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Entrevista/Cónego José da Graça:“Aquilo que faço a um, faço a todos”

5/07/2017 às 00:00

O cónego José da Graça, 74 anos, natural de Arneiro, concelho de Nisa, está a celebrar 50 anos de sacerdócio.

O Conselho Pastoral das Paróquias de São Vicente e São João está a promover a celebração das suas Bodas de Ouro Sacerdotais com um conjunto de iniciativas.

À Antena Livre o Cónego faz um balanço destes 50 anos, dá a conhecer projetos futuros e deixa algumas confissões.

 

O que o motivou a seguir a vida de padre?

Foi uma opção de vida, uma decisão pessoal. Considero que esta opção é fruto de uma escolha que manifesta uma proteção de Deus.

Nasci numa terra onde não havia frequência religiosa. Não havia nada. Enquanto criança nunca tive catequese, nunca ia à missa. Entretanto, comecei a ver algumas pessoas mais ligadas à igreja. Devido à ligação com essas pessoas, comecei a dizer que queria ser padre. Os meus pais não me impediram. Fui para o seminário aos 12 anos. Mesmo assim era difícil ir à missa, porque na minha terra não havia e eu, se queria ir, tinha de me deslocar para o Fratel. No inverno era muito difícil atravessar o Tejo. Todavia, nunca deixei de ir à missa e comecei a fazê-lo com gosto. Foi um caminho de trabalho e de esforço, mas feito com gosto, alegria e muito motivado por mim. O meu percurso de seminário iniciou no Gavião, depois em Alcains e Portalegre.

Como é que acontece Abrantes na sua vida?

Abrantes não foi uma escolha minha. Fui nomeado pelo Bispo para exercer aqui o ministério da vida sacerdotal, em 1985.

Qual é o balanço que faz destes anos de estreito contacto com a comunidade abrantina?

Desde o princípio senti que poderia realizar um trabalho significativo aqui. Já conhecia a cidade, já tinha dado aulas por cá de Religião Moral. Iniciei o meu trabalho e fui conhecendo a cidade, as pessoas, fui realmente ajudando a despertar para aquilo que eu sentia que era absolutamente necessário. Reconheço que as pessoas foram aderindo às minhas propostas pastorais. Isso dava-me grande vontade de prosseguir com a minha atividade de padre, mas de fazer mais e melhor.

No seu entendimento, quais são as maiores virtudes e defeitos da comunidade abrantina?

Creio que esta comunidade abrantina empolga-se diante de projetos que reconhecem que vale a pena apostar. No aspeto religioso e pastoral, há pessoas muito interessadas e preocupadas pelo crescimento e desenvolvimento da comunidade. Aquilo que eu tenho feito, e tenho convidado os demais a fazer comigo, tem sido bem-sucedido. Mandar não chega. Se formos numa posição conjunta e nos sacrificarmos, como pedirmos também sacrifício, conseguimos que a comunidade se envolva.

No passado, esta cidade tinha uma determinada classe de pessoas que dirigiam isto tudo. Os padres eram de algum modo subservientes dessas pessoas. Isso hoje em dia já não acontece. Eu nunca me senti subserviente de ninguém, nunca procurei tratar mal ninguém e nunca favoreci ninguém. Aquilo que faço a um, faço a todos. Esta cidade não estava habituada a isso, estava habituada a privilegiados. Contudo, nunca deixei que ninguém se intrometesse nas minhas decisões e opções pastorais.

Deixa obra feita. Quais foram os projetos mais estruturantes que realizou? Aqueles que lhe deram mais trabalho, problemas e gozo?

Quando inicio um projeto, considero-o como se fosse um filho. Dou-me a ele “de alma e coração”. Olho para ele como se fosse estritamente necessário e a partir daí não há reticências e dificuldades. Há o gosto e a humildade da concretização.

Um projeto que exigiu muito de mim, que foi uma resposta social, foi o Projeto Homem. Tive de realizar um curso de terapeuta em Madrid, conciliando com atividade de pároco. Hoje, é um projeto consolidado, mas a problemática da droga é hoje muito mais difícil. Naquela altura, um rapaz ou uma rapariga chegavam ali terrivelmente destruídos e depois sentíamos que eles renasciam. Hoje, o problema põe-se numa dimensão diferente. A grande maioria dos utentes são dependentes de doenças. Por mais que queiramos tratar da libertação do seu mal, eles já não são capazes. Agora dá-me gozo voltar a dar-lhes alguma qualidade de vida. Outros projetos que fiz como o Centro de Acolhimento para Crianças em Risco, o lar, a creche e jardim-de-infância, o serviço de apoio domiciliário e a loja social também tiveram a sua importância.

Em que ponto está a Unidade de Cuidados na Comunidade e a nova igreja prevista para a Encosta da Barata?

O projeto da Unidade de Cuidados na Comunidade já foi aprovado na Câmara Municipal e aguarda apoio comunitário para arrancar. A igreja é um projeto morto. O projeto está elaborado, simplesmente os padres desta zona entenderam que não se justificava outra igreja em Abrantes e manifestaram uma posição contra. Aquela zona da cidade carece de uma igreja porque é ali que está o maior número populacional. É um projeto que fica na gaveta, com muita pena minha, e que duvido que se concretize no futuro. Fico revoltado e no meu entendimento isto é não querer trabalhar.

E já tem previstos outros projetos futuros?

Sim. Adquirimos um novo espaço que foi o Convento da Esperança, junto ao Colégio de Fátima. Gostaria de criar ali um centro cultural e um centro pastoral para dar outra resposta às catequeses, a toda a formação religiosa, com um auditório e com outros espaços multiusos para a comunidade em geral. Um espaço que terá de ser todo remodelado e que deve representar um investimento de cerca de 700 mil euros. Ainda gostaria de dar uma nova resposta no campo social, com a valência de lar e no campo da formação religiosa. Este projeto será para concretizar na Chainça, num terreno que é pertença da paróquia, contíguo à antiga escola e à igreja. São projetos já adiantados e que quero iniciar para breve.

Como encara a mobilização da comunidade para a celebração das suas Bodas de Ouro Sacerdotais?

Na celebração dos 50 anos de padre queria apenas uma eucaristia e ficaria reduzido a esse ato, portanto ao ato de louvor a Deus. Depois, fizeram-me a proposta de um convívio. Optei por realizar a missa, às 16h00, seguida de um convívio aberto a toda a comunidade. O evento acontecerá no Convento da Esperança, no espaço exterior, dia 9 de julho. É com agrado que vejo esta mobilização da comunidade.

No seu entendimento, o que tem sido o Papa Francisco para a igreja e para o mundo?

Penso que quem olha para o papa vê um homem próximo, um pastor. É como se fosse um padre da aldeia que conhece toda a gente, próximo, amigo, que ajuda todos. Um papa da proximidade, que não deixa de dizer as coisas e di-las com veemência. É disto que a igreja precisa. Deus escolhe o papa para os momentos próprios.

Joana Margarida Carvalho

Uma entrevista para ouvir na Antena Livre esta quinta-feira, dia 6, no alargado do 12h00, com reposição às 18h00.

 

 

Programa festivo:

Dia 9 de julho, às 16h, na Igreja de São Vicente, Eucaristia em Ação de Graças pelos 50 anos de Sacerdócio.

No final haverá uma tarde de convívio, no Salão da Esperança, com animação pelo Grupo de Jovens das comunidades.

 

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