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Especial Empresas: Indústrias VIP - “No mínimo, produzimos 30 a 40 mil velas por dia”

15/03/2019 às 00:00
Sérgio Martins e a primeira vela

Não é uma daquelas histórias de vida em que parece que basta tomar a iniciativa e tudo corre sobre rodas. O início da Indústrias VIP – Velas e Ceras, é atribulado e recheado de momentos marcantes. Só a perseverança e o espírito lutador de Sérgio Martins fazem com que esta história seja possível e que seja, afinal, uma história de sucesso.

Hoje com 46 anos, é o administrador da Indústrias VIP, a fábrica que construiu com a esposa e que está implantada na Zona Industrial de Cardigos, no concelho de Mação.

A escolha por este setor das velas vem dos tempos do pai, retornado de Angola, que regressou a Cardigos e ficou com 10% de uma das mais antigas fábricas de velas da freguesia. Com a morte do pai, Sérgio Martins e um amigo pegaram na fábrica e diz, com orgulho, que “a fábrica que eu comprei é de 1850, era a fábrica dos Tavares, que foi das primeiras fábricas de velas em Portugal”.

A fábrica evoluiu, fez uma candidatura a fundos europeus mas, “como só fazíamos aquele tipo de velas para Fátima, o mercado tornava-se muito curto. Na altura, começaram a surgir as velas para cemitérios e ninguém fazia isso”. Foi essa mudança de produção e a candidatura aprovada, que levaram os dois amigos até Vila de Rei, pois “ainda não havia zona industrial em Cardigos”.

Em Vila de Rei, “tive um incêndio na fábrica, em 2001, e ardeu por inteiro. Não tinha seguro, não tinha nada”. - Foi começar do zero? “Não, foi do menos zero porque tinha empréstimos. Esses não arderam”, diz, com bom humor.

Mas não perdeu a esperança e “montei outra fábrica no Vale da Urra, que foi onde encontrei um pavilhão para alugar”. Passados cerca de cinco anos, “aquilo não tinha grandes condições” e... imagine-se, “voltou a arder”. “Já estava para montar outra fábrica mas depois do incêndio, parei”.

E é aqui que regressa ao ponto de partida: Cardigos.

Primeiro, “para as instalações de um amigo meu mas onde não tinha máquinas, não tinha nada. Só uma maquineta. Foi mesmo só para manter a atividade e não dizerem que me tinha ido embora”. Foi quando a Câmara Municipal de Mação começou a construir a Zona Industrial “e me deram todo o apoio para que aqui se instalasse a fábrica. Pouco a pouco, fomos construindo isto, tudo com fundos próprios. Peguei em máquinas velhas que tinha e comecei a recuperá-las pois as máquinas de velas são muito caras, qualquer linha de produção custa 200 mil euros”. Começou a laborar em 22 setembro de 2008 e, para o comprovar, está lá a primeira vela ali produzida, em destaque na prateleira.

Na Indústrias VIP, “só produzimos velas de cemitério”. Os copos onde são inseridas, “alguns são portugueses mas o grosso vem de Espanha”.

Há 12 tipos de velas”, explica Sérgio Martins. “Depende da cor do copo, se é para meter ou não num candeeiro de vidro mas tudo para a secção do cemitério. Eu dediquei-me apenas a este setor”.

Sérgio Martins e a mãe, “a melhor funcionária que eu tenho”

Quanto à matéria-prima utilizada, a parafina, um sub-produto do petróleo, “é comprada à Repsol portuguesa mas vem toda de Espanha e de França”. Sérgio Martins adianta que “fazemos muito boas parafinas cá em Portugal mas são muito caras e, para este tipo de velas, que é um segmento baixo, não carece de tanta qualidade”.

Quanto aos clientes, “90% é de Coimbra para cima porque a tradição dos cemitérios está mais enraizada no norte do país”. E isto parece ter uma explicação. “É que no norte, os cemitérios ainda estão ao lado das igrejas. A sul isso já não acontece porque os árabes, quando cá andaram, colocaram os cemitérios fora das localidades. E no norte, vão à missa e passam no cemitério. E se o meu vizinho colocou duas velas, eu vou pôr três”, conta, com alguma graça. A venda é toda feita através de distribuidores e o produto é praticamente todo absorvido pelo mercado nacional. “Exportamos para Espanha mas é residual, representa 1 a 2%”.

A Indústrias VIP emprega 14 funcionários, sendo 12 da freguesia de Cardigos, e tem um volume de faturação de mais de 3ME. “No mínimo, produzimos 30 a 40 mil velas por dia, é a média anual” e é tudo escoado no mercado nacional. Em setembro e outubro, devido ao Dia de Finados, passa “para 60 mil por dia”.

Mas nem tudo são rosas para quem aposta em investir no tão badalado “interior” do país. Primeiro, a questão técnica. Por perto, “não há quem faça e fica caro pedir assistência. Só a deslocação de um técnico, por vezes, fica mais caro do que a própria reparação da avaria. Por isso, apostei na contratação de um técnico em permanência. Também no que diz respeito à distribuição, nós estamos num dos setores mais caros”.

Mas a fábrica de Cardigos “está a funcionar bem e, no que diz respeito a esta, vai manter-se assim”. No futuro, que pode não estar muito longínquo, a intenção poderá passar pela aposta “no decorativo, como enchimento de vasos de cerâmica ou terracota, velas com cheiros... mas, para já, ficamos pelas velas”.

Contudo, há novidades na Indústrias VIP. Sérgio Martins lá conta que “nós somos a maior fábrica de produção de velas de cemitério. A nível nacional e da Península Ibérica, somos a maior neste segmento. E comprámos a segunda maior, na Maia. Uma fábrica que, para além destas velas, tem outros modelos e de qualidade superior”.

Esta compra significa que a produção das velas de gama baixa “vai ser toda transferida para Cardigos” e que, em breve, haverá lugar para mais postos de trabalho na Indústrias VIP. “Contratar ou mecanizar, ainda teremos que decidir”, avança Sérgio Martins. E explica que “contratar, nesta zona, está muito difícil. Não há mão-de-obra aqui e mão-de-obra qualificada, esqueça!”

E esta é outra das críticas do administrador, desta vez direitinha ao Estado. “Nem no IEFP conseguimos porque o Estado antes quer estar a pagar os subsídios do fundo de desemprego para as pessoas não fazerem nada, do que o dar às empresas. O que o Estado devia fazer era colocar as pessoas nas empresas, com os ordenados que tinham e, em caso disso, pagar o remanescente. Mas não. O nosso Estado tem muito dinheiro”.

Patrícia Seixas

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