A Escola EB de Chainça, que é como quem diz, a escola que aglutina o primeiro ciclo e o pré-escolar é, desde esta quarta-feira, dia 18 de novembro, uma Agroescola. Para assinalar o Dia Nacional da Agricultura, assinalado esta quarta-feira, a CAP – Agricultores de Portugal, entidade que organiza o programa Agroescola em parceria com o Fórum Estudante, entregou o diploma à escola. Foi uma cerimónia “despida” como acontecem nestes tempos as organizações, mas carregada de simbolismo.
Carlos Toco Bento, coordenador do estabelecimento de ensino que integra o Agrupamento n.º 2 de Abrantes explicou que a escola tem a sua “secção agrícola” bem estruturada. Quer isto dizer que a escola tem oito turmas do primeiro ciclo, mais três de pré-escolar e ainda a ocupação dos tempos livres, da responsabilidade da Associação de Pais, para as atividades pós-encerramento das aulas, ou seja, o equivalente a 12 turmas. E esta é a estrutura, cerca de 250 crianças, que têm a responsabilidade de cuidar de 12 canteiros da horta pedagógica e de 12 árvores de fruto do pomar pedagógico.
O professor explica que o cuidar “da horta” não é ir apenas com o sacho preparar a terra, plantar as hortícolas e colher os produtos. Uma horta pode ter muito mais para ensinar. Os ciclos da vida, as estações do ano, a própria estrutura da flora. E se sairmos do “Estudo do Meio” podemos entrar no domínio da Língua Portuguesa onde as crianças podem aprender novas palavras, podem estruturar frases, composições e mais um sem números de atividades. E depois até a matemática pode ir à horta. Ora, é muito mais giro, dar a largura e o comprimento dos canteiros e pedir para as crianças aprenderem a calcular a área. Ou aplicar outras operações matemáticas que têm em linha de conta aquilo que a horta tem para dar.
E não podemos esquecer, dentro das aprendizagens, da promoção da alimentação saudável. Diz o docente que quando “colhem” um determinado produto na horta a ideia é levá-lo para a “cozinha” onde recebem outras bases, já de vida saudável. E, acrescente-se, pode ser um dos momentos de socialização, sem ser as correrias ou brincadeiras mais barulhentas de crianças destas idades.
Carlos Toco Bento explica que a horta e o pomar foram desenhados neste sentido de cada turma ganhar o sentimento de posse do seu espaço, do seu trabalho. E quando souberam do projeto da CAP resolveram apresentar a candidatura, agora aprovada. Mas para além de um galardão a CAP trouxe também à Chainça uma mão-cheia de sacos de fertilizante biológico, ancinhos e sachos em formato mini para as crianças poderem “trabalhar” a terra e uma cerejeira.
Carlos Toco Bento
Ana Barroso, da CAP, mostrou a satisfação pela candidatura da escola, a única do distrito de Santarém. E depois vincou que é a primeira vez que tem em mãos um processo de uma escola do primeiro ciclo. Nos anos anteriores têm sido aluno mais velhos o que permite outro tipo de abordagens, como a exibição de vídeos no sentido de lhes mostrar o quão importante é a agricultura.
Ana Barroso deixou ainda a porta aberta para no próximo dia da Árvore, a 21 de março de 2021, poder haver, já sem pandemia ou com regras mais leves, algumas atividades em torno deste dia. “Por exemplo, poderemos trazer aqui os sapadores florestais para explicar um pouco o trabalho que fazem e de que forma podem ajudar a floresta”.
Ana Barroso
A cerimónia foi “despida”. No ringue estavam os alunos de uma turma do 4.º ano a que se juntaram um menino e uma menina de cada uma das restantes turmas. Sentados em cadeiras. E com o distanciamento social aplicado por estes novos tempos.
Os discursos foram igualmente curtos. Apenas para assinalar o momento. Quando o coordenador da Escola recebeu o diploma de Agroescola as crianças aplaudiram.
Mas voltemos à cerejeira, uma única árvore oferecida pela CAP para acrescentar ao pomar pedagógico. Foi uma turma do 4.º ano a plantar aquele caule com uma única folha, mas com uma etiqueta com umas cerejas bem vermelhas. “Se a produção não for igual à da fotografia podemos reclamar”, brinca o professor que dispõe as crianças à volta de um pneu que é a “caldeira” deste pomar. Carlos Toco Bento explicou aos presentes que a cerejeira que existia no pomar tinha morrido, daí o pedido para esta “substituição”. Mesmo assim, indica, “permitiu-nos perceber os ciclos de vida das árvores” e faz a pergunta para a plateia dos alunos sobre a resistência dos ramos da cerejeira. “Ah! partiram logo”, dizem em coro alguns dos alunos.
E Carlos Toco Bento dá depois uma explicação. Ao colocar a cerejeira no local onde vai ficar apanha uma estaca de madeira para colocar ao lado da árvore e faz a pergunta: “Como se chama isto. Pode ser uma estaca, mas na agricultura tem outro nome. Alguém sabe?”
Foto arquivo Escola EB Chainça
Foto arquivo Escola EB Chainça
Face à ausência de respostas, apressa-se a explicar: “É um tutor. Sabem porquê? Porque vai ficar com a cerejeira aqui presa para a ajudar a crescer direita. Depois, quando for maior, quando tiver as raízes bem agarradas à terra podemos retirá-lo”. E diz que é desta forma que, nesta quarta-feira, aquela turma do 4.º ano aprendeu mais uma palavra, mais um significado.
E de seguida, algumas das crianças puderam mandar “umas pazadas” de terra para plantar a cerejeira enquanto outros fizeram a rega.
O pomar pedagógico da escola de Chainça voltou as ter 12 árvores de fruto e tem outros tantos canteiros para as produções hortícolas de época. Todos têm sistema de rega automático. Todos têm a placa com a turma responsável. E se um ainda tem uns morangueiros, naturalmente sem morangos, outro tem alfaces, um outro couves e outros aguardam a plantação.
Carlos Toco Bento diz que esta é uma forma diferente de as crianças poderem aprender. A ouvir têm uma perceção, que aumenta quando vêm e que aumenta muito mais quando praticam.
Todas estas atividades são bem vistas pela Associação de Pais que esteve representada por Luís Bandarra. Aliás, a própria associação tem dado alguns contributos para a escola. Entre eles um mais visível. Um tabuleiro de xadrez gigante onde as crianças podem aprender este jogo.
Há uma certeza que Carlos Toco Bento deixa transparecer. As crianças de Chainça podem não vir a ser hortelãos, mas aprendem muitas das matérias fora da sala de aula e, acima de tudo, vivenciam-nas. E agora ganharam o estatuto de Agroescola.