Pedro Machado termina, a 31 de agosto, o seu percurso como presidente da Turismo Centro de Portugal, sendo substituído por Raul Almeida, presidente da Câmara de Mira e eleito no dia 26 de julho para o próximo mandato.
Pedro Machado sai pela limitação de mandatos e diz que o trabalho que começou em 2006 ainda não está totalmente concluído. Quando entrou na Turismo do Centro havia uma ideia de “venda” de Portugal com Algarve, Lisboa e Golfe. Volvidos 16 anos muita coisa mudou e a Turismo do Centro apresenta-se hoje como uma região que tem muita oferta e que procura encontrar nos mercados externos uma grande parte dos seus visitantes. Pedro Machado vai continuar ligado à região e ao setor na Agência de Promoção Externa que tenta “vender” o centro do país em 25 países, com destaque para Espanha e Brasil.
Entrevista por Jerónimo Belo Jorge
2006, o Turismo no Centro de Portugal era muito diferente. Pelo meio teve uma recessão, uma pandemia, uma guerra na Europa?
Incêndios em 2017. O Leslie em 2018. É uma realidade muito diferente daquela que encontrei. Em 2006 tínhamos praticamente 3,2 ou 3,4 milhões de dormidas e em 2023 temos mais de 7 milhões de dormidas. Em 2003, 2004 e 2005 estávamos a jogar um jogo de afirmação de posicionamento do Centro de Portugal. Hoje 2023 temos 5 títulos de melhor região nacional de turismo, temos um conjunto de prémios internacionais que vão de Istambul (Turquia) a Los Angeles (EUA) e passando por muitos outros. É um mundo muito diferente daquele que foi construído ao longo destes 16 anos e meio dos meus mandatos. Obviamente que o que me apraz registar à data de hoje é a marca Centro de Portugal. Sempre nos confrontávamos com o Algarve, com a Madeira e com Lisboa e depois regiões periféricas o Centro, o Alentejo e Porto e Norte, todas cresceram. O Centro de Portugal é uma região reconhecida nacional e internacionalmente. E isso é uma consciência de marca, a capacidade de mobilizar os agentes institucionais.
Foi difícil mudar essa ideia de olhar para os territórios de baixa densidade e Portugal deixar de ser Algarve, Madeira, Praias e Golfe?
Foi um processo lento, difícil e que na pandemia encontrou, infelizmente, um forte aliado. Com a pandemia percebemos que as pessoas viajavam em grupos mais pequenos, viajavam para distâncias mais curtas, que procuravam espaços naturais, que procuravam espaços em que a família e os amigos se podiam mobilizar em segurança e isso favoreceu muito aquilo que são as características do Centro de Portugal. Eu tive oportunidade de estar há dois dias num investimento aqui na Zaboeira (Vila de Rei) que tem uma classificação de 9,8 no Booking. É o máximo, é extraordinário. Significa que mudou o paradigma da promoção e o perfil dos consumidores.
E a região tem muita oferta e muita oferta com água?
Sim, o Castelo de Bode, o Cabril, a nossa praia fluvial mais alta que fica na Serra da Estrela e tantos outros que são o exemplo daquilo que hoje se chama o novo luxo, ma que vai ao encontro das expetativas dos novos consumidores. E a mudança está muito associada à mudança da faixa etária, aquilo que nós hoje chamamos a “geração z”, aqueles indivíduos que em 2030 vão ter 30 a 35 anos são muito diferentes do ponto de vista dos pré-requisitos e da sua motivação para viajar dos viajantes que tínhamos nas décadas de 70, 08 ou 90 quando apareceram os resorts em Portugal. O mundo mudou e mudou para uma agenda da sustentabilidade, da descarbonização e tudo isso está em convergência com aquilo que nós somos.
O conflito na Ucrânia está a fazer crescer a procura em Portugal e no Centro?
Tem em cima da mesa um vetor clássico e fundamental para viajar: segurança. Portugal é conhecido como um dos destinos mais seguros do mundo. Somos, ainda hoje, o 4.º destino mais seguro do mundo, depois da Islândia, da Nova Zelândia e da Dinamarca. E isso faz com que, quem procurava a Polónia, Alemanha ou países no perímetro deste conflito armando está a preferir Portugal. Há um impacto positivo. Não é positivo o que está a acontecer na Europa, mas Portugal acaba por beneficiar.
A Região Centro abarca 100 municípios. É um trabalho desafiante gerir a Turismo do Centro?
É um grande desafio. É 31% do território português, 22% da população portuguesa, é colocar a região Centro de Portugal três vezes a melhor região nacional de turismo o que, obviamente, que conforta e agrada muito. Mas foi de facto um trabalho só possível porque conseguimos impregnar nos agentes públicos e privados uma consciência que o Centro de Portugal tinha muito para crescer. E também porque conseguimos mobilizar vontades e consciências. Hoje os municípios, as empresas, os empreendedores, as universidades, os politécnicos têm uma nova consciência de marca do Centro de Portugal. E esse é um trabalho que nunca é de um homem só, mas que é o culminar de um processo e que me deixa muito tranquilo agora que estou de saída [a posse dos novos dirigentes é a 1 de setembro] e que a presidência vai passar para o Raul Almeida.
É um legado que fica. Já tem nostalgia, daquilo que foi o seu trabalho no terreno?
Eu tenho um princípio que é: devemos mais sair quando somos desejados do que quando somos suportados. Acho que ainda estou na fase em que seria desejado. E não fosse a limitação de mandatos, que é isso que me impede de continuar, faz com que não possa fazer mais um mandato. Mas também me permite, ao longo destes quase 17 anos, passar o testemunho ao Raul (Almeida) que é um autarca e conhecedor do Centro de Portugal, obviamente que não tem, e não podia ter, a experiência que eu tenho, mas tem todas as condições para o fazer. E eu saio naquela expetativa que faltava um bocadinho para fazer e é esse bocadinho que vou tentar fazer agora nos 25 mercados internacionais, é assim que me vou dedicar a partir de setembro. Presidente da Assembleia Geral e presidente executivo da Agência de Promoção Externa, é a isso que me vou dedicar no fundo, aquilo que é o posicionamento de Portugal em 25 mercados.
Quais são os primeiros, já se sabe?
[risos] Para já férias, mas para já Espanha e Brasil. Primeiro Espanha que é o nosso principal mercado externo, que está aqui mesmo ao lado e que nos permite ter 1 milhão de dormidas. E o Brasil que destronou a Itália e a França e hoje é o nosso terceiro mercado mais importante.
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