Proprietários florestais, autarcas e ambientalistas manifestaram hoje dúvidas de que a reforma das florestas proposta pelo Governo vá resolver os problemas do setor, criticando falta de visão e de uma estratégia comum de prevenção e combate aos incêndios.
Num seminário realizado hoje em Lisboa sobre o pacote de 12 leis apresentado em outubro pelo Governo, conhecido como reforma das florestas, a associação de proprietários União da Floresta Mediterrânica criticou a dispersão de responsabilidades na gestão de uma paisagem florestal com propriedades cada vez mais pequenas e difíceis de gerir.
O presidente da União, António Gonçalves Ferreira, afirmou que falta ciência nas decisões tomadas sobre a floresta e criticou a passagem de competências para as autarquias, afirmando que resultará em "trezentas interpretações diferentes" sobre o que se pode ou não plantar.
O representante do grupo da indústria do papel Navigator, Tiago Oliveira, afirmou que os "três milhões de euros por ano" que a empresa investe em "técnicos 365 dias por ano" para controlar as suas propriedades, que são maioritariamente de eucalipto mas também incluem pinhal, acabam por ser inúteis quando os fogos florestais não conhecem fronteiras municipais ou delimitações de propriedade.
Tiago Oliveira afirmou que quem está encarregado de combater os fogos tem por missão "defender casas e vidas" e não propriamente as florestas, mas que se a mesma entidade tratasse da prevenção e do combate, poupar-se-iam casas, pessoas e hectares de área ardida.
O vice-presidente da câmara de Mação, António Louro, considerou que Portugal "está a perder a guerra" contra os fogos florestais, defendendo que é preciso uma "análise macro" do problema porque se esteve "40 anos a criar uma paisagem florestal que não é sustentável com este clima".
A agricultura e a pecuária, que serviam para ordenar e dividir a área plantada, foram abandonadas em favor da plantação de floresta, porque "os proprietários querem rentabilidade, plantam, mas depois arde e perde-se tudo".
António Gonçalves Ferreira afirmou que a gestão das florestas "tem que ser à escala territorial e não à escala da propriedade".
Em relação à limpeza dos terrenos, salientou que o problema é na fronteira entre o rural e o urbano. Se antes havia povoações, hortas à volta e depois então floresta, hoje a malha urbana e a floresta aproximaram-se e os proprietários, a quem se pede responsabilidade na limpeza, "não têm culpa que as câmaras deixem expandir o limite urbano".
O ambientalista Domingos Patacho, da Quercus, pediu também "aposta no ordenamento" a nível superior, indicando que "os planos regionais são ineficazes" e que se convive em Portugal com propriedades superiores a cem hectares, situadas mais a sul do Tejo, e com propriedades "com áreas de meio hectare" mais localizadas a norte.
A reforma das florestas, com medidas como a criação de um banco de terras e restrições à expansão de eucalipto, esteve em discussão pública até fim de janeiro.
O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, afirmou que o Conselho de Ministros deverá aprovar até meados de março as versões dos documentos com as alterações acolhidas durante a discussão pública.
Lusa