José Mingocho Abreu foi fundador da Escola Profissional de Agricultura de Abrantes na década de 80. Depois, nos anos 90, aceitou o desafio de ser consultor do governo moçambicano na área do ensino agrícola. Agora, na reforma, diz que ainda tem muitos projetos que espera que “alguém” possa dar continuidade.
Entrevista de Jerónimo Belo Jorge
Créditos: Ana Roque da Cunha
Começamos, talvez em 1985/86... como é que surgiu a ideia de que poderia haver uma escola de agricultura, ensino profissional, em Abrantes?
Mesmo antes de 1985/86.
O certo é que o ensino agrícola, em Abrantes, começou em 1977 com uma experiência-piloto realizada na Escola Secundária Nº 2, com a introdução, no currículo, das chamadas “Áreas Vocacionais” em 1977.
Após o 25 de Abril unificou-se o ensino secundário. As Escolas Técnicas (comerciais, industriais e agrícolas) “fundiram-se” com os Liceus, dando origem às escolas secundárias.
Foi uma má decisão de política educativa e o país veio a ressentir-se com isso, pois perdeu o “saber fazer” que residia em termos curriculares nas tecnicidades que preparavam para a vida ativa.
Há que referir também que o ensino técnico tinha um estigma social. Eram os filhos dos operários que, normalmente o procuravam. Em contraposição, os Liceus acolhiam os filhos da classe média e das classes dirigentes. O objetivo era que fossem um corredor de acesso à Universidade.
Abrantes era o exemplo da coabitação desses dois subsistemas: tínhamos a Escola Industrial e Comercial de Abrantes (EICA) e o Liceu Nacional de Abrantes (LNA). Com a citada reforma, a EICA veio a originar a Escola Secundária Nº 1 – (atual Solano de Abreu) e o LNA a Secundária Nº 2 (atual Escola Manuel Fernandes.
Foi, realmente. uma má decisão política que assentava em pressupostos de ordem sociológica, (origem social dos alunos) e que não se preocupou com os determinantes económicos advenientes. Começou a haver muita escassez de técnicos qualificados nos mais variados domínios da atividade económica.
Logo em 1976 esse erro foi reconhecido por políticos mais esclarecidos e atentos, mas não era possível com um estalar de dedos voltar a recompor o que tinha sido mal alterado. Certas forças políticas opunham-se ao retomar da segmentação do ensino secundário, com escolas a prepararem os jovens para a vida ativa e outras a prepararem-nos para o acesso às universidades.
Havia que fazer alguma coisa mas tinha que ser feita de forma muito subtil. Então em 1977 foram lançadas nas escolas secundárias, a nível dos currículos, as chamadas áreas vocacionais. Na Escola 2 de Abrantes, escolheram-se as seguintes: Agropecuária / Produção Alimentar, Saúde, Desporto e Quimicotecnia. Uma tímida experiência. Não havia qualquer certificação profissional, esta parte do currículo podia sensibilizar para opções profissionais que seriam tomadas mais tarde. Um fermento vocacional, portanto.
E assim andámos.
Em 1983/84 o Ministro José Augusto Seabra decidiu, sem grandes aparatos, lançar os cursos profissionais e técnicos profissionais. Qual a diferença entre eles? Os cursos profissionais seguiam-se ao 9º ano de escolaridade, o currículo continha apenas disciplinas técnicas, tecnológicas e praticas. Seguia-se um estágio feito numa empresa ajustada à respetiva área de formação e a empregabilidade, no nosso caso. foi de 100%. Os cursos profissionais desenvolviam-se integrados nos currículos dos 10º, 11º e 12-º anos e, para além das componentes socioculturais e científicas, existiam as disciplinas técnicas. Estes cursos davam acesso ao ensino superior.
Na derradeira etapa e para se conseguirem os objectivos propostos, com a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo, em Outubro de 1986, complementada pelo Dec. Lei nº 26/89 foram criadas modalidades especiais de formação profissional e criaram-se as Escolas Profissionais.
Estava retomado o caminho correto.
Desta forma, surge a Escola Profissional de Agricultura de Abrantes com toda a inovação que a lei lhe permitiu em termos de autonomias: administrativa, financeira, pedagógica e cultural. Uma grande pedrada no charco relativamente ao que eram as rotinas educativas e legislativas vigentes.
Estas escolas resultaram de iniciativas locais, o Ministério não impunha, o Ministério poderia apoiar se a vontade local existisse.
Abrantes esteve na linha da frente na criação das escolas profissionais. Muito contribuiu a vontade de diferentes promotores, nomeadamente a Câmara, a Cooperativa Abrantejo, a Escola Secundária 2 ( o alfobre da profissional), a Zona Agrária, o Instituto de Emprego e outros.
Fui convidado para desenvolver as ações conducentes à apresentação da candidatura, já com a Herdade da Murteira adquirida pela Câmara e, temos orgulho nisso, o primeiro contrato-programa assinado para funcionamento da escola profissional foi o nosso – 25 de Setembro de 1989.
A 1 de Outubro a escola profissional começou a funcionar e eu fui designado Diretor.
A Drª Margarida Mariano e o Engº Francisco Domingos foram os grandes parceiros desta “missão”?
Quando eu fui nomeado Diretor deram-me a possibilidade de escolher os meus pares. Não tive dúvidas em escolher o Engº Francisco Domingos e a Dra Margarida Mariano. Tinham trabalhado comigo nos cursos profissionais e técnico-profissionais e mereciam a minha confiança total, representando uma grande mais-valia para a alavancagem do projeto educativo da Escola Profissional.
Fomos pioneiros em muitas coisas, as nossas ofertas formativas eram inovadoras e ajustadas às realidades sociais, económicas e culturais da região de Abrantes e, cedo, fomos considerada uma escola de referência.
A EPAA nasceu, cresceu e ganhou pernas para andar. Depois José Abreu abraça o desafio do Indico, de Moçambique. Como surgiu a possibilidade?
A Escola Profissional de Agricultura de Abrantes, em termos estatutários foi considerada uma escola de “natureza pública”. Tinha a tutela do Ministério da Educação, tinha como promotores entes de outra natureza. Sendo pública, regia-se pelas normas do direito privado, se me é permitido, não era carne nem peixe.
Cedo me apercebi que, de um momento para o outro, a Escola podia inactivar-se. Naqueles moldes não dava segurança a ninguém.
Iniciei, então, uma outra luta. Era preciso que a escola fosse considerada pública o que daria segurança aos seus professores e funcionários. E prometi a mim mesmo e publicamente que a minha hora de saída se verificaria quando a escola fosse, inequivocamente, uma escola pública.
Em Maio de 2000, onze anos depois da sua entrada em funcionamento, uma portaria deu-lhe o estatuto de escola pública. Missão cumprida.
Vamos agora ao Índico.
Em 1996, ainda Diretor da Escola, sou convidado para integrar uma missão conjunta dos Ministérios da Educação e da Agricultura para que Portugal apoiasse a reconstrução de uma escola agrária em Moçambique. Pela primeira vez pisei a terra africana. Fiquei extasiado. Visitámos duas escolas agrárias e escolhemos a que viria a ser apoiada.
Nos diversos encontros que mantive em Maputo, contactei, numa reunião qualquer, a Cooperação Finlandesa, que apoiava com o Projeto SATIM (Support to Agricultural Trainnig in Mozambyque) perspectivando a reconstrução física, funcional e pedagógica, do Instituto Médio Agrário de Boane.
Nunca me passou pela cabeça que, dois meses depois, os finlandeses me convidassem para ir fazer uma consultoria de avaliação do funcionamento desse Instituto, nomeadamente no grau de implementação do currículo.
A ideia seduzia mas era arriscado.
Movimentaram-se “forças” para que eu aceitasse e o Ministro Marçal Grilo, autorizou e incentivou a deslocação.
Fiz o meu trabalho e regressei à “minha” escola.
Eis senão quando o Professor Joaquim de Azevedo, responsável pela apresentação de um programa de reforma do Ensino Técnico de Moçambique, me convida a ir lá para fazer o levantamento da situação existente.
Moçambique estava destruído depois de 16 anos de guerra civil. Não existia nada. Foram quarenta e cinco dias a percorrer o país todo e a tentar compreender por que lado se deveria começar.
Novamente de volta ao terrunho, e com relatório feito, coordenado pelo Professor Joaquim de Azevedo e apresentado às autoridades educativas moçambicanas em Maio de 1999, o mesmo foi aprovado por unanimidade.
Parecia que era, finalmente, o ponto final.
Estava enganado, pois em Outubro de 2000, não sendo já Diretor da EPAA, me surge o convite por parte do GAERI – Gabinete de Assuntos Europeus e Relações Internacionais do Ministério da Educação de Portugal – para ir por três anos ajudar a implantar a reforma do ensino técnico moçambicano, tal com preconizada no Relatório.
Aceitei.
“Valise en carton”, cheguei ao aeroporto de Mavalane, em Maputo, no dia 16 de Março de 2001. E os três meses previstos foram “esticados” até ao dia 9 de Novembro de 2018, com todo o trabalho previsto realizado. Os moçambicanos não me deixaram vir embora tão cedo assim.
E foi fazer o quê concretamente?
Como referi eu levava comigo uma “carta de missão” para implementar a reforma preconizada no Relatório a que fiz referência. O meu trabalho passaria por: (i) reorganização curricular dos cursos (trabalhava-se com currículos dos anos 80); (ii) formação técnica e pedagógica de diretores, professores e mestres; (iii) elaboração do quadro legal dos cursos e dos normativos de funcionamento das escolas; (iv) inventariação das obras de restauro e de ampliação das escolas; (v) levantamento das tipologias de equipamento necessário.
Para início da experiência o Ministério da Educação de Moçambique tinha definido cinco escolas-piloto: (i) Moamba ( Província de Maputo); (ii) Inhamissa – Xai Xai ( Província de Gaza); (iii) Massinga (Província de Inhambane); (iv) Ilha de Moçambique (Província de Nampula) e (v) Songo – Cahora Bassa ( Província de Tete)
E começámos.
Pelo estudo que fizemos da realidade existente, nomeadamente a nível de currículos e conteúdos programáticos verificámos que havia uma grande desactualização técnica e pedagógica. Era currículos dos anos 80, muito focados no centralismo administrativo, todos os programas com uma grande carga ideológica, muita ditadura nas escolas, nenhuma flexibilidade, regulamentos de funcionamento com mais de trezentas páginas e centenas e artigos, o regime do magister dixit, muita tirania dos professores, etc, etc.
Cedo verifiquei que a primeira coisa a fazer era mudar as mentalidades. Tudo estava bloqueado. A situação também tinha a ver com os dezasseis anos de guerra civil que o país tinha vivido e, em simultâneo, a desorientação política que um país, governado monopartidariamente, passou a ter no regime do pluripartidarismo democrático.
Quem estava certo? perguntavam muitos dos meus amigos moçambicanos.
Como uma das vertentes fundamentais do programa de acção era formação de agentes educativos, foram de Portugal muitos especialistas em psico-pedagogia para, em simultâneo, ajudar na melhoria das funções docentes dos moçambicanos e na mudança, para melhor, das mentalidades.
Foi o que fizemos formando milhares de professores.
Os temas tinham a ver com: (i) avaliação e progressão modulares; (ii) gestão de escolas em quadro de autonomias; (iii) auto-avaliação de escolas; (iv) projecto educativo de escola; (v) “Escolas e Comunidades”.
Não foi fácil ministrar estes temas. Mas conseguimos. Houve um princípio que eu transmitia aos especialistas que iam daqui: “correr não é chegar” diz a sabedoria popular moçambicana. “Não queiram que os ritmos de aprendizagem sejam os mesmos que temos em Portugal”. “Não esqueçam que pode haver professores que estão na sala com fome, sim, com fome”. “Falem muito pausadamente sincopando as sílabas” etc, etc.
Erra quem pensa que se pode fazer uma reforma educativa em Moçambique, quiçá em África, fazendo “coppy and paste” de modelos europeus. Eles podem servir de inspiração, nunca serão totalmente transferíveis para aquelas realidades.
E dizia também os conselhos que o que o adido cultural de Portugal em Moçambique, profundo conhecedor da realidade africana, me deu logo à minha chegada. Sem eles não teria aguentado: Eram: “aprenda a ter paciência, esqueça o relógio e não esteja com um pé cá, outro lá”.
Ora estes conselhos transmitia-os eu sempre, a quem ia daqui.
Quando chegou, tinha estudado a realidade do país, encontrou o que tinha estudado ou uma realidade diferente?
Pensava que conhecia a realidade do país, porque o percorri de lés-alés, como lá se diz, do Rovuma ao Maputo e do Zobuè ao Índico. Mas, em cada dia que passava eu estava numa permanente aprendizagem.
E a dar valor às coisas simples. Tantas vezes que eu pensava: “Quão preciosos seriam aqui os desperdícios das escolas portuguesas !”. “Que bem faria a professores e alunos portugueses o conhecimento destas realidades para perceberam o que é trabalhar em condições destas!”. E também me impressionava e impressionava também quem ia daqui, a vontade férrea que todos tinham em aprender.
“Esqueça o relógio” dizia-me o Dr. Soares Martins. Era para o esquecer no início mas também no fim das actividades. Terminavam as sessões em termos de horário, não terminavam em termos de “queremos mais, queremos mais”.
E, quem ia daqui, muitas vezes prolongou por duas e três horas as suas lições.
Este trabalho de mais de 15 anos com o Governo de Moçambique teve sempre o mesmo objetivo ou a “missão” foi mudando?
Claro que houve muitas alterações e ajustamentos dado que, como referi, os dias fazem-se de permanentes surpresas.
Como referi, o grande pilar de sustentação das reformas preconizadas passaria pela mudança das mentalidades. Então começámos a fazer as formações em Portugal. Para que as mentes se arejassem. E não resisto a contar um episódio que me foi relatado por um Professor do Niassa. Disse-me que a primeira vez que tinha dormido numa cama foi no Porto. No Niassa, como eu bem sabia, tinham as esteiras, nada de camas.
Avaliada a experiência piloto foi considerada muito positiva e institucionalizou-se o novo modelo de formação através da publicação de quatro diplomas ministeriais. A partir daí a rede cresceu exponencialmente e é público desejo político moçambicano de ter uma escola profissional por distrito. São 122 distritos e nós deixámos 58 escolas em funcionamento, sendo que, algumas delas, já fizeram “up grade” e são, agora, Institutos Politécnicos Médios
Quando se criam projetos, em países e realidades de dimensões diferentes a todos os níveis, qual é a maior gratificação que se sente?
A maior gratificação que se sente é apercebermo-nos da utilidade do nosso trabalho, por muito pouco que façamos, pois os ritmos são outros.
Um episódio digno de nota: verifiquei que na Escola Profissional de Inhamissa (uma das escolas-piloto) havia uma grande prevalência de malária. Estavam mais alunos nos internatos que nas aulas. Cedo percebi que as redes mosquiteiras das janelas estavam podres e rasgadas, porta aberta para que a phalaris, instalada num qualquer mosquito fizesse mossa na saúde de alunos e alunas. Dizia-me o Diretor que, em cada ano lectivo, havia à volta de 80% de alunos contagiados. E o problema eram as redes.
Que em Maputo custaram cerca de 120 USD!!!
Comprei a rede, enviei para a escola e os alunos de carpintaria aplicaram-nas nas janelas. O resultado foi a prevalência da malária a baixar para 10%..
Coisa tão pouca e que tanto préstimo teve.
Disse-me qualquer coisa parecida com isto: “Um grão de areia em Portugal pode ser um grande projeto em Moçambique”. É uma diferença gigante?
Disse e é verdade como se pode constatar no que fui referindo.
E como é que conviveu com as gentes do Indico?
Muito bem. É um Povo fantástico e deixei Amigos, de todos os extractos sociais, e em todo o território moçambicano. Conheço Moçambique a palmo. Soube respeitar, fui sempre respeitado, nunca prometi o que não podia cumprir. Não troçava nem desdenhava da cultura moçambicana, antes respeitava. Tive um problema com alguém que foi daqui e, num intervalo de uma sessão formativa, ao saber que um professor moçambicano, muçulmano, tinha quatro esposas lhe dirigiu uma crítica violenta e ocidentalizada. Vi-me doido para fazer com que o professor permanecesse e pedi, a quem disse essas inconveniências, que, no dia seguinte, com ânimos arrefecidos, pedisse desculpa ao professor, o que foi feito, sanando-se o problema. Hoje são grandes amigos no FB.
O ensino agrícola cresceu neste sua passagem por Moçambique?
O programa destinava-se a apoiar o ensino técnico no seu todo. Não só as escolas agrícolas, como as industriais e comerciais. Fizemos currículos para vários cursos, de interesse para o desenvolvimento socio-económico de Moçambique, nomeadamente: (i) Carpinteiro/Marceneiro; (ii) Serralheiro Civil/Soldador; (iii) Serralheiro de Manutenção Mecânica; (iv) Reparador de Carroçarias; (v) Electricista de Edificações; (vi) Empregado de Mesa e Bar; (vii) Operador Agro-Pecuário; (viii) Electricista/Bobinador; (ix) Pedreiro de Limpos; (x) Jardineiro/Floricultor; (xi) Horticultor/Fruticultor; (xii) Empregado Administrativo; (xiii) Técnico de Eco-Turismo.
Todos estes cursos foram homologados oficialmente através de Diplomas Ministeriais.
Dada a relevância da actividade agrícola em Moçambique são as escolas agrárias que maior peso numérico têm. E continuará a ser assim. Moçambique é um país eminentemente agrícola e a sua economia assenta muito nessa vertente económica. Lembremos que Moçambique foi o maior produtor mundial de castanha de cajú.
Quero, ainda, referir que também demos formação inicial a futuros professores. Passaram por Portugal 99 alunos moçambicanos que, sendo criteriosamente selecionados em Moçambique, passaram por escolas portuguesas para obter formações técnicas especializadas a que se seguiram cursos de formação pedagógica na Universidade Católica Portuguesa dotando-os, deste modo, de competências relevantes para o exercício de funções docentes em Moçambique.
Também muitos professores fizeram cá cursos de formação contínua quer a nível das tecnicidades específicas, quer a nível da psicopedagogia.
Para Diretores de Escolas também se fizeram vários cursos de modo a saberem gerir as escolas moçambicanas em quadros de autonomias sem cordões umbilicais bloqueadores das actividades do dia-a-dia.
Para mim, a requalificação dos recursos humanos foi a vertente mais significativa e relevante de todo o projeto. O objetivo não era dar o peixe, mas ensinar a pescar.
Concluiu os seus objetivos pessoais ou ficou alguma coisa por fazer?
Cumpri tudo o que estava no programa e na carta de missão 52 dias antes do final do projeto.
Se há muita coisa ainda a fazer, claro que há, mas o meu tempo, era forçoso que se haveria de esgotar. E esgotou-se.
Saí de Moçambique, mas continuo em Moçambique. É impossível esquecer. E se não fosse o Corona lá estaria no dia 2 de Abril, por um período de 27 dias. Rever amigos, visitar instituições e ter uma ou outra palavra de ânimo ou de conforto para quem dá vida, em cada dia, ao projeto que lá ficou.
Vamos ter memórias da EPAA, da Herdade da Murteira, de Moçambique.....
Eu, há dias, no FB defini “reformado” como um trabalhador não sujeito a hierarquias, nem a horários.
Estou reformado. Sempre gostei de trabalhar e não perdi esse vício.
Primeiro, os netos, já são quase agricultores. Fiz uma horta, um pomar e uma vinha de uva de mesa em Coimbra, para eles e com eles. Provaram já as primeiras alfaces, couves e morangos. Pelo Skype vi a colheita, e disseram que era tudo muito saboroso. O Covid impediu-me a prova !
Depois estou a escrevinhar as minhas “Memórias do Índico” uma abordagem de política educativa em Moçambique e, na passada, uma referência aos aspectos sociais, económicos e culturais daquele povo, com a narração de episódios caricatos e interessantes.
Sobre a EPAA dei, há dias uma entrevista sobre a sua história, que penso que irá ser publicada no Jornal “A Folha”.
Mas talvez venha a desenvolver um pouco mais o tema numa publicação específica.
Não podemos desmemoriar as instituições.
E a EPAA é um study case
O que é que gostava ainda de fazer a nível profissional?
Sou realista, tenho quase 73 anos, mas da saúde, graças a Deus, não me queixo.
Na cabeça tenho muitos projectos. Só não tenho tempo nem contexto para os concretizar. Mas pode ser que exista quem pegue nessas ideias e as ponha a andar. Citando Pessoa, sou dos que acredita que “Deus quer, o Homem Sonha e a Obra Nasce”.
Foi assim que trabalhei em Moçambique.