José Martinho Gaspar, é natural de Água das Casas, tem 51 anos de idade, é licenciado em História e mestre em História Contemporânea, dirige a revista Zahara e o Centro de Estudos de História Local de Abrantes. Venceu o concurso literário do Lions Clube com uma novela de 150 páginas com o título “Vidas por Fios”. Recebeu o cheque de 2.500 euros e, quem sabe, a possibilidade de poder editar em livro. Já tem várias obras premiadas e outras publicadas. Não esconde a vontade de escrever um texto mais pesado. O romance poderá estar a caminho.
O que começou primeiro, o gosto pela escrita ou o gosto pela história, pela investigação?
Talvez tenham começado em simultâneo. Em termos de trabalho comecei pela história e história local e depois acabou por aparecer a escrita literária e ficcional. A escrita de história apareceu na sequência da formação académica, do mestrado e depois da criação do Centro de Estudos de História Local de Abrantes (CEHLA). Depois, a escrita, os contos, começou há 12 anos, no âmbito do Sindicato de Professores da Região Centro surgiu um concurso literário sobre a vida dos professores. Concorri, ganhei nessa altura e continuei a escrever contos.
Quando começou a escrever foram textos de história, história local?
No mestrado escrevi um livro, publicado, sobre os discursos de Salazar. É de história nacional e a partir daí tenho escrito muito sobre história local.
E como é que o investigador passa para os contos, pela necessidade de manter vivas algumas tradições de aldeia?
Sempre tive um gosto especial pela leitura e pela escrita. Foi experimentar e apareceu esta possibilidade de fazer alguns contos. No início acabei por fazê-los no âmbito de concursos literários e não para ganhar, embora tenha acontecido meia dúzia de vezes. Mas acima de tudo acabam-me por fazer escrever para participar, quando estão na área temática que me interessa. E levam-me às minhas memórias. Os contos que escrevo são ficcionais mas remetem muito para o mundo rural, para as minhas memórias...
… ser natural de Água das Casas, uma aldeia pequenina no norte do concelho, teve peso nos primeiros contos?
Naturalmente que sim. Tenho dois livros publicados com 24 ou 25 contos e muitos outros por publicar. É uma visão deste nosso tempo em relação a um passado. É olhar para o mundo rural, questionando-o, valorizando aspetos que se estão a perder, recuperar algumas tradições que de outra maneira não ficam registadas. E esta ficção é uma forma de deixar algum património imaterial registado. Haverá outras formas, mas esta foi outra que encontrei para o fazer.
Quando e porque é que passou dos contos para a área da novela, romance, ficção?
Aconteceu com naturalidade. Depois de alguns contos, lancei a mim próprio o desafio de escrever um texto com outra dimensão. Concorri com este trabalho (Vidas por Fios) à categoria de romance do Concurso Literário do Médio Tejo. Curiosamente nesse ano não houve prémios atribuídos. Percebi que não era um romance, era uma novela e depois de uma conversa com a Patrícia Fonseca voltei ao texto. Enriqueci-o e agora ganhei, com ele, este concurso do Lions Clube.
São já vários prémios com contos. Agora a novela também é premiada. O que é que significa este prémio nacional do Lions?
Os prémios são importantes, têm a componente monetária, mas têm sempre o feedback do trabalho, o reconhecimento. E têm a outra possibilidade de abrir portas para publicar os livros. Naturalmente, gostaria de chegar a uma editora com nome, com outra força e creio que estes passos que estou a dar me permitem chegar aí.
Este “Os dias do fim” são 150 páginas. O que é que se segue?
Este foi o texto mais extenso. Agora que passei mais uma etapa vou arriscar num romance. Mas não digo que seja daqui a um ano ou dois. Tenho outros trabalhos. Implica mais trabalho, outra construção, muita investigação. Um conto é um processo mais curto. Creio que, se tudo correr bem, poderei ir por aí, escrever um romance.
“Os dias do Fim” vão ser editados em livro?
Estou convencido que sim. Foi ontem (dia 23 de junho) a entrega do prémio em Coimbra. O próprio Lions deixou essa possibilidade de poder vir a ser publicada. E é esse o caminho, porque quando fazemos edições pequenas chegamos a poucas pessoas e gostava de chegar mais longe, a mais pessoas.
E a investigação de história fica mais de lado ou corre em simultâneo com a ficção?
Tenho tido a possibilidade de coordenar a revista Zahara e o CEHLA e, por isso, tenho feito alguns trabalhos de história local. Tenho encaminhado a minha área de ação mais para entrevistas, para coisas do nosso tempo. Mais do que estar a investigar, estar no arquivo, tenho feito estas entrevistas. Não quer dizer que não venha a produzir mais coisas na história local. Tenho aí uma ideia de uma monografia.
Quais são os autores (nacionais e estrangeiros) marcantes?
A nível nacional José Saramago e Miguel Torga. São autores que dão conta deste mundo que está a desaparecer. Tenho dado uma atenção especial aos autores premiados em Portugal como o João Pinto Coelho ou Ana Margarida Carvalho. Posso referir Dulce Maria Cardoso e José Luís Peixoto. Lá fora não tenho acompanhado os autores emergentes mas Gabriel Garcia Marquez ou Dino Buzzati, porque criou um imaginário que faz com que olhemos para o mundo que nos rodeia. José Eduardo Agualusa, Luís Sepúlveda. São alguns exemplos, apesar de ler muita coisa. Procuro bons livros com boas críticas.
Jerónimo Belo Jorge