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Abrantes: Reportagem: "Não há educação sem arte e sem cultura" (C/ÁUDIO e FOTOS)

7/06/2022 às 17:22

Uma visita a uma escola (Dr. Manuel Fernandes) para ouvir alunos, pais e professores a falar de ensino artístico só podia começar com um momento musical de piano, na entrada da escola. Depois, já na sala para a conversa, Alcino Hermínio, diretor do agrupamento saudou a vinda do ministro, novamente, a Abrantes. Revelou que João Costa é uma pessoa por quem os diretores têm uma relação muito próxima. “Fui construindo esta admiração, independente depois das questões políticas.”

Depois deixou uma nota referindo apresentando Isabel Alves, recentemente eleita como nova diretora da escola.

Presente na sessão esteve o presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, que sobre o ministro disse ter “grandes expectativas no seu trabalho e nas equipas que lidera.” Sobre o ainda diretor da escola frisou: “o prof. Alcino Hermínio deixa a sua marca, numa altura que está quase a haver uma mudança.

Este agrupamento quer continuar o trabalho e quer pensar no futuro.”

Já o ministro João Costa, sempre num registo informal, começou por brincar ao dizer que “tinha cartão de passageiro frequente nesta escola.” E virou-se, de seguida para o município, notando que “há sete anos que acompanho o trabalho deste município que é um exemplo. E quando se fala nesta guerra da descentralização de competências deveria olhar se para o envolvimento da autarquia de Abrantes.” O ministro chegou mesmo a dizer que há uns anos pediram-lhe um exemplo de um município “que estivesse a fazer bom trabalho bom aproveitamento de fundos comunitários. E apontei Abrantes.”

A residência é o pedido de todos para o ensino artístico

O ministro ouviu alunos, pais e professores sobre o ensino. Desde os mais novos, do primeiro ciclo, até aos finalistas. Se nos mais novos a conversa foi direcionada para coisas mais ligeiras sobre o gosto da música, a ajuda que dá para outras disciplinas ou se os “miúdos” sonham em continuar com a música no seu futuro, os do secundário entraram noutras áreas.

E houve necessidades que todos apontaram. Mas uma necessidade com solução à vista. E, pelos vistos, até o ministro conhece essa eventual solução num processo que é, como ele próprio classificou como “muito complexo.”

Os alunos sentem a necessidade de ter salas próprias para as suas aulas. “Não podemos estar a ter uma aula, a desafinar e a prejudicar quem está numa aula de história ou geografia ao lado”, disse Frederica uma aluna finalista que escolheu o caminho artístico do violino. A era, claro, a antiga residência. Tem salas, “já ali tive aulas quando foram as obras na escola” e até tem um auditório, explicou.

A questão de ocupar a antiga residência de estudantes com as aulas de artes foi vincada por todos os outros alunos, a Leonor, pianista, e a Madalena, violoncelista.

O pedido sobre espaços para as artes foi extensivo aos alunos de dança e de teatro.

A presidente da Associação de Pais, Susana Martins, deixou também uma nota sobre este local, que está fechado. “Que bom seria que as ‘Master class’ pudessem vir para esta residência. Poderíamos ter aqui intercâmbios. Poderiam ter uns quartos para com condições de fazer esses intercâmbios.”

João Costa disse estar “quase apto a falar da residência com a quantidade de vezes que o prof. Alcino lhe falou no assunto.”

Ainda nos pedidos ao ministro o rol cresceu com as necessidades de um piano de cauda, de instrumentos de percussão ou figurinos e cenários (para a dança e teatro). Houve ainda sugestões de ajuste das disciplinas teóricas que permitam aos alunos, mais facilmente, poderem concorrer o superior na área da música.

O ministro ouviu e dialogou com os jovens, e pais, e sobre a residência disse conhecer muito bem toda a história, num processo que é complexo e que tem muitas dificuldades.

Sobre a parte curricular revelou que um dos caminhos poderá ser a agilização de disciplinas com uma eventual possibilidade de escolhas ajustadas às realidades de cada estabelecimento de ensino.

O ministro deixou, de forma clara, a vontade de continuar a haver uma aposta, forte nas artes, tanto mais que o ensino de artes no básico e secundário pode ser uma grande ajuda para a construção dos jovens e da sua personalidade. E pode ainda, ao contrário do que se pensava há alguns anos, ajudar as outras disciplinas. É que, como disse João Costa, e corroboraram os professores e alguns pais, as áreas das artes estimula sentidos, obriga a aumentar os níveis de concentração e permite fazer, nalguns casos, que os alunos ganhem um rigor que poderá depois ser utilizado nas outras áreas do ensino geral. 

O que dizem os alunos

Rodrigo, aluno do primeiro ciclo, esteve uns momentos à conversa com o ministro que lhe disse “que aos 14 anos deixou de estudar música.” Depois João Costa “disse que temos dificuldade em ter ensino artístico em todo o país. Temos feito um esforço desde 2008.” A mãe do Rodrigo disse ser difícil que continue com a música por causa do transporte entre Tramagal e Abrantes, quando passar para o segundo ciclo.

Depois o Dinis, também do primeiro ciclo disse a João Costa que aprende flauta e “aprendemos muito lá (na escola)” e acrescentou que “valsa em três linhas é a música que estamos a decorar”. Disse depois que as suas disciplinas preferidas são a música e matemática. E quando o Dinis agradeceu à professora de música o ministro foi lesto e disse ao Dinis que “devíamos dizer aos professores obrigado e não até amanhã.”

A professora do Dinis, Luísa, deu um exemplo de um aluno com dislexia que “veio para música está a melhorar desse problema.”

Ainda na música, mas no secundário, Leonor, pianista, e Madalena, violoncelista, deixaram a sua experiência e opinião sobre o curso. “É uma oportunidade de ter um curso gratuito e temos boas condições. Só temos de comprar os instrumentos. Temos bons professores”, disse a Madalena.

Depois a Leonor explicou a recente deslocação de alguns alunos a um intercâmbio em França. “Tivemos um intercâmbio com pianistas de Avignon e vimos uma cultura diferente. Tínhamos um piano em qualquer lado. Numa estação. Num restaurante. Em casa.”

O ministro fez a pergunta às alunas sobre a carga horária. Leonor respondeu “parece que há teoria a mais em relação às práticas” e Madalena acrescentou “há disciplinas que deveriam ter mais carga do que outras mais teóricas.”

Rita, no 11.º ano no curso supletivo concordou com as colegas. Sobre a carga horária disse que no curso supletivo falta uma componente de composição. E depois vincou a necessidade de uma melhor conciliação do curso geral, humanístico ou ciências, com a música.

O ministro deixou, depois, uma sugestão a nova diretora, Isabel Alves. “Criámos o plano de inovação em que poderia haver uma modalidade de permutas em cursos para poder haver algumas trocas do curso geral com algumas disciplinas de música.”

Frederica frequenta o 12.º ano, é violinista, e explicou que está no supletivo e que iria ter o seu último concerto. Explicou que tem um colega que não teve aulas de composição. “Na minha turma somos quatro e um quarto da turma quer seguir música” e concluiu a sua intervenção a dizer que “a escola fez um esforço monumental nesta área. Estamos a criar um público para a música clássica.”

Duas alunas de dança explicaram que esta área consegue formar a parte física e psicológica dos alunos. “O curso tem condições boas, mas já com cinco turmas de dança precisava de mais espaço de estúdio para as atuações”.

Nesta conversa franca as jovens acabaram por dizer que a “música na dança é um problema. Os professores é que têm de trazer equipamento de casa. O estúdio é muito pequeno e os camarins também.” O ministro perguntou a carga horária da dança e as alunas responderam: “semanalmente são nove horas e meia na dança.” E apresentaram uma queixa: “dependemos de uma escola de Tomar para ter figurinos para as representações.”

Já do curso de teatro foi uma aluna do 11.º ano que deixou a sua opinião e como o teatro ajuda “no controlo das emoções. Os professores trabalham muito nisso.”

Apontou ainda a dificuldade dos figurinos e fatos também para as representações. Depois deixou um convite: “vamos ter dia 15 a peça “A Guerra do Morto” no Tramagal, às 21 horas. Andamos todos nervosos porque é a última semana de ensaios.

Este curso trabalha muito as emoções e é uma ajuda para o curso que quero seguir.”

João Costa vincou que na reforma em curso #colocamos a sensibilidade artística e estética nos objetivos”, deixando depois a nota que “os ditadores têm medo dos artistas e os censores fazem a primeira censura nas artes. Escolas devem ser espaço de artes.”

Margarida Carvalho, presidente da Associação de Estudantes, não sendo aluna de artes foi convidada a falar e começou por elogiar o trabalho dos professores. “O apoio dos professores fez de nós o que nós hoje somos.”

Depois deixou um desabafo sobre a presença na Associação de Estudantes, que “dá” uma carga muito grande de horas de atividade e que até pode prejudicar aqui ou ali numa décima que pode fazer toda a diferença no acesso ao ensino superior. Ou seja, o tempo que “passamos na Associação de Estudantes não conta para nada”.

O ministro concordou, em parte, tanto mais que referiu que está a ser “criado um passaporte para a vida. Não conta para nota, mas mostra aquilo que tu fizeste.” E acrescentou que mesmo não contando para nota, “a capacidade de pensar e de analisar, que se calhar não sentes agora que estas ferramentas te tenham ajudado, mas se calhar no futuro vais perceber que ajudaram.”

Curso de Gestão Industrial aponta a Centro Tecnológico Integrado

Sobre o curso de Gestão Industrial, que é lecionado na Escola Duarte Ferreira, em Tramagal, um dos professores presente explicou que têm protocolos com a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e com várias empresas da região, que dar feedback sobre as qualificações dos alunos. “Quando acabam o 12.º ano entram de imediato no mercado de trabalho.” E depois deixa o pedido ao governante: “Peço é evolução e inovação. É importante conseguirmos entusiasmá-los.”

Alcino Hermínio deixou depois a novidade de um processo que está em andamento e que terá parcerias com a Câmara Municipal de Abrantes e com a ESTA, mas que passará para a nova direção, e que visa a apresentação de uma candidatura para a criação de um Centro Tecnológico Integrado.

Professores de artes querem espaço para aulas e vínculos

Da parte dos docentes, a necessidade de espaços para aulas e ensaios foi uma constante. A antiga residência de estudantes, que inclui um auditório, era a solução perfeita.

É que, para além dos espaços de aula, o auditório principal da escola, com excelentes condições para ensaios, tem uma ocupação permanente e nem sempre está disponível para quando os professores necessitam.

Carolina, a professora de piano, revelou que com os anos começam a chegar os reconhecimentos. “Temos muitas conquistas e alunos premiados. Fomos a Paris com mais três alunas convidadas para um concerto”, explicou ao mesmo tempo que apresenta uma das dificuldades que se prende com a aquisição de instrumentos, por vezes muito caros. “Por exemplo, um piano de cauda que permitiria ter um salto nalgumas áreas do curso e até para a comunidade escolar.”

Houve ainda tempo a uma outra novidade. É que neste intercâmbio em França ficou alinhavado que em 2023 seria em Abrantes, em fevereiro ou abril. “Era ótimo ter esse piano aqui nessa altura”. Mas, vincou o ainda diretor, “isso é com o Município e com a nova direção.”

No seguimento deste “anúncio informal” Alcino Hermínio e Susana Martins, presidente da Associação de pais, indicaram que a associação está a juntar dinheiro para comprar um piano para oferecer à escola.

Já Paula, professora de dança, mostrou satisfação de “pela primeira vez não termos de justificar o ensino artístico” acrescentando que a música tem 8 anos, a dança 4, e o teatro também vai avançar em força, pois no próximo ano letivo o teatro vai começar no básico. A docente deixou claro que “escolas públicas com ensino integrado como esta e como esta existem poucos no país”, mas que é preciso mais apoio, pois “a nossa preocupação é que futuro para estes alunos e com uma maior ligação com o ensino superior e com o mercado de trabalho.”

O ministro João Costa referiu que este agrupamento está no Plano Nacional das Artes e que este é “meio caminho para abrir portas.” Já a professora de teatro explicou que veio “parar a Abrantes em altura de crise. Vim numa perspetiva de precisar de trabalhar e sentir que somos acolhidos nesta área artística é muito bom. Já germinava a área artística na escola.”

Esta docente referiu que tem de haver estabilidade nos cursos e tem de haver uma ligação com a comunidade. E isso tem muito a ver com a continuidade. “Tem de ser semeado e germinado. Começamos a ter alunos que vêm de outros concelhos para estas áreas.”

Por outro lado, deixou uma opinião curiosa “a partilha do auditório é algo que me deixa stressada, por um lado, e orgulhosa, por outro, que é a partilha do palco. Sinto-me bem-estar em palco a trabalhar e ter mais pessoas a espera de usar esse mesmo palco.”E deixou a necessidade de que é “preciso mais intercâmbios e o acesso aos profissionais para ver como se faz. Maior parte dos alunos nunca foram ao teatro. Era preciso uma bolsa que permitisse levar estes alunos ao teatro.”

 

Pais pedem ajustes nos materiais escolares para IRS

Os pais dos alunos de artes também marcaram presença e foram ouvidos pelo ministro, nesta reunião. E entre as coisas positivas que deixaram sobre as aulas de música e os elogios aos professores houve também pedidos ao “governo”.

Um dos pais pediu “uma discriminação positiva em termos fiscais para a aquisição de instrumentos musicais”, que atualmente não “cabem” nas despesas de educação.

Uma das mães deixou o pedido de uma “maior estabilidade para os professores que ensinam a área artística. Deveriam ter uma carreira mais estável.”

Aqui o ministro respondeu logo: “sabe que até à pouco tempo não tínhamos processos de estabilização de professores de música e dança. Temos vindo a abrir vagas, as que são possíveis. Queremos fazer o reforço da estabilização da carreira, isso e muito importante para fixar professores.

Já outro pai falou nas necessidades que os filhos sentem com falta de espaço e deixou uma nota, mas da área social: “houve pais que só conseguiram ver os filhos em palco porque tiveram ajuda de outras pessoas, porque têm dificuldades financeiras.

Se calhar haveria aqui uma porta de maior ajuda financeira até do Ministério da Cultura.”

Já Susana Martins, presidente da Associação de Pais, referiu que este ensino artístico é “uma grande mais-valia para a cidade. A autarquia também nos convida para muitas coisas. Somos reconhecidos.” Depois acrescentou que há aspetos em que a associação também dá o seu apoio. “Na dança há meninos com necessidades monetárias. Têm sido duas associações, a “Juventude Amiga” e Associação de Pais, têm contribuído monetariamente para que não tenham desistido.”

E concluiu a sua intervenção a dizer que “falta a residência (edifício contíguo à escola) para ajudar a melhorar ainda mais esta área das artes.”

E revelou ainda que há pais que estão preocupados com lesões no desporto escolar ou na dança. “Nestes casos há situações que não precisam de passar pelo hospital. Poderia passar diretamente por fisioterapia. E são casos que os seguros escolares não cobrem.” E depois acrescentou “com um instrumento musical é o mesmo. Se um aluno partir um instrumento são os pais que pagam.”

Foram quase duas horas de conversa com o ministro que terá gostado do que ouviu e levou alguns recados para fazer ajustes para que o ensino artístico possa melhorar ainda mais e para que possa ser uma outra via integrada ou supletiva ao ensino geral.

Em declarações ao jornalistas o ministro da Educação, João Costa, fez um balanço da sessão deixando a nota que já conhece bem o problema da residência e vincou as virtudes do ensino artístico em Portugal.

Texto de Jerónimo Belo Jorge

Fotografias de Maria Francisca Carvalho

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