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Abrantes: Humberto Lopes espera que “o CRIA possa voltar a ser o que era antes de 2015”

8/11/2018 às 00:00

Na sequência da entrevista publicada a Nelson Carvalho, presidente da direção do Centro de Recuperação e Integração de Abrantes (CRIA), sobre a atual realidade financeira da instituição, Humberto Lopes, ex-presidente da direção, solicitou à Antena Livre e ao JA uma entrevista para prestar alguns esclarecimentos.

No estúdio da Antena Livre, o ex-presidente começou por referir que foi “durante 18 anos voluntário na direção do CRIA. Nunca houve vencimentos em atraso. Nunca houve processos disciplinares. Aquela é uma casa de afetos, onde os problemas se resolvem com afetividade e não com processos disciplinares nem com guerras”.

“Em termos humanos, foram os melhores 18 anos da minha vida. Aprende-se muito com os utentes do CRIA. Aprende-se muito com os funcionários do CRIA. Durante 18 anos aprendi muito com eles, incluindo com os membros dos órgãos diretivos da instituição”, salientou o antigo dirigente.

De seguida, Humberto Lopes começou por dizer que deixou a instituição com um passivo de cerca de 500 mil euros em 2015 e que não sabe qual é o motivo que leva aos dias de hoje a instituição a apresentar uma dívida de cerca de 900 mil euros. Explica o responsável que sempre houve necessidade de se fazer empréstimos e que antes de 2013 “o CRIA não tinha bens imóveis para oferecer à banca como garantia de empréstimo”.

“Quando em 1997 fui para o CRIA, a instituição tinha duas lojas situadas na rua Nossa Senhora da Conceição. Lojas essas que estavam e estão alugadas. Não tinha mais nada porque o terreno e as edificações feitas na Quinta das Pinheiras foram objeto de um destaque que só passou para nome do CRIA em 2013. Portanto, até 2013 o CRIA não tinha património (avaliado em 4ME) para apresentar junto da banca de modo a contrair empréstimos de médio e longo prazo”, referiu.

“Como não tínhamos património, era o presidente da direção e o tesoureiro que validavam estes empréstimos. Eram os meus bens e os do tesoureiro que ficavam “empenhados” para conseguirmos esses empréstimos para que os funcionários do CRIA pudessem receber os seus salários a tempo”, acrescentou o responsável.

 “A realidade financeira das IPSS é sempre difícil”, afirmou Humberto Lopes e explicou porquê: “Primeiro, as contribuições que o Estado dá para as IPSS são extremamente reduzidas. Em segundo lugar, a comparticipação dos utentes e dos familiares não cobra, juntamente com a da Segurança Social, a despesa que o utente dá. Portanto, a instituição tem que arranjar outros meios, para além destes, para poder acorrer às despesas que tem”.

O responsável salientou que “sempre houve necessidade de contrair os empréstimos. Sobretudo a partir de 2006. Porque em 2004, 2005, 2006 até 2007 foram feitos investimentos vultuosos no CRIA. Foi feito um lar residencial, que teve uma comparticipação do Estado, a fundo perdido, muito inferior a 50%”. Lembra o ex-presidente do CRIA que “o lar custou mais de 700 mil euros. Depois de equipado, foram investidos algumas centenas de milhares de euros em duas estruturas que estão lá, uma foi o pavilhão de hipoterapia e a outra foi o futuro armazém. Portanto, essas estruturas custaram muito dinheiro e são investimentos que não tiveram qualquer retorno”.

Quando em 2013 é feito o registo patrimonial do CRIA, refere Humberto Lopes que a banca garantiu que a instituição estava em condições de fazer um novo empréstimo e foi isso que fizeram, ficando acordado entre as partes o pagamento da dívida ao banco durante 84 prestações. “Foi isto que foi acordado. Agora se isto foi um mau negócio e originou problemas atuais, eu digo que não há nenhuma IPSS que viva facilmente”, considerou.

Humberto Lopes acusa Nelson Carvalho de não falar a verdade

Sobre o lar e o Centro de Atividades Ocupacionais (CAO), Humberto Lopes acusa Nelson Carvalho de não falar a verdade sobre a não realização de 2 ME em dez anos: “O senhor diretor do CRIA vem-nos dizer que nós deixámos de receber durante 10 anos cerca de 2 milhões de euros e isto não é verdade. Isto é faltar à verdade e é induzir as pessoas em erro e em engano, porque a Segurança Social nunca permitiu que um utente fosse comparticipado por duas valências”.

“Quando nós abrimos o lar residencial em 2007, todos os utentes do CAO que passaram para o lar residencial, deixaram de ser comparticipados pelo CAO obrigatoriamente. Apesar de nós insistirmos que não era correto, a Segurança Social nunca permitiu isso. Se agora o permite, eu folgo muito”, disse.

Sobre o aumento de 10% nos salários de 2013 para 2014 aprovados pela sua direção. Humberto Lopes esclareceu que foram aumentados somente os cerca de 7 ou 8 diretores técnicos da altura e que a medida foi implantada devido a um processo de certificação alcançado.

“O CRIA estava num processo de certificação da qualidade onde era exigido um trabalho extraordinário aos respetivos diretores técnicos. Trabalho esse que não era recompensado. Devo dizer que se trabalhava naquela casa até às 3 ou 4 da manhã sem se pagar horas extraordinárias para obtermos o diploma de certificação. Os diretores estiveram envolvidos no processo durante 4 anos e não tiveram qualquer tipo de compensação. Trabalharam de dia e de noite. A direção entendeu que lhes devia dar uma compensação, e deu”, justificou.

Humberto Lopes adiantou ainda que “a compensação foi feita à diretora técnica e à diretora adjunta pelo trabalho que tiveram e porque chegaram a levar trabalho para casa. Tinham computadores pessoais dados pela instituição para trabalharem em casa”.

Questionado sobre os salários aplicados na altura no seio da instituição, Humberto Lopes defendeu que a diretora executiva “nunca auferiu 5.000 euros, nem nunca houve ninguém a auferir esse valor. Em segundo lugar, mesmo que a senhora auferisse 5.000 mil euros por mês, que talvez lhe fossem devidos e talvez os merecesse, não eram esses valores que a senhora poderia receber durante o ano que iriam complicar as contas do CRIA”.

“A senhora teve um processo disciplinar com vista ao despedimento que não foi feito. A senhora saiu por sua iniciativa do CRIA. Foi feito um acordo judicial e, por conseguinte, se eu comparar este processo a uma outra senhora, nas mesmas condições, o CRIA perdeu em tribunal e a senhora foi reintegrada. Estamos aqui a falar de “ninharias” em termos de processos disciplinares”, rematou.

“O CRIA não recebe só por parte do Estado”

Humberto Lopes garante que durante anos a instituição teve saldos positivos e que no seu entendimento a instituição deverá encontrar outras fontes de financiamento, para além dos acordos estatais, para pagar aos seus funcionários.

“Em 2012, tivemos um saldo positivo de 14.640 euros. Em 2013, tivemos um saldo positivo de 28 mil euros e em 2014 de17 mil euros. Eu pergunto se, com estas condições e com estes saldos, se há pessoal a mais?”, questionou o ex-presidente, vincando que “o CRIA não recebe só por parte do Estado. O CRIA recebe por parte do Estado, dos utentes, das famílias, através de donativos de instituições, recebe de vários lados... e compete às direções encontrarem outros meios financeiros ou de apoio”.

Por último, Humberto Lopes garantiu que deixou à direção liderada por Nelson Carvalho “onze propostas de empresas que foram aprovadas como sócias beneméritas pelo apoio quer financeiro, quer logístico que deram à instituição” e uma “proposta de um singular, que durante 2 anos, prestou trabalho voluntário no CRIA”.

“Via um futuro brilhante para o CRIA. Tínhamos uma classificação de excelência a nível europeu. Estávamos nesse momento a fazer o Benchmarking com outras instituições do país e íamos começar a fazê-lo a nível internacional para podermos ser certificados como uma instituição recomendável a nível europeu”, recordou.

O responsável terminou fazendo uma homenagem ao engenheiro Bioucas, com quem trabalhou na instituição, pediu que o logótipo antigo do CRIA fosse recuperado e disse esperar que um dia “o CRIA possa voltar a ser o que era antes de 2015”.

 

*Para ouvir a entrevista a Humberto Lopes na totalidade, esta sexta-feira, no alargado do 12h00, com reposição às 18h00.

 

Notícia relacionada:

https://www.antenalivre.pt/noticias/abrantes-cria-nao-consegue-pagar-salarios-na-integra-nelson-carvalho-admite-exaustao-total/

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