À porta de mais uma Feira de Enchidos, Queijo e Mel, que vai já na 30ª edição, Ricardo Aires, presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei, apresentou as novidades e preocupações do concelho mais central de Portugal. Da falta do cadastro florestal que persiste, à necessidade premente de aumentar a população, passando pelas novas empresas que vão investir no concelho. E depois, entre a feira e o turismo, um piscar de olho a quem percorre a Estrada Nacional 2.
Quais as novidades deste ano da Feira de Enchidos Queijo e Mel?
A Feira todos os anos tem uma pequena novidade, para melhorar a exposição, para ter uma melhor visão do que nos anos anteriores. Todos os anos fazemos questionários aos participantes e daí vamos ter, aqui, uma segunda rua com stands. No local onde estavam os divertimentos, os carrinhos de choque, vamos ter mais stands e, daí, vamos aumentar o número de presenças. Vamos aumentar, ligeiramente, os stands e queremos dar mais vida aos expositores que fiquem naquela zona.
E uma abrangência grande nos espetáculos musicais?
Sim. Tem uma grande abrangência em todo o tipo de público. Dos mais pequeninos aos “mais grandes”.
Vila de Rei continua a duplicar a população nesta altura do ano, com emigrantes e residentes fora do concelho?
A Feira, para nós vilarregenses, é um marco para estarmos com as nossas famílias e com os nossos amigos. As pessoas marcam férias neste período, na sua terra. É um marco para termos uma reunião familiar dos vilarregenses, confraternizarmos e para dar a conhecer os nossos produtos. Quer no artesanato, quer nas empresas.
Como correu a campanha de recenseamento para aumentar população?
Aí sou um presidente que ainda não está satisfeito. Um presidente que está a fazer um apelo à população, principalmente, de segunda habitação. Ainda não chegámos aquilo que queria. Mas os vilarregenses que amam a sua terra têm de olhar para esta questão.
As pessoas têm a noção exata do pedido para se recensearem em Vila de Rei?
Penso que estão a ter. Sabe como são as pessoas. Querem estar bem aqui e além. Mas não pode ser assim. No futuro, a próxima Câmara vai ter de olhar para esta questão de outra forma, como outras câmaras já fazem. Não quero, mas no futuro...
...de que forma?
… se calhar com processos simples. Uma pessoa quer fazer um requerimento. Se for recenseado faz, se não for não faz. Não quero fazer isto, mas se os níveis que pretendemos não forem atingidos vamos ter de fazer isso e espero a compreensão dos vilarregenses porque só estamos a defender Vila de Rei.
E como está o processo do Cadastro Florestal do concelho, inexistente no concelho?
O Cadastro Florestal já é falado por mim há muitos anos e, infelizmente, em 2017 antes dos incêndios desse ano falei com o secretário de Estado da Valorização do Interior. Aqui, na zona, somos o único concelho que não tem cadastro florestal. A sul, do lado de Santarém, Ferreira do Zêzere, Mação e Sardoal já têm cadastro há muitos anos. Em Castelo Branco a Sertã já está a fazer e nós somos uma ilha. Sem cadastro, quer dizer que os outros estão a fazer ordenamento e nós não. Somos um perigo para nós e para os vizinhos, que estão a fazer o seu ordenamento.
Qual a solução?
Estou à espera. Soubemos há uma semana, pela comunicação social, que o Governo quer replicar o cadastro a todos os concelhos do país. Mas oficialmente não sabemos de nada. Mas já deveríamos ter cadastro há muitos anos. É inconcebível que quem estuda o território deixe esta ilha [Vila de Rei] de lado.
A Zona Industrial do Souto está em alargamento. Qual é ponto de Situação?
Temos a obra praticamente realizada. Faltam 10% da obra que teve um investimento de 800 mil euros. Estamos com a obra findada para irmos, internamente e fora do nosso país, mostrar as nossas condições para instalação de novos empresários ou para consolidar os que já cá existem.
E há novos empresários a caminho de Vila de Rei?
Neste momento posso dizer que existe um novo empresário suíço que tem a patente de material de construção ambiental. Posso dizer que vai ficar instalado num armazém desocupado, junto à Fundação João e Fernanda Garcia, e em que que a Câmara teve um papel fundamental pois ajudou a desbloquear a situação do imóvel junto da Caixa Geral de Depósitos. Conseguimos desbloquear o processo. É um investimento de 3 milhões de euros, ainda não sei dizer quantos postos de trabalho. Será um investimento a ter corpo em 2020.
E em relação ao investimento israelita na fábrica de Canábis?
Há uma luz ao fundo do túnel. Espero que em setembro haja a licença do Infarmed para que a empresa possa começar a laborar. A Cann10 vai ser uma realidade em 2020. Vais ser um ano muito importante para Vila de Rei e para a região. Aliás, a Cann10 é uma empresa que não existe na região e vai ter algum significado em termos de trabalho qualificado que nas nossas empresas não existe.
E o turismo, a Rota da Estrada Nacional Nº 2 tem sido uma aposta. Tem tido resultados? Mais visitantes?
Vila de Rei foi um dos primeiros municípios a aderir à Associação de Municípios da Rota da E.N. Nº 2. E esta associação tem um projeto já aprovado para colocar em todo o percurso o mesmo tipo de sinalização. Estamos a tentar ter a mesma tipologia de sinalização em toda a extensão, mas o entrave é haver troços municipais e troços da Infraestruturas de Portugal. E a ser feito, tem de ser igual em todo o percurso. Aqui, em Vila de Rei, viemos a ganhar. Temos 40 quilómetros de E.N. Nº 2 e temos pessoas que não conheciam as nossas praias fluviais, o nosso passadiço do Penedo Furado e passaram a conhecer. O mesmo acontecendo com o Centro Geodésico de Portugal, muitas pessoas não o conheciam. E ao mesmo tempo a economia local tem crescido. Tenho de destacar os nossos restaurantes que têm sido ótimos parceiros e têm aumentado a promoção da nossa gastronomia.
* Esta entrevista foi realizada antes dos incêndios florestais que assolaram os concelhos de Vila de Rei, Mação e Sertã.
Jerónimo Belo Jorge