Maria Helena Silva, ou para os amigos apenas Lena Silva, é dona de uma voz poderosa e foi a primeira voz feminina a ouvir-se aos microfones da RAL. Tinha na altura 15 anos. Em conversa com o Jornal de Abrantes, a Lena confessa que se sente feliz por ainda hoje a conhecerem como “A Lena Silva da RAL”…e recordou aqueles tempos…
Quando falamos em 21 de Janeiro de 1981, qual é a primeira ideia que te vem à memória?
Saudosismo e, claro, o aniversário da Rádio Antena Livre. Por incrível que pareça, nunca mais esqueci essa data. Os anos passam mas as memórias do que realmente vivíamos na rádio ficam para sempre. Éramos como uma família e sentíamos que éramos uma companhia para quem estava do “outro lado”, nos ouvia diariamente, participava nos nossos passatempos, assistia todos os anos às nossas galas, lotando o Cine Teatro S. Pedro. Não só para nos ver como também para poder assistir a grandes espetáculos musicais com grandes artistas do panorama musical português, como também artistas amadores da nossa região.
Foste a primeira voz feminina da RAL e não havia ninguém que não te conhecesse pela grande voz que tens. Como foi ficar com “esse peso” na história da RAL? Porque ainda hoje, quando se fala em ti, é isso que se diz: “a 1ª voz”…
Sim, comecei na Rádio Antena Livre com apenas 15 anos, a convite de Manuel Sousa Casimiro que pelo fato de sermos da mesma aldeia (Arreciadas) e já me ter visto fazer teatro infantil, achou que tinha uma boa colocação de voz e um à vontade para comunicar e seria uma mais valia para a rádio terem uma voz feminina.
Não considero que seja um “peso”, mas sim, sinto-me feliz por ainda hoje se lembrarem da minha voz e por ainda me abordarem na rua como a “Lena Silva da Ral”. É sinónimo que os nossos programas e a nossa voz “chegavam” às pessoas, sendo muitas vezes a única companhia que tinham.
“A discoteca do ouvinte” foi um dos ex-libris da programação da RAL, programa de discos pedidos por cupão ao qual davas voz com o Manuel Sousa Casimiro. Que memórias guardas desses tempos em que eram o elo de ligação entre famílias através da música e das mensagens?
Tal como o slogan dizia “Discoteca do ouvinte, onde o ouvinte solicita e nós passamos”, era isso mesmo. Quando se falava na RAL, falava-se na Discoteca do Ouvinte. Foi o primeiro programa em que dei voz com o Manuel Sousa Casimiro, que para mim foi o “Maior locutor de sempre”, com uma voz inesquecível que guardarei para sempre na minha memória. Foi ele que me ensinou tudo, pois eu era uma adolescente de apenas 15 anos, a falar para um microfone pela primeira vez.
Foi um programa que esteve no ar durante muitos anos… lembro-me de já estar na faculdade em Lisboa e vinha a casa todos os fins de semana, não só, mas também, para fazer a “Discoteca do ouvinte”.
Em plenos anos 80, onde não havia telemóveis que surgiram em Portugal apenas nos anos 90, nós, claro que éramos o elo de ligação entre famílias. Através das mensagens que eram escritas nos cupões que disponibilizávamos e que permitiam, além do ouvinte poder ouvir a música preferida, a poder também dedicar por exemplo a quem mais ama, a um familiar pelo aniversário… no fundo, éramos os intermediários da troca de mensagens de carinho entre famílias e amigos e isso fazia-nos sentir felizes e realizados com o que estávamos a fazer. Daí que tenha sido o programa que, tal como disse há pouco, mais anos esteve no “ar”.
Tiveste ainda um outro programa com a Elisa Beirão, “Por detrás da vidraça”, que na altura foi bastante popular.
Sim…era um programa especialmente dedicado às mulheres, feito de mulher para mulher, comigo e com a Elisa Beirão. Ia para o “ar” ao sábado à tarde, com variadas rubricas desde receitas de culinária a pequenos conselhos práticos, recordávamos mulheres célebres, entre muitas outras rubricas. Foi um programa bastante popular, pois se pensarmos nos anos 80/90, a “telefonia” era a companhia da maior parte das pessoas, principalmente das mulheres que eram donas de casa e este programa era feito especialmente para as mulheres e tentávamos sempre que possível dar-lhes voz.
Fizeste rádio ainda durante muitos anos
Fiz rádio durante cerca de 17 anos e fiz de tudo, desde spots publicitários, jingles, para além dos programas referidos anteriormente, fiz também um programa intitulado “60/70 anos d’ouro” onde só passava música desses anos. Participei também no programa infantil feito pelo professor Rui Cabral, intitulado “A Loja da Pequenada”, onde eu lia pequenas histórias para os mais pequenos, entre outros…
Tens saudades? Pensas um dia voltar?
Perguntas se tenho saudades…Eu não consigo explicar bem o que sinto sabes…sinto que a rádio que eu e os meus colegas fazíamos é muito diferente da rádio que se faz agora. Mas claro que sinto saudades, apesar de não me ver a voltar a fazer rádio novamente, já passou o meu tempo.
Que mensagem deixarias a todos aqueles que nos dias de hoje tornam possível que a rádio aconteça?
Desejo a todos quantos tornam possível que a rádio aconteça, principalmente os colaboradores atuais, que façam com que a Antena Livre continue a ser ouvida cada vez mais e continue viva, que não deixem nunca “morrer” a “Nossa” Rádio Antena Livre.
Paulo Delgado