A Sociedade Artística Tramagalense (SAT) abriu-nos a porta para conhecer a Jovem Orquestra Sinfónica do Tejo (JOST), que aí realiza os seus ensaios.
Iniciada em Setembro de 2017, junta jovens que querem desenvolver os seus talentos musicais, crescer pessoal e socialmente dentro do grupo e partilhar com a comunidade o seu saber, realizando concertos abertos a todos os que os quiserem ouvir. A iniciativa é fruto de um protocolo assinado pela Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Santarém, pelo Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes e pela SAT.
A JOST é constituída por cerca de 50 jovens (entre os 10 e os 15 anos) empenhados e com uma enorme vontade de espalhar a sua música pelos palcos fora. Respira-se um ambiente de verdadeira cumplicidade e partilha, que revela um forte sentido de pertença àquele grupo.
Este projeto pretende não só contribuir para uma formação mais coerente das crianças e dos jovens, dando maior significado às aprendizagens que os mesmos vão realizando em contexto escolar, mas também promover o desenvolvimento local, nomeadamente, contribuindo para o acesso à cultura e à fruição artística.
Margarida Togtema, professora na ESE de Santarém e coordenadora deste projeto, explicou ao JA como e porquê surgiu esta iniciativa:
“Em 2014, a Escola Dr. Manuel Fernandes ia passar a lecionar o Curso Básico de Música, em regime integrado, e o diretor do curso, o professor José Horta, partilhou alguns dos constrangimentos que enfrentavam, nomeadamente, ao nível da falta de alguns instrumentos. Esse foi o início de tudo! Em conjunto com o diretor do Agrupamento, o professor Alcino Hermínio, juntámos esforços para encontrar soluções, mobilizando os recursos da Escola Superior de Educação de Santarém e da Sociedade Artística Tramagalense, uma associação sempre aberta a novos desafios. Com o contributo de todos seria mais fácil levar por diante um curso que constituía uma enorme mais-valia para o Concelho”.
Relativamente à JOST, disse ser um projeto que nasceu naturalmente, fruto do trabalho realizado no curso de música da Escola Dr. Manuel Fernandes e na escola de música da SAT, assente numa lógica de cruzamento e complementaridade entre dois “territórios educativos” – o Formal e o Não Formal - que devem trabalhar em articulação para dar maior sentido às aprendizagens que os alunos vão realizando.
Em relação à forte adesão que o projeto teve, diz dever-se à motivação gerada nos jovens e suas famílias, que se encarregam de “passar a palavra”, trazendo outras pessoas consigo”. Às cordas e aos sopros iniciais juntou-se posteriormente o piano, a percussão e as vozes.
Quanto ao recrutamento, a professora conta que os alunos “quando cá chegam são todos bem-vindos. Procuramos que todos se sintam satisfeitos e que possam crescer. Nós só queremos que eles se motivem para trabalhar (aqui e na escola) e que cresçam como pessoas e artistas.”
A JOST tem como Diretor Musical o Maestro José Teixeira - um Tramagalense há muito em Lisboa mas que não conseguiu resistir a este projeto - e preparou a sua apresentação através de quatro estágios. Nesses estágios de orquestra os jovens músicos foram acompanhados por vários professores de instrumento, sendo uns da Escola Dr. Manuel Fernandes, outros da escola de música da SAT e outros convidados. Nomes como Ana Figueiredo, Carolina Alves, Gonçalo Sousa, Mário Roldão, Mathieu Branco, Paulo Vieira e Rui Miguéis ajudaram a alicerçar este projeto.
As apresentações no final de cada Estágio foram sempre enriquecidas com a participação de músicos convidados. Joana Cota, Vincent McCallum e Rebeca Aizic trouxeram o Fado, os Blues e a Bossa Nova, respetivamente.
MT referiu que “no 1º estágio, a maior parte dos jovens tinha um ano de música. No final apresentaram a peça “Pompa e Circunstância” de Elgar, tendo sido um momento muito bonito, que emocionou todos os que a ele assistiram.
Foram muitos os que, desde o início, aceitaram colaborar com este projeto. Referem-se aqui as entidades que acolheram os estágios: a ARTRAM, o Agrupamento de Escuteiros de Tramagal e o RAME, em Abrantes.
O concerto de apresentação realizou-se no dia 30 de junho de 2018 na SAT.
De volta ao trabalho em Outubro p.p., a JOST conta agora com a colaboração do Maestro Carlos Gonçalves que, em articulação com o Maestro José Teixeira, trabalha regularmente com o grupo. Realizou recentemente 3 concertos: no Convento de São Francisco, em Santarém, no Forum Lisboa, num intercâmbio com o Colégio Moderno - e o outro em Tramagal, no quadro da Feira de Natal que aí se realiza já há alguns anos. “Agora é necessário parar um bocadinho para trabalhar novo reportório” disse MT.
“Nós só queremos que eles trabalhem e que cresçam como artistas" - Margarida Togtema
A JOST não é o único “produto” do protocolo de colaboração existente entre as três entidades acima referidas. Se ela surge num contexto não formal e se dirige, maioritariamente, a jovens a partir dos 10 anos, existe, desde 2014, um outro projeto de intervenção direcionado para o 1º CEB, desta feita, em contexto de Educação Formal. O Projeto “educARTE”, que visa a integração curricular da educação artística no 1º CEB e envolve todas as turmas das escolas que pertencem ao Agrupamento de Escolas nº2 de Abrantes.
MT referiu que, para além de tornar efetivo o currículo do 1º CEB (para que a educação artística seja uma realidade nas nossas escolas), este projeto pretende dar sustentabilidade ao Curso Básico de Música em funcionamento na sede do Agrupamento no 2.
No dia em que nos deslocámos à SAT para ver a JOST em ação tivemos uma surpresa. Estava a dar os primeiros passos o novo projeto que mobiliza as três entidades envolvidas no protocolo de colaboração já referido. “Acabou de assistir ao primeiro ensaio da nova orquestra de guitarras, que conta com a Direção Musical do professor Pedro Ferreira.”, disse entusiasmada a professora, avançando que “ há muitos jovens que tocam guitarra em todo o concelho e seria bom que eles se pudessem juntar em torno de um projeto comum, que contribuísse para o seu crescimento e para enriquecer culturalmente a comunidade”.
O Maestro José Teixeira disse que era com muito orgulho que estava neste projeto. Referiu que a sua direção “é feita com muita paixão e muito carinho”, não escondendo o afeto que sente por este grupo. “São fantásticos! Adoram fazer música”.
Quanto ao reportório da orquestra disse ser importante que um músico tenha referências musicais alargadas e diversificadas. Por isso, o reportório da JOST é abrangente. “Vai de Vivaldi até aos Rolling Stones, com a energia, dedicação e empenho destes jovens músicos”, disse. Destacou ainda a evolução feita: “evoluíram bastante ao longo deste percurso, não só tecnicamente, mas também na sua autonomia, auto-confiança e auto-controlo, o que se reflete na sua atitude perante o público”.
A JOST é um projeto que tem ingredientes para vencer e continuar a crescer ainda mais, assumindo-se também como um contributo válido para a desejável descentralização da Cultura.
Nélio Dias