As Jornadas de Educação de Abrantes arrancaram esta sexta-feira, dia 4 de outubro, e este ano acontecem ao longo de um mês com atividades descentralizadas em todo o concelho. Os anos anteriores estas jornadas têm acontecido concentradas em três ou quatro dias, mas em 2019, segundo a vereadora Celeste Simão, o objetivo da autarquia foi levar estes debates e estas formações a todo o concelho e com um leque mais variado de opções para os participantes. E a responsável pelo pelouro da Educação no concelho de Abrantes deu o exemplo logo do primeiro dia, uma ação em torno do papel da formação profissional no ensino.
A vereadora destacou a todos os presentes o documento diretor desta área, o projeto educativo do concelho que começou a ser desenhado e discutido em 2013, mas que só em 2015 foi aprovado. Celeste Simão vincou bem o fato deste ser um processo construído em Abrantes com trabalho prático e suportado pela academia, e não o contrário. Daí a necessidade de levar as jornadas aos locais que fazem parte da rede de ensino do concelho. E esta primeira sessão aconteceu no Parque Tejo, em Rossio ao Sul do Tejo, com uma demonstração de um volteio [atividade de equitação em que os alunos fazem parelha e exercícios com um cavalo] por parte da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes, ao abrigo da sua formação profissional. É que o tema da primeira sessão foi esse mesmo, o papel da formação profissional em Abrantes.
E se dois dos três oradores anunciados faltaram, por motivos diferentes, é certo que a sessão de arranque das jornadas não perdeu interesse. Talvez pelo contrário. A organização convidou Joana Borda D’Água, Tomás e Afonso Pereira da Silva, como ex-alunos do ensino tecnológico ou profissional, para deixarem a sua experiência e opinião.
Comecemos por Samuel Pereira, do Instituto do Emprego e Formação Profissional, que destacou a forma como, cada vez mais, a formação profissional está a desempenhar o seu papel na abertura de portas para o mercado do trabalho. Deixou vincado o empenhamento e colaboração das instituições de ensino superior em adequarem e reconhecerem alguns créditos de formação, tendo em conta que alguns destes formandos poderão seguir a carreira educacional no ensino superior. Mesmo assim deixou a ideia das dificuldades que podem sentir, pois têm as mesmas provas de acesso que os do ensino regular, mas como o ensino é diferente poderão ter algumas dificuldades acrescidas.
Samuel Pereira deixou ainda a indicação de que apenas 8 ou 9% dos formandos do profissional seguem, depois, os estudos académicos. Em grande parte dos casos talvez porque sejam mais facilmente absorvidos pelo mercado laboral.
Já Joana Borda D’Água disse não ter sentido dificuldades de adaptação ao curso de arquitetura por ter frequentado um curso tecnológico de design, apenas porque não quis mudar de escola, quando teve de escolher. Adaptou algumas das disciplinas, tendo fugido a Métodos Quantitativos, mas conseguiu fazer a Matemática que era necessária para a arquitetura. Depois da licenciatura “zangou-se” e virou a sua vida para um negócio no centro histórico de Abrantes, talvez pelas bases do design, que continua a gostar. Deixou a nota de que quando chegou à faculdade já tinha mais bases tecnológicas do que os colegas, pelo menos no uso do software Autcad.
Tomás e Afonso Silva Pereira, gémeos, tiveram o seu percurso a começar no ensino profissional na EPDRA, em Mouriscas. E foi num estágio no segundo ano do curso, o equivalente ao 11º ano do ensino regular, que definiram a sua vida. Apaixonaram-se pela Hidroponia [técnica de cultivar plantas sem solo, onde as raízes recebem uma solução nutritiva balanceada que contém água e todos os nutrientes] e, com apoio dos pais e da irmã, criaram um projeto par ao cultivo de morangos a partir desta técnica. Ainda não tinham 18 anos, mas criaram a Horta Grande que, hoje, produz abacates no Algarve e morangos em Abrantes.
Ambos estão a concluir os estudos superiores na Escola Superior Agrária, em Santarém, e também estão “agradecidos” ao ensino na EPDRA. Quando chegaram a Santarém os colegas não sabiam ligar um trator e eles tinham essa experiência. É desta forma que Afonso clarifica que “o ensino profissional ensina e o académico melhora e aperfeiçoa”. Instado pela moderadora, Sofia Mota, diretora da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA) a dizer onde se vê daqui a dez anos foi perentório na resposta: “Vejo-me neste projeto. Aliás, estamos a querer crescer”. Mesmo assim deixou a vontade de avançar para o mestrado, depois de concluída a licenciatura.
Já a Joana quando questionada sobre a ideia de um emprego para toda a vida foi clara na resposta. Os jovens da sua geração não pensa nisso e deixou o lamento da sua mãe que sempre a motivou a estudar para conseguir um emprego bom. Coisas que mudaram com os tempos e em que a sua geração já se adaptou e procura aquilo que lhes parece melhor. Seja ou não da sua área de formação.
Estas Jornadas da Educação de Abrantes vão ainda ter muitas ações como “Musicoterapia”, um Conselho Municipal de Educação aberto; Educação de adultos; Inteligência Emocional; A Importância de Brincar; Parlamentos jovens; e ainda um debate em torno do estudo de um caso sobre liderança pedagógica. As jornadas acontecem em vários locais ao longo de todo o mês de outubro e são organizadas pela Câmara Municipal de Abrantes.
Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara Municipal de Abrantes
Celeste Simão, vereadora com o pelouro da Educação da Câmara Municipal de Abrantes
Auditório do Parque Tejo
Volteio a cavalo (EPDRA)
Turma de artes a desenhar um "mural" sobre as jornadas