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Mação: Falta de médicos de família é situação de “gravidade extrema”

23/02/2023 às 12:27

É mais um concelho da região a debater-se com a falta de médicos de família. Mação tem dois médicos no ativo mas, a partir de dia 1 de março, vai poder contar com apenas uma médica. Isto porque um dos médicos irá passar à aposentação.

Na reunião do Executivo Municipal de quarta-feira, dia 22 de fevereiro, Vasco Estrela alertou para o facto do concelho de Mação ver agravar-se a situação da falta de médicos de família. O presidente da Câmara assumiu que a Autarquia terá que apresentar uma proposta para que seja possível “ter alguma esperança” de incentivar clínicos para exercer no concelho.

Vasco Estrela falou de um “leilão” de médicos a que os Municípios estão sujeitos e que, nas suas palavras, “no campeonato do quem dá mais”, as possibilidades dos Municípios são diferentes.

Apesar de afirmar que a situação, ou a sua possível solução, não é responsabilidade da Autarquia, o presidente da Câmara de Mação reconhece que é preciso fazer algo. Contudo, não poupa críticas ao Estado, mais concretamente ao Ministério da Saúde, por ter permitido que a situação chegasse a este ponto.

Contudo, “não podemos ficar indiferentes a esta situação e penso apresentar uma proposta que possa possibilitar, pelo menos, alguma esperança no sentido de podermos ter médicos de família dispostos a fazer serviço o concelho de Mação. Infelizmente, entrando naquela situação em que eu, pessoalmente, acho que não deveria acontecer e que é entrar neste leilão de quem dá mais para que alguém possa vir a ter médico de família. É lamentável que assim seja e que cheguemos a este ponto mas considero que é isto que temos que fazer, com a atribuição de valores pecuniários muito consideráveis para atrair médicos”, afirmou Vasco Estrela que disse ainda que “a situação pode vir a tornar-se muito dramática a muito curto prazo”.

Nuno Barreta, vereador eleito pelo PS e enfermeiro de profissão, sugeriu que “podíamos tentar copiar uma opção, como Abrantes copiou, que foi o incentivo à criação de Unidades de Saúde Familiares (USF). Sem uma Unidade de Saúde Familiar não vão ser clínicos gerais recém-formados a vir para Mação. Legalmente, é onde eles podem ganhar mais dinheiro é se existir uma USF”. Por outro lado, o vereador socialista deixou ainda a proposta de “averiguar no concelho os médicos que estão reformados, tal como tem acontecido noutros concelhos. Em vez de se reformarem e dar um passo para a clínica ao lado, poderiam fazer uma avença com o ACES e ficarem vinculados pela avença durante uns meses, uns anos...”

Vasco Estrela disse respeitar “a opinião de quem sabe bem mais do que eu desta matéria” mas não concordou com o facto de ter que ser a Câmara a fazer. “Que eu saiba, há entidades neste país que têm responsabilidades sobre esta matéria e não é a Câmara Municipal de Mação nem nenhuma outra câmara seguramente. Este é que é o problema e nós, autarcas, deixamo-nos enredar nisto. Nós não temos que fazer nada, o Ministério é que tem que resolver o assunto. Mas nós é que temos que despoletar a USF? Venham ter connosco e nós estamos disponíveis para criar todas as condições”, afirmou.

“Este é um assunto de gravidade extrema que o Estado deixou chegar a este ponto”, desabafou o presidente da Câmara.

À Antena Livre, o autarca explicou que “a esmagadora maioria da população já não tem médico de família” e que esta situação “não era previsível que viesse a acontecer de forma tão abrupta” pois “ninguém esperava, nem desejava, os problemas de saúde do doutor Novais Tavares” que se encontra de baixa prolongada, “nem que o doutor Fernando Afoito tomasse a legítima decisão de se reformar”.

Vasco Estrela lembrou que aquando da aprovação dos documentos previsionais para o ano 2023, a maioria que gere a Câmara deixou a sua posição sobre esta matéria. O Executivo “parte do princípio que este assunto tem obrigatoriamente que ser resolvido pelas entidades que têm competência na matéria, que não tem grande simpatia por aquilo que tem acontecido um pouco por todo o país, que é a pesca à linha dos médicos”.

Reconhecendo que esta situação não é do seu agrado, pois significa “atratividade para os médicos virem” e “a forma como essa atratividade está a ser gerida e o facto de serem os municípios a fazerem essa atratividade é que não do meu agrado”. Já do ponto de vista dos médicos, o presidente da Câmara disse perceber “que seja legítimo quererem ir para onde têm melhores condições económicas, financeiras, sociais, profissionais...” Mas sendo assim, acrescentou, “à Câmara competirá, de alguma forma, criar condições de atratividade para que os médicos possam vir, dentro das nossas possibilidades e dentro do que achamos que temos para oferecer”.

Quanto ao facto de os Municípios poderem oferecer condições diferentes, Vasco Estrela afirmou que “infelizmente, são as regras do jogo a que o Estado nos conduziu” e que, “cada vez mais, se começa a perceber neste país que as câmaras é que têm que resolver grande parte das situações. Sublinho que as câmaras começam a ser os únicos poderes que estão nos territórios”.

Relativamente à sugestão da criação de uma USF, reforçou que “a Câmara está disponível para tudo fazer, se for essa a solução, e penso que poderá ser uma solução que, aliás, já estava a ser pensada. Se passar por aí, a Câmara cá estará para fazer parte desse processo. Digam o que é que é preciso a Câmara fazer para que as coisas aconteçam”.

Já quanto à ideia de se contactar médicos já reformados, Vasco Estrela assumiu que já falou com alguns e aproveitou para “lançar o apelo a alguém que conheça médicos reformados, em pré-reforma ou com alguma disponibilidade... pois nós estaremos do lado da solução”.

Mação ainda não aceitou a transferência de competências na área da Saúde, “nem as vai aceitar nos termos que estão a ser propostos pela ARS Lisboa e Vale do Tejo”.

Já a proposta para tentar atrair médicos para o concelho será apresentada numa próxima reunião de Câmara para que “na Assembleia Municipal de abril possamos ter esta situação resolvida”.

De lembrar que Mação tem uma área de 400 km2, uma população envelhecida e muitas vezes distante da sede do concelho e, a partir de dia 1 de março, se nada se alterar até lá, terá apenas uma médica de família. 

 

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