Contra os 'rankings' e a “cultura da nota”, cada vez mais pais procuram estabelecimentos de ensino onde os filhos são felizes a aprender como a “Escola Amiga das Crianças”, um projeto que nasceu há três anos.
Brigadas voluntárias de crianças que limpam os recreios, hortas que crescem da dedicação dos mais novos ou alimentos plantados num cantinho da escola para serem usados pelas cozinheiras da cantina são algumas das atividades escolares que podem fazer a diferença no dia-a-dia dos estudantes.
Existem milhares de iniciativas um pouco por todo o país que não estão focadas apenas em preparar os alunos para testes e exames nacionais, mas são cada vez mais aplaudidos pelos pais, contou à Lusa o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascensão.
Há estabelecimentos de ensino que podem nunca ter aparecido no 'top' dos 'rankings', mas para os pais são as melhores do mundo, explicou, dando como exemplo o caso de uma escola que, de vez em quando, se transforma numa “república dos alunos”.
No entanto, este trabalho de educadores, professores, auxiliares e até pais, que abdicam do tempo livre em prol da escola dos filhos, ficavam “escondidos” nas salas de aula.
Para dar visibilidade a estas ações o psicólogo Eduardo Sá teve a ideia de criar o projeto “Escola Amiga das Crianças” e convidou a Confap para o projeto, que nasceu em 2017.
“Sentíamos que estava a ser dada demasiada importância aos ‘rankings’ quando, na realidade, a escola não é só notas. Tem muitas outras coisas incríveis”, defendeu Jorge Ascensão.
O projeto criou um selo que premeia os estabelecimentos de ensino e que reforça a ideia de que muitos pais estão contra a “cultura da nota”.
Desde 2017, mais de mil estabelecimentos já concorreram ao prémio de “Escola Amiga da Crianças” tornando públicos os seus projetos.
Há escolas que concorrem com muitas iniciativas, como a EB Fernando Caldeira, em Águeda. Ali, existe um projeto destinado a promover o sucesso dos alunos de etnia cigana, reduzir o abandono escolar e o absentismo, mas também há um concurso para escolher a “turma top”, que não tem como único critério as notas dos alunos.
Os “ecovigilantes” é outro dos programas da escola de Águeda: São brigadas voluntárias de alunos que trabalham para alertar e sensibilizar a comunidade escolar para possíveis infrações ambientais detetadas.
Apetrechadas de sacos do plástico e luvas, as brigadas dedicam-se à recolha de lixo encontrado no chão, mas também sensibilizam quem encontram para os problemas detetados, como torneiras que pingam ou salas onde não se respeita totalmente as regras de separação do lixo.
A alimentação e estilo de vida saudável são outras das preocupações de professores e pais. Na escola básica de Mem Martins, concelho de Sintra, por exemplo, existe o projeto “comer bem para bem crescer”.
Nos recreios ou mesmo em canteiros dentro das salas de aula, cultivam hortícolas, plantas medicinais ou ornamentais. Ali também se aprende a fazer sopas e sobremesas saudáveis.
Numa outra escola, na EB 1 do Carregado, são os alunos da educação especial quem está encarregue por “sentir a terra”, ou seja, por cuidar de uma horta. São eles que plantam, semeiam, cuidam, tratam e colhem os produtos.
Muitas têm projetos em que as crianças são chamadas para melhorar os espaços escolares, como é exemplo a escola EB 2/3 de Vilela.
Na primeira semana de aulas os alunos envolveram-se em inúmeras tarefas tais como recuperar canteiros exteriores ou requalificar o campo de minigolf. Também houve quem tenha optado por ajudar a pintar os balneários.
Há escolas que apostam nas campanhas de solidariedade como a Escola EB de Benavente, por exemplo, onde a biblioteca é palco da recolha de bens de primeira necessidade que depois são distribuídos pelas famílias mais necessitadas.
Já na Escola Básica e Jardim de Infância Vista Alegre a ideia foi apostar no encontro de gerações entre as crianças do pré-escolar e os idosos de um centro de dia.
Este é o terceiro ano que os projetos vão a concurso, estando já a decorrer o período de candidatura que tanto aceita iniciativas de escolas públicas como privadas.
"Queremos combater a ideia de que só as escolas que têm bons resultados são boas. Há muitas que têm boas condições, bons professores e desenvolvem um excelente trabalho, mas depois não conseguem ter o mesmo destaque nos ‘rankings’. Todos os dias há pessoas que fazem trabalhos incríveis e nós queremos destacá-los", explicou Jorge Ascensão.
Lusa