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Miguel Borges sobre a Semana Santa: “Um momento de introspeção, de humilde, na arte de bem receber”

17/04/2019 às 00:00

"Esta festa é das pessoas, para as pessoas e são as pessoas que a fazem"/Fotos Paulo Sousa 

Vem aí mais uma Semana Santa e Miguel Borges, presidente da Câmara Municipal, conta-nos como é que Sardoal se está a preparar para um dos momentos mais importantes do concelho. O autarca realça o envolvimento de todos na arte de bem receber, numa semana onde a fé e a religiosidade são premissas básicas, mas o turismo e desenvolvimento económico também. 

Vem aí mais uma Semana Santa. De que forma Sardoal se prepara para este momento?

Estamos na Quaresma e esta vertente de turismo e desenvolvimento económico não pode estar separada da fé e da religiosidade.

A essência deste momento é a fé e a religiosidade por isso, começamos toda esta preparação com o acompanhamento das cerimónias religiosas, com os próprios retoques necessários a fazer nas capelas para que possamos receber bem as várias pessoas e com a articulação entre as várias irmandades - a Santa Casa da Misericórdia, a Fábrica da Igreja ... Depois, também vamos levar a cabo todas as reuniões preparatórias com todos aqueles que ao longo destes anos têm vindo a desenvolver os tapetes nas diferentes capelas.

Denota-se a presença dos jovens no evento?

Curiosamente, aquilo que verificamos é que cada vez há mais jovens a participar por exemplo na realização dos tapetes de flores.

Há uns anos, os jovens não estavam a participar neste tipo de trabalho. Nessa altura, como professor e como coordenador do Departamento de Expressões, propus aos meus colegas que fizéssemos o chamado - Projeto Capela. Um Projeto que já tem cerca de 19 anos e que se prende com uma sensibilização aos jovens sobre estas tradições.

Para este maior envolvimento dos jovens, o fator familiar é muito importante. O prolongar da tradição que o avô/avó faziam pesa sempre. Depois, neste aspeto, temos de falar no importante papel que as associações têm.

A concretização dos tapetes de flores nas diferentes capelas em todo o concelho foi também um fator que determinou este maior envolvimento. Por isso, é importante que este envolvimento assim continue e é bom que continuemos a ter esta adesão que a determinada altura verificámos que se estava a perder.

"Há mais jovens a participar por exemplo na realização dos tapetes de flores" - Miguel Borges

Quais as principais características desta festividade?

Para além das capelas enfeitadas, nós temos pontos altos que estarão presentes durante estes dias. Temos a Procissão dos Fogareús que é um dos nossos momentos altos, bem como destacar a procissão da Ressurreição do domingo de Páscoa, que não é uma procissão muito vulgar. Em Sardoal, aquilo que são os panos roxos, símbolos de tristeza, paixão e morte, dão lugar [no domingo de Páscoa] às cores garridas da Ressurreição.

Esta mudança é muito interessante. Para mim são os momentos mais interessantes. No entanto, para quem é crente todos os momentos de envolvência da Igreja são muito importantes. Não nos podemos esquecer que estamos a falar do momento “mais alto” da igreja Católica. Às vezes pensamos que é o Natal, e não é.

A Páscoa, a morte e paixão de Cristo e a Ressurreição são os momentos mais importantes da Igreja Católica.

E o envolvimentos das associações continua a ser uma constante?

Sem dúvida que pensarmos numa procissão sem a presença da Filarmónica, é impensável. Por isso, vamos ter a nossa Filarmónica a acompanhar as procissões, assim como o tradicional Concerto de Páscoa no dia 27 de abril.

O GETAS fará a Paixão de Cristo retratada em teatro de rua, que começa a ter alguma tradição nas nossas festividades e que se realizará no dia 20 de abril, às 16h00, com início na Praça da República.

Temos sempre também a vertente cultural. Para além da música e do teatro, iremos ter a exposição de uma artista plástica consagrada Emília Nadal. Um nome nacional das artes plásticas, que vai estar no nosso Centro Cultural a partir do dia 7 de abril.

Depois, vamos ter a exposição dos alunos com o Projeto Capela, no Espaço Cá da Terra. À semelhança de anos anteriores, teremos um passeio pedestre e o quiosque das amêndoas, sendo que há muitos anos era tradição, por esta altura, os namorados oferecerem amêndoas às namoradas.

O GETAS fará a Paixão de Cristo retratada em teatro de rua

Sente-se um clima de introspeção, próprio desta altura do ano?

Sem dúvida, sobretudo no final da tarde de quinta-feira até ao fim da noite de Sexta-Feira Santa. Realmente, é um cenário natural que propicia essa mística e introspeção e todo este ambiente que é respeitado por todos, mesmo aqueles que não são crentes. Ninguém é indiferente à Procissão de Quinta-feira Santa [Fogareús] quando as luzes são apagadas e a única coisa que temos são os archotes que acompanham a procissão. São momentos muito fortes na vida da nossa comunidade.

Os tapetes de flores são uma marca. Quem é que se envolve? Como está preparada a visitação este ano?

Tal como nos anos anteriores, sairá um programa específico na sequência daquilo que costumamos fazer. Iremos ter os circuitos específicos de visitas para quem quer fazer a visita pelas diferentes igrejas e capelas do concelho, o que tem resultado. Há sempre um número significativo de visitantes que acompanham este circuito.

Contamos fazer a abertura das capelas, a partir das 16h00 e estamos a aguardar a confirmação de um membro do Governo, sendo certo que já temos confirmada a presença do Dr. Pedro Machado, da Entidade Turismo Centro.

Uma presença assídua...

Porque o Turismo de Portugal valoriza e considera esta tradição como uma mais valia ou aposta estratégica naquilo que é a estratégia do Turismo Centro.

Qual a importância da envolvência da comunidade? Sem as pessoas nada disto faria sentido?

Esta festa é das pessoas, para as pessoas e são as pessoas que a fazem. Sardoal tem esta característica de bem receber e de um envolvimento constante das pessoas. Só pode ser assim para que as pessoas percebam que estas tradições são delas, porque são elas que se envolvem na construção de todo um programa e momento festivo. E assim, as coisas só podem resultar e podem ser melhoradas ao longo dos anos porque esta festa não é da Câmara, nem somente dos crentes, é de toda uma comunidade que vive um momento de introspeção, de humilde na arte de bem receber.

Com o Turismo Religioso a ganhar mais destaque, até onde pode ir em Sardoal?

Nós temos todos estes recursos e aquilo que é nossa obrigação como gestores desta casa [a Câmara] é tudo fazer para transformar estes recursos em produtos. Um produto de desenvolvimento económico.

Não podemos esquecer que a Secretaria de Estado do Turismo não está no Ministério da Cultura, mas sim, no Ministério da Economia. O Turismo é desenvolvimento económico. É a criação de postos de trabalho, é toda uma dinâmica que se cria. São momentos em que a nossa pequena economia local tem uma dinâmica e que a faz poder “respirar” em outros momentos menos bons.

O nosso grande desafio não é a realização da Semana Santa, porque as pessoas vêm visitar Sardoal. Vendemos todos os bilhetes, como eu costumo dizer. O problema é como é que potenciamos toda esta riqueza, todo este valor nos restantes dias do ano. É isso que estamos a fazer com o Centro de Interpretação da Semana Santa e do Património,que está a ser desenvolvido neste momento.

Como está esse Centro?

Neste momento, temos a decorrer a obra de construção civil, ou seja, a recuperação e o restauro da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

Para a produção de conteúdos temos uma candidatura feita ao Programa Valorizar no valor de cerca de 150 mil euros, que vai complementar este trabalho de recuperação patrimonial da Capela de Nossa Senhora do Carmo.

Também para nós é muito importante, é estrategicamente fundamental que consigamos convencer os nossos políticos da importância da sua colaboração na recuperação da nossa Igreja Matriz e com o pórtico da Igreja da Misericórdia.

A nossa Igreja Matriz, propriedade da Fábrica da Igreja, precisa urgentemente de ser recuperada. A Câmara, em articulação com a Fábrica da Igreja, está a desenvolver esforços para que na verdade os decisores políticos possam entender que têm de existir fundos comunitários para a recuperação deste património, que está entregue à Igreja, mas que é de todos, que é a nossa história e que é urgente perseverar.

Joana Margarida Carvalho

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