a zona industrial. Esperemos que até final do ano os 300 postos de trabalho estejam garantidos, conforme promessa do presidente da Câmara. A unidade fabril dos colchões está quase a abrir. Temos outras na metalomecânica, frutos secos, carnes, legumes, no canábis, na cartonagem na carteira. Se conseguir concluir o projeto de instalar todas as empresas e começar a pensar no plano de pormenor para o alargamento da zona industrial, acho que cumpri o que tinha prometido e cumpri a minha missão.

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