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“Tinha tudo para dar mal, mas… os próximos 10 anos podem ser os meus melhores 10 anos de empresário”

8/04/2017 às 00:00

Luís Correia Pires, 51 anos, empresário, natural de Tramagal. Sócio gerente das empresas Grão Café, que criou há 30 anos, da Trincanela, que criou há 22 anos com um irmão e outro sócio, e da Bemposto, o posto de combustíveis de Bemposta, que assumiu a título familiar. Foi fundador e primeiro presidente do BNI Estratégia e está à frente de um pequeno grupo empresarial de sucesso, pois conseguiu crescer apesar da crise geral. Sobre este percurso de 30 anos, quisemos saber… no preciso momento em que ele recebia a notícia de mais um bom contrato.

 

Como foi tornar-se empresário?

Desde miúdo, sempre gostei de atividade, lúdica ou empresarial. Fiz várias coisas até ser empresário: andei na apanha da maçã, talvez com 12 anos, no Tramagal, na apanha do tomate… Mas acima de tudo, a minha escola foi o armazém de mercearias de Roldão & Roldão Filhos, onde entrei a trabalhar nas férias, só que nunca mais saí de lá, desde os 16 anos. Ali passei por todos os setores da empresa, o que me deu alguma experiência para [em 1987], aos 21 anos, abrir a Trincanela. O meu irmão Adelino estava na Nestlé e soube que ia arrancar um grande projeto, para distribuidores do canal Horeca para o consumo fora do lar. As grandes empresas perceberam então que, para lá dos supermercados, no consumo quase nada estava a ser trabalhado em Portugal, e avançaram. Aproveitei a oportunidade: vendi o carro e comecei numa garagem com o apoio do meu irmão e dos meus primos.

 

Como foi a experiência?

Eu sempre fui de desafios. Não achei que iria ser uma coisa do outro mundo, porque já tinha feito tudo, tudo, não só no armazém de mercearias mas também numa gasolineira dos meus primos. Tive oportunidade de chegar a gerir esses negócios, em parceria com eles. Isso deu-me o background: era novo, mas tinha experiência e muita vontade. Não ia ao desconhecido. Começar do zero alguma coisa é desafiante, mas também gratificante. Também tive a sorte de estar a começar numa atividade que ainda não existia. Por isso o crescimento nos 10 primeiros anos foi exponencial: em responsabilidade, em número de pessoas e no volume de negócios.

 

As principais dificuldades?

Talvez ser muito novo, com a natural imaturidade. Embora fosse conhecido no meio, até confiarem em mim… tive de ganhar a credibilidade necessária. Por exemplo na banca. Embora tivesse por trás de mim uma grande empresa, a Nestlé.

 

E as principais alegrias?

No início, foi ver que as coisas cresciam exponencialmente. Eram, de facto, outros tempos. Como era uma área nova, foi mais fácil, embora com muito trabalho. Hoje, é ser responsável por um grupo empresarial com cerca de 90 pessoas. E ter ajudado a crescer tantas pessoas. Algumas que me acompanham, o mais antigo dos quais há 29 anos, outras há 25, há 20, há 12… e outras que saíram, espero que tenham ido para melhor, faz parte, mas levam algo na sua vida que foi trabalharem nas nossas empresas e comigo. O que conseguimos atingir, em termos de dimensão é um enorme orgulho, mas uma enorme responsabilidade. Tudo isto bateria certo se o meu grupo empresarial fosse sólido financeiramente. Não é. É um grupo credível, responsável, mas, sem segredos, com um endividamento significativo, embora equilibrado para a estrutura de negócio que tem. Mas o sonho de ser um grande empresário e não ter preocupações… não existe. Eu não o atingi. Por isso tenho um desafio. Chegar aos 50 anos de empresário. Primeiro, porque é um objetivo que me dá energia para continuar e ajudar a cumprir as minhas responsabilidades para quem acreditou em mim toda a vida. Depois, porque então conseguirei reformar a maioria das pessoas que dedicaram toda a vida às minhas empresas. É um desafio dificílimo, mas é um objectivo que me dá força para continuar.

 

Qual foi o segredo para crescer em tempo de crise geral?

Eu norteio-me pelos valores de saúde, felicidade e sucesso, sendo honesto, credível, para com a sociedade. Por ter passado, como se sabe, por situações familiares muito complicadas em termos de saúde, o caso do meu pai, que partiu bastante cedo, e o do meu filho, percebi que, entre as muitas batalhas e derrotas, temos de tentar sempre vencer. O meu filho venceu e deu-nos, a mim e à mãe, a força necessária para percebermos que, por muitas que sejam as guerras profissionais, as mais importantes são as que põem em causa a nossa saúde. Isso deu-me a força para relativizar as derrotas empresariais. E foi assim que continuámos a crescer. A Trincanela foi fundada quando os hipermercados entraram na nossa zona e nós estivemos presentes nos dois primeiros. Foi um acompanhar a mudança do mercado. Mas, como nem tudo são rosas, as coisas complicaram-se bastante, em 2005, há 12 anos: a Grão Café faturava 3,5 milhões e, por quebra de contrato por parte de uma grande empresa nacional, de um dia para o outro passou a faturar 2 milhões. Nestas circunstâncias, a maior parte das empresas fecha.

 

Não foi o caso.

Nós percebemos que, para crescer, tínhamos de continuar a investir e apostámos no espaço de S. Lourenço com um investimento de 600 mil euros. De novo, a 1 de Julho de 2005, éramos os primeiros num projeto que era muito mais vasto, com mais valências, do que acabou por ser. Foi nesse projeto que apostámos e no que Abrantes poderia vir a ser. Como não eram capitais próprios, juntou-se o cocktail perfeito para tudo correr mal. A única coisa que corria bem é que o meu filho tinha saído do tratamento, o que me deu energia para continuar a acreditar. Em 2007 o meu filho volta a adoecer e isso vem somar-se aos enormes problemas profissionais. Tinha tudo para dar mal outra vez, mas voltou a dar certo. Em 2009 o Francisco tinha vencido a batalha e a Grão Café adaptou a sua estrutura à nova situação e… Em 2011, rebenta a crise que traz a quebra de rendimento e de consumo, mas sobretudo a alteração das regras do jogo com a nova taxa do IVA. Entretanto o BNI veio ser uma escola de motivação e de formação. Então, eu assumi os negócios todos [como único sócio] e de então para cá, com tudo para dar mal, a Trincanela tornou-se mais forte e visível: tinha 8 espaços em 2011 e hoje tem 13, estávamos presentes em três cidades, hoje estamos em cinco: Torres Novas, Tomar, Abrantes, Castelo Branco e agora Entroncamento, no Bonito, onde estamos a testar com enorme sucesso uma nova resposta, que vamos trazer para S. Lourenço em Abrantes, a partir de 1 de Maio, onde voltamos a investir. Isto, com a alteração do IVA em 1 de Julho de 2016, faz com que, por fim, o vento sopre a favor para o grupo empresarial. Mas todo este processo está espelhado no tal endividamento que foi necessário fazer. Mas estou convicto de que os próximos 10 anos podem ser os meus melhores 10 anos de empresário. Apesar de não sabermos o que pode acontecer amanhã.

Alves Jana 

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