José Alves Jana, um dos fundadores do Clube de Filosofia, explica a importância de se debater o tema do próximo livro a ser apresentado, “Média, Informação e Democracia”, de J.M. Nobre-Correia
‘’Clube de Filosofia’’, tal como o nome indica, é uma associação onde se juntam pessoas para abordar um assunto que está sempre presente no quotidiano, a Filosofia. Este clube foi fundado em Abrantes por quatro pessoas. Entre elas encontra-se o professor José Alves Jana, que explica como funcionam as escolhas dos temas abordados no “Café com Letras’’, o momento criado por este clube para se conversar sobre livros. Este professor reformado, que ao longo dos anos se tem vindo a envolver em várias atividades em prol da comunidade, nomeadamente na área da Cultura, resume a essência das sessões que o Clube de Filosofia tem vindo a organizar: “Nós achamos que ali pensamos coisas importantes, os livros que nós escolhemos ou que outras pessoas escolhem são livros importantes.” O próximo será “Média, Informação e Democracia” e conta com a presença do autor, J.M. Nobre-Correia. Sessão aberta, como sempre, a quem quiser participar, às 21h30 da próxima terça-feira, 28 de maio, no Espaço Sr. Chiado, junto à Câmara Municipal.
Qual a importância do livro “Média, Informação e Democracia”?
A informação é hoje um componente fundamental da democracia, sempre foi, mas também é hoje um componente fundamental do ataque à democracia. Nomeadamente através dos Média, digo eu, que ando com os olhos um bocadinho abertos. Portanto, não há nenhuma razão para um tema destes ser posto de lado.
Como foi escolhido este livro para ser apresentado na próxima sessão do Clube de Filosofia?
Este livro foi-nos sugerido. Havia alguém que estaria disponível para cá vir e nós aceitámos. Não havia nenhuma restrição, as nossas restrições são sobretudo de calendário. Havia tempo disponível e, portanto, nós organizamos a sessão.
O livro eu não conheço, mas o tema é da maior importância. O autor foi professor numa Universidade na Europa e há de ter alguma coisa a dizer sobre isto. Não há nenhuma linha orientadora de pensamento em que o clube pegue. Aquele é um local de encontro onde todas as exposições têm o legítimo direito de entrada.
Como é que surgiu o projeto do ‘’Clube de filosofia’’?
Uma vez, à tarde, depois de almoço, estavam três ou quatro velhos filósofos, ou seja, aposentados, ali no largo do Chave D’Ouro. Como tínhamos uma larga experiência de intervenção e estávamos já sem dar aulas, achámos que podíamos continuar a fazer qualquer coisa por esta terra com a Filosofia. Daí surgiu a ideia de se fazer um Clube de Filosofia e de fazermos qualquer coisa.
E porquê a área da Filosofia?
Porque todos nós temos essa ‘doença’ desde pequeninos, ou seja, todos nós fomos professores de Filosofia, portanto, é a área em que trabalhávamos. Uma das pessoas dessas quatro pessoas tinha sido professor universitário, não na área da Filosofia, mas na das Ciências da Educação, mas era formado em Filosofia, também.
E como é que é feita a escolha e a organização dos temas que são debatidos no Clube de Filosofia?
O elemento que era das Ciências da Educação já saiu e foi substituído por uma rapariga nova, acabadinha de sair do forno da universidade. Entre nós perguntamo-nos: “O que é que vamos fazer?” Ou então: “O que está cada um de nós disponível para fazer ou para conversar?” Também recebemos propostas de fora. Desde o início que estamos abertos a que qualquer pessoa nos submeta uma proposta. Ainda recentemente recebemos duas propostas.
O que é que o clube pretende acrescentar à cidade?
Um local e um tempo onde se pode pensar entre as pessoas que lá forem. Nós achamos que ali pensamos coisas importantes, os livros que nós escolhemos ou que outras pessoas escolhem são livros importantes.
É um espaço onde qualquer pessoa pode falar dentro da organização, como é evidente. Não devem falar duas pessoas ao mesmo tempo e há tempo para falar e tempo para ouvir, mas isso compete-nos a nós moderar. Mas também estamos disponíveis a que outras pessoas possam moderar. É um sítio onde se pode pensar livremente onde pessoas de várias correntes dizem e falam livremente. Ninguém é condenado por dizer aquilo que pensa e eu acho que isso é muito importante, é mesmo o mais importante.
Ainda recentemente falámos de um livro que deve ser, eu diria, de leitura obrigatória porque o tema é da maior importância. Trata-se do “Homo Creator”, de Edward Wilson, que traz momentos de reflexão da maior importância e, portanto, este é um serviço que o “Clube de Filosofia” presta à região, porque temos pessoas que vêm de Tomar, do Entroncamento, do Sardoal e não sei se de mais algum lado.
Como é que recomendaria o clube?
O nosso lema é “Pensar entre nós ou uns com os outros”. Quem gosta de pensar e gosta de pensar com outros, e não tem medo de pensar com outros, tem ali um lugar apropriado.
Que autor, de qualquer parte do mundo, escolheria para uma destas sessões?
Eu diria, à partida, qualquer autor e qualquer obra que não fosse fútil. Mas até uma obra fútil pode ser objeto de grandes reflexões, certo? Nós temos tido ali livros de todo o modelo e feitio. Por exemplo, no Sardoal, pensámos a partir de um conto de Sophia de Mello Breyner, “A viagem”, que é, seguramente, embora uma obra literária, mas também uma obra de profunda reflexão filosófica. Então, por que não? Qualquer livro é importante e eu escolheria aqueles que mais gosto.
COMO SÃO AS SESSÕES DO CLUBE DE FILOSOFIA
Nas primeiras terças-feiras do mês, há o Café Filosófico, no Espaço Sr. Chiado, em Abrantes.
Nas terceiras terças-feiras do mês, há o “Voltar aos Clássicos”, no Centro Cultural do Sardoal.
Nas últimas terças-feiras do mês, há o Café com Letras, no Espaço Sr. Chiado, em Abrantes.
São sessões que se iniciam às 21h30 e que duram, em média, duas horas. Quando o autor está presente, é ele quem começa por falar sobre a obra. Se não está presente, alguém faz a apresentação do livro em questão. Depois é só aplicar o lema do Clube de Filosofia: “Pensar entre nós”.
Texto: Alexandra Santos, aluna de Comunicação Social da ESTA