O concelho de Vila Nova da Barquinha tem assistido a uma procura que deixa até admirado quem gere os destinos do Município. O presidente da Câmara Municipal, Fernando Freire, falou-nos do aumento na zona industrial, da falta de habitação na vila que já se começa a sentir e também dos empresários que semanalmente procuram instalar-se no concelho.
Disse recentemente que Vila Nova da Barquinha está a colher o que semeou. Continua convicto disso?
Eu acho que essa é uma filosofia correta, atual e real pois é o que está a acontecer, de facto.
E que está o concelho da Barquinha a colher?
Muito investimento, nomeadamente no âmbito privado e na Zona Industrial. Quanto mais tivesse, mais vendia. Também uma grande dinâmica de regeneração urbana e de construção. De tal maneira que já há quem venha do norte a querer construir aqui. Vão ser criados muitos postos de trabalho e há muita procura e pouca resposta no nosso concelho em termos de habitação.
A ampliação da Zona Industrial é uma necessidade premente neste momento perante a elevada procura de terrenos. São só a centralidade e as acessibilidades que tornam o concelho tão atrativo ao investimento?
É evidente que isto não nasce do nada, é resultado de uma estratégia que teve início em 2018 com a aprovação do regulamento de incentivos às empresas. O Barquinha + Investimento permitiu facilitar os acessos, quer aos serviços administrativos da Câmara Municipal, quer ao departamento de Urbanismo – todos os projetos entram com prioridade verde, ou seja, tratamento privilegiado – e também com isenções significativas, quer no âmbito da Derrama, do IMI, IMT e taxas urbanísticas. Esta é a cereja no topo do bolo mas também não tenho dúvidas que a localização tem sido determinante para esta escolha. E quando questiono os empresários acerca da escolha por vila Nova da Barquinha, percebo que tem muito a ver com o Parque Industrial onde nunca deixámos que fosse implementada qualquer empresa poluente. Também há que referir a grande abertura que houve de fundos comunitários para as zonas de baixa densidade. Apesar de estarmos a dois quilómetros de uma zona de alta densidade como é o Entroncamento, Vila Nova da Barquinha é de baixa densidade e conta com vários incentivos.
Quer isto dizer que o Município não necessita de procurar investimento privado...
Sem dúvida. Todas as semanas tenho recebido pessoas à procura da Barquinha e todos começam por dar os parabéns porque, como dizem a vila está um espetáculo. Gostam da apresentação da vila, da conservação e restauro que está a ser feito e sentem-se bem aqui. E dizem mais, querem logo procurar casa por aqui. È isto que está a acontecer e tem muito a ver com a nossa qualidade de vida, com toda a envolvente do nosso território.
Há investidores estrangeiros, nomeadamente ingleses, israelitas, canadianos e franceses que têm procurado a autarquia para apostar em novas unidades fabris na zona industrial. Qual o ramo de negócio destes investidores?
É muito diverso. Desde embalamento de produtos alimentares na Vivifoods, produtos de limpeza e químicos na Gonfersol, limpeza hospitalar na Oceanfolio, recuperação de material ligado aos bombeiros na Camião Antunes, sistemas de segurança na Wissi, a Vegigreen que também é de embalamento para supermercados e o Espaço Mecânico que tem a ver com material de construção. Quanto aos novos investimentos no Centro de Negócios, temos a Nuvens Vivazes na área do mobiliário, a Folium Proprium no âmbito do cannabis, a CR Nuts com capitais da Guiné, a VR1883 Group que é israelita e na área farmacêutica, a JJM Esperança e a Metric Argument na área da robótica e da metalomecânica e a Celestial Molecule e Mandara também na cannabis medicinal.
O presidente mostrou-se preocupado com a falta de mão-de-obra qualificada e não qualificada. Poderá ser um problema?
Cada vez mais temos que ter uma visão abrangente. Em torno da Zona Industrial de Vila Nova da Barquinha há várias cidades. Temos o Entroncamento, Torres Novas, Tomar ali ao lado, a sete quilómetros. Abrantes um bocadinho mais longe mas perto. Há pessoas de Castelo Branco a trabalhar na zona industrial que vão e vêm todos os dias. Não tenho qualquer dúvida que boa parte da mão-de-obra terá que vir de fora. Mas, de facto, uma preocupação que tenho com tantos postos de trabalho é a questão da habitação, quer em termos de arrendamento quer de construção nova. Tenho a noção que vai haver grande deslocalização de pessoas para cá. Mas ninguém estava à espera disto, nem eu.
Mas não foi para isto que trabalhou?
É evidente que trabalhei e tenho noção do trabalho e foi tudo preparado para fazer acontecer... mas há quem também trabalhe e não aconteça. Pensei que numa fase de retração da própria economia não houvesse este boom. Sabíamos que o que fazíamos ia ter resultados, apostámos em criar condições para as pessoas gostarem de cá estar mas se me tivessem dito há dois anos que ia ser assim, eu não acreditava.
Tem noção do encaixe financeiro que representa para o Município?
Não consigo ter valores mas sei que estamos a crescer em termos de receitas municipais e a fazer devolução aos munícipes. Devolvemos 0,5% de IRS todos os anos e temos uma taxa de IMI de 0,32%. Esse é um princípio que tenho, a estabilidade dos impostos para as pessoas saberem com o que podem contar.
E número de postos de trabalho?
Atualmente, na Zona Industrial há sete empresas que garantem 267 postos de trabalho. Há a previsão de, no próximo no, serem 309 postos de trabalho. Se entrar nestas contas a Olifantes & Nature, ou seja, o projeto do BioPark, ficamos com cerca de 500 postos de trabalho. E não estamos a contabilizar com o CAIS onde há, efetivos, 20 postos de trabalho diretos e 35 indiretos. Atualmente conta com sete empresas em instalação física, quatro em coworking e duas em instalação virtual. No espaço empresarial Silex também há mais empresas em regime de coworking e instalação física.São dados muito significativos perante o cenário de pandemia que vivemos. É quase em contra-ciclo.
Barquinha também entra na rede nacional de espaços de coworking...
Sim, procura há, já não temos é oferta. No CAIS já não há espaços disponíveis e estamos a acomodar empresas no outro espaço, o Silex.
E já ganhou um Gabinete de Apoio ao Imigrante...
Sim, fizemos essa parceria como muitas outras câmaras. Funciona no sentido de ajudar ao regresso dos emigrantes e de os elucidar na área dos investimentos. Toda a equipa, quatro pessoas, está neste momento em formação e começará a funcionar mais lá para o final do verão.
Foram nove os lotes de terreno que a Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha ia tentar vender em hasta pública. Em 2019, a autarquia já tinha tentado vender os terrenos, mas na altura não surgiram interessados. Como correu agora?
Voltou a ficar deserto.
Não é contraditório com restante a dinâmica?
Não, não é. Tem tudo a ver com a localização e com a centralidade e isso é interessante. Repare, a Atalaia, de repente, tem um crescimento exponencial. O mesmo não se passa na Moita do Norte e esse é um caso que vamos ter que pensar em termos de regeneração urbana. Tem características de uma aldeia antiga, com muitos prédios degradados e onde fará todo o sentido fazermos uma regeneração urbana. Voltando ao loteamento, de facto, ele fica fora de mão e os preços não são dos mais baratos. Mas já há um privado interessado em adquirir os lotes do chamado Loteamento das Piscinas.
Já foi homologada a Estratégia Local de Habitação (ELH) do concelho. Vai ser possível criar habitação condigna para todos?
Não, isso é utopia. A ELH é direcionada para famílias carenciadas e famílias de baixo rendimento ao programa 1.º direito. E as Câmaras Municipais têm que fazer o seu papel e acelerar o processo porque 2026 é já ali. Tem que haver projetos feitos, materiais e, principalmente, pessoas. Não sei se Portugal vai ter capacidade para executar isto tudo. Não podemos esquecer que durante a pandemia houve muitas empresas, principalmente na construção, que se extinguiram. A crise foi muito grande.
Foi aprovada uma candidatura a fundos comunitários para requalificar o antigo Mercado Municipal da vila, transformando-o num Mercado da Cultura. O projeto tem como objetivo criar uma maior dinâmica no concelho em torno da cultura e dos artistas. O que é que a Autarquia pretende fazer daquele espaço?
Temos falta de espaço para os artistas. Eles querem implementar-se e não há onde. Esta é a realidade. O Mercado da Cultura é um acrescentar ao processo cultural que existe, muito da dinâmica do Centro de Estudos de Arte Contemporânea, onde temos os artistas na formação. Ali será mais para “mãos na massa”, com workshops e mais dedicado a artesãos. A nossa candidatura vai nesse sentido.
Não podemos fechar esta entrevista sem saber como está o ponto de situação do mega projeto anunciado para o concelho. O Bark – Biopark Barquinha...
Estando eu autarca, à administração pública cabe facilitar, dentro do princípio da legalidade todos os atos que venham a ser executados. Ao privado cabe o investimento e o risco. Da parte da Câmara Municipal temos tudo tratado, os 37 hectares estão reservados. Podíamos alocar esses terrenos à zona industrial e não o fizemos porque o projeto tem sustentabilidade e tem grandes hipóteses de se concretizar. No entanto, não nos podemos esquecer que os grandes parques temáticos do mundo só agora estão a começar a abrir portas para evitar os ajuntamentos. Eu percebo as expetativas, não só do empresário mas também de quem vai financiar. Mas o empresário está com a vontade de ir para diante.
Texto: Patrícia Seixas
Fotos: Pérsio Basso