A Smartenergy, multinacional de capitais suíços, é uma das 14 empresas que apresentaram candidatura ao Fundo para a Transição Justa (FTJ). A empresa avançou com uma candidatura para a instalação de uma unidade de energia solar tendo em vista a produção de hidrogénio verde, num investimento de 25 milhões de euros.
A Smartenergy é um dos patrocinadores do Portugal Air Summit, que está a decorrer em Ponte de Sor, e para além deste projeto para Abrantes pode estar também na calha a criação de uma unidade em Ponte de Sor, nas proximidades do aeródromo, onde está instalado o cluster da aviação.
Para já a empresa suíça, com escritórios em Portugal e com serviços de concepção e execução de projetos na área da energia, assim como a candidatura a fundos comunitários como o PRR, tem vários projetos em curso.
De acordo com António Farmhouse, Commercial Manager H2 no Centro de Conhecimento da Smartenergy de Portugal “temos 7 parques solares em Portugal, três em produção e quatro em execução. Para além disso temos ligação com duas empresas, a Rewatt ligada ao auto consumo solar, e Muon, que é uma comercializadora de eletricidade.”
De acordo com este responsável “para além do solar e do eólico estamos agora muito focados no hidrogénio. Temos especialistas técnicos e engenheiros no nosso centro de competências em Portugal que trabalha para os escritórios de Espanha, Itália, Suíça e Alemanha.”
Complexo de produção solar da Smartenergy localizada no Mogadouro
O projeto previsto para Abrantes e que se enquadra no FTJ, mais propriamente em relação ao aviso “Apoio à diversificação económica para uma Transição Justa no Médio”, cujas candidaturas fecharam a 16 de setembro prevê a implantação numa área de 30,5 hectares, na freguesia de Alvega e Concavada, mais propriamente na zona do Casal Cortido, junto à Estrada Nacional 118. Consiste numa unidade de produção de hidrogénio verde com recurso às tecnologias da hidrólise da água.
A ideia, de acordo com Farmhouse, é produzir energia solar para criar o hidrogénio verde. “Esta é a grande diferença dos outros tipos de hidrogénio que já existem em Portugal, em empresas muito grandes como a Bondalti ou a Galp que precisam do hidrogénio para as suas unidades de produção e fazem hidrogénio cinzento e azul. Nós fazemos verde. Porquê? Porque ele tem uma proveniência de energias verdes.”
E depois acrescentou que “a conceção daquilo que é o nosso projeto em Abrantes consiste num parque solar de 17,5 megas de produção de energia solar e que tem aqui um Power Grid Connetion, ou seja, um ponto de injeção na rede porque ali passa o gasoduto. Terá um eletrolisador de dez megas com uma produção muito próxima de 600 toneladas/ano de hidrogénio verde.”
Ainda de acordo com este responsável este hidrogénio “pode destinar se ao ponto de injeção na rede. Ou seja, de acordo com a estratégia nacional, uma primeira fase prevê se que até 2026 possa ser colocado até cerca de dez por cento de hidrogénio como mistura do gás natural. Até 2030 será até perto dos 20% e até 2050 prevê se 80%. Isto porque a tecnologia também está a ser desenvolvida e a guerra na Ucrânia veio dar um estalido e acelerar toda esta tecnologia.”
E faz questão de explicar que os europeus estão a trabalhar afincadamente nesta fonte energética porque o hidrogénio será “um substituto” do gás natural: “temos que acreditar nisso e ter a nossa indústria a pensar nesta grande oportunidade.”
Para António Farmhouse é preciso notar que hidrogénio é financeiramente mais barato em comparação com esta escalada de preços da energia. Depois refere ainda que este é um processo semelhante aquele que aconteceu com as energias renováveis, nomeadamente com as eólicas. “Na altura não eram mais baratas que as outras, como as térmicas. Com o hidrogénio será a mesma coisa, mas a breve prazo teremos um hidrogénio mais barato e mais competitivo.”
António Farmhouse adiantou ainda que este projeto para o concelho de Abrantes representa um investimento global de 25 milhões de euros.
Recorde-se que este é um dos 14 projetos apresentados para a região do médio Tejo e um dos 4 para Abrantes, no âmbito do FTJ e que está neste momento em avaliação no IAPMEI e na AICEP.
Estes projetos constituem espaços de alguma dimensão, no que diz respeito ao complexo solar e que depois tem a Unidade de Produção de Hidrogénio. De acordo com o responsável da Smartenergy o projeto de Abrantes “terá ainda uma unidade para a rede de abastecimento para carros e camiões, a pensar no futuro. Em Cascais já existem 2 autocarros a hidrogénio”, exemplificou.
Os processos com as novas fontes de energia vão vão acontecendo passo a passo. Para todo este projeto o investimento é de 25 milhões de euros está a ser desenvolvido com o apoio da Médiotejo 21.
“Havendo luz verde do Fundo para a Transição Justa as obras vão começar em 2023 e a injeção de hidrogénio na rede deverá acontecer no terceiro quadrimestre de 2024”, explicou António Farmhouse.
No que diz respeito ao número de postos de trabalho, este projeto vai criar entre 10 a 30 postos de trabalho diretos permanentes e não permanentes. “O projeto é de base solar, mas pode vir a trabalhar 24 horas por dia com recurso a eólicas ou outras fontes de energias verdes.”
Este projeto está previsto para a zona do Casal Cortido
E naquilo que são as dúvidas que ainda existem, António Farmhouse deixa a nota que todos vamos consumir hidrogénio daqui uns anos. E acrescenta que há uma série de projetos em Sines para injetar 5 a 7% na rede. E sublinha que “assim como carregamos o nosso carro com gasóleo ele já tem 5% de biocombustíveis, o mesmo vai acontecer com o hidrogénio.”
Ainda no que diz respeito a novos investimentos do grupo suíço, António Farmhouse adiantou que também em Ponte de Sor está a ser equacionado a instalação de um complexo de produção de hidrogénio. “É uma vontade do presidente da câmara, Hugo Hilário. Estamos muito focados nos projetos de hidrogénio em Portugal. Queremos ter projetos em Sines e aqui em Ponte de Sor, onde já estamos a trabalhar com a Câmara Municipal. A Câmara quer ter aqui uma plataforma para ligar a este cluster da aviação.”
António Farmhouse deixou um exemplo: “a Alemanha que está a fazer grandes complexos na América do Sul e Costa africana para produzir muito hidrogénio para depois ser transportado de barco para a Alemanha. É que para substituir o gás natural, muito dele oriundo da Rússia, é preciso muito e muito hidrogénio.”
António Farmhouse, Commercial Manager H2 da Smartenergy
Tal como a Antena Livre tinha noticiado em 4 de maio de 2021 o projeto da Smartenergy tinha sido alvo de uma candidatura ao POSEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos). Tratava-se de um projeto ligeiramente diferente deste que agora foi alvo de uma candidatura ao Fundo para a Transição Justa.
Nesta altura, em maio do ano passado, a empresa já tinha apresentado um pedido de parecer prévio para a instalação do complexo de painéis fotovoltaicos nos serviços técnicos da Câmara Municipal de Abrantes para aquele terreno.
Este processo da Smartenergy estava, e continua estar, a ser conduzido com a Médiotejo21 (Agência de Energia e Ambiente do Médio Tejo), e aguarda decisão das estruturas que estão a avaliar as candidaturas para o Fundo para a Transição Justa.