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Artes e Ofícios: Catalogar o artesanato, salvaguardá-lo e criar valor com a sua comercialização (c/áudio)

17/01/2023 às 12:01

Identificar, proteger e valorizar as artes e ofícios tradicionais dos municípios de Abrantes, Constância e Sardoal é o objetivo da Tagus - Associação do Ribatejo Interior, que na sexta-feira, dia 13 de janeiro, apresentou o resultado do levantamento histórico do “saber fazer” efetuado pelo antropólogo Paulo Lima.

O antropólogo que iniciou a sua intervenção com uma espécie de provocação, quando afirmou que “cada vez desconfio mais do património imaterial, que devemos é caminhar mais para a paisagem. A dimensão humana que transforma o território e paisagem.”

Depois avançou com a explicação do inventário que fez ao longo de vários meses e que serve para preparar o presente e o futuro. E a primeira grande conclusão é que “o território mostrou que há um dinamismo de continuar a saber fazer e até trazer continuidade e modernidade.”

A metodologia foi começar com a criação de uma base de dados sobre esta região, sobre os três concelhos.

Paulo Lima vincou que teve grande interesse em perceber o percurso biográfico das pessoas, porque continuam a fazer e a saber fazer (artesanato) ou, porque é que quebraram essa continuidade. E deu vários exemplos deste seu trabalho. Por exemplo, do Sérgio silva, barqueiro e calafate de Constância que, se nada for feito, o “saber construir barcos vai acabar aqui.” Paulo Lima disse ter feito “o inventário de todas as artes artesanais que existiram e existem nos três concelhos” e foi dando exemplos, como a dona “Mariazinha” sendo a única que faz as bonequinhas de pernas de cana, em Constância.

O antropólogo recuou no tempo, para deixar a nota que há 50 ou 70 anos, as tecelãs eram uma presença forte em todas as freguesias dos três concelhos. Hoje é uma presença magra. E deixou novo exemplo de uma tecelã de Sardoal que faz parte da cooperativa Artelinho que mantém a atividade e a continuidade do saber fazer.

Paulo Lima disse também que “há artes que acabaram, porque acabaram. Por exemplo, alfaiates.” E registou um outro tipo de arte “que chamo de arte ingénua” que é arte, mas não é artesanato. Usam matérias-primas e constroem peças, mas que não são artesanato e que não há saber fazer para as gerações futuras. Depois há outros níveis em que o artesanato se mistura com outras formas de arte. E já existe atividade em que até se faz fazem modelagem em AutoCAD ou impressão em 3D.

Paulo Lima não esqueceu as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e Misericórdias que mantêm atividade com os idosos a fazer muitos produtos como faziam antigamente. 

Neste inventário ou base de dados não foram esquecidas as pequenas indústrias como a cerâmica Tejo e a Sifameca, ambas em Mouriscas, que continuam a laborar e a fabricar peças que, em grande parte, já se podem considerar peças de artesanato. E no caso da Sifameca, Paulo Lima, disse “ter ficado apaixonado” pela maquinaria “manual” que usam para fazer as ceiras. “Temos um trabalho de perceber como é que se enquadram estas artes e este saber fazer.”

Paulo Lima, Antropólogo

Conceição Pereira, a coordenadora da Tagus, um Grupo de Ação Local que está a caminho de fazer a festa dos 30 anos, a 26 novembro, apresentou o AO.RI.

Esta candidatura é um projeto de três municípios que se unem com um projeto comum e que tem a designação de “Artes e Ofícios” do Ribatejo interior, com a intenção clara de valorizar o Património Imaterial Cultural. Há também a dimensão de alavancar a oferta turística e atração de visitantes.

Conceição Pereira, Tagus

A coordenadora da Tagus apresentou este programa AO.RI que tem cinco atividade para um ano de projeto.

Há a intenção de fazer o levantamento histórico de artes e ofícios, e identificação do saber fazer dos artesãos e entidades; organizar oficinas de formação e capacitação (com aposta numa ligação mestre-aprendiz e dinamização de workshops); promover oficinas criativas do artesanato à inovação (concurso de ideias do artesanato tradicional à inovação) em fevereiro de 2023, com o envolvimento de escolas; criação de um percurso turístico com integração no saber fazer, com experimentação e ações de charme junto dos influenciadores; e a promoção e divulgação com a produção de um catálogo com artigos.

E neste nível Conceição Pereira revelou que a Tagus tem uma plataforma onde já é possível adquirir algumas peças de artesanato com o Cá da Terra em www.praca.ri.pt e que pode ter uma dinamização ainda maior na área do artesanato

Conceição Pereira, Tagus

Dinamizado pela Tagus – Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior, e pelos três municípios da sua área de ação, o projeto AO.RI – Artes e Ofícios do Ribatejo Interior visa a valorização do património identitário dos territórios no âmbito do desenvolvimento local de base comunitário, representando um investimento na ordem dos 72.500 euros, sendo financiado a 85% no âmbito do Programa Operacional do Centro do Portugal 2020 e pelo FEDER - Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional.

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