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Frutos OUTONAIS - por Armando Fernandes

12/11/2017 às 00:00

É o Outono opulenta representação das dadivosas frutas secas e verdes. Talvez por isso pintores e escultores de todas as épocas e de invulgar talento as tenham à condição de obras-primas a alegrarem os nossos olhos e a fixá-las para a posteridade, caso de Josefa de Óbidos, cujos quadros nos extasiam, dois deles podem ser contemplados na Biblioteca Municipal de Santarém.

Os figos, as maçãs, os marmelos, as peras, romãs, as uvas, entre outras, concediam invulgar cromatismo aos quintais, campos e vinhas (menos) da paisagem abrantina. Nas bermas de algumas estradas ainda vislumbramos marmelos que este ano devido à seca não passam de minúsculos pómulos adolescentes.

O sábio Joaquim Vieira da Natividade dedicou tempo a investigar as qualidades das frutas produzidas nos pomares deste terrunho, por isso mesmo não se cansava de escrever acerca das virtudes das maçãs camoeses, das romãs e figos desta região.

Na sua descrição do reino de Portugal, o calcorreador de caminhos Duarte Nunes de Leão salienta Abrantes como alfobre de frutos, o Padre Carvalho da Costa segue-lhe o exemplo, e Pinho Leal não destoa no coro das saliências.

Pessoalmente, em Abrantes, gostava de ver boas exposições desses frutos, acompanhados da competente e inovadora criação de fórmulas culinárias, além da parafernália artística e literária que originaram.

As maçãs e as romãs em saladas, em sopas frias, no acompanhamento de peixes e carnes, nas na doçaria, nas compotas, nas bebidas espirituosas, por exemplo. E associadas às inovações gastronómicas o seu valor simbólico (escrevi um livro onde o refiro), as esculturas, os contos tradicionais, trago à ribalta “as três maçãzinhas de ouro”, “as maças de Hespérides”, os provérbios e ditos jocosos, “uns comem os figos, a outros rebentam-lhe os beiços”, e tutti-quanti.

Sim, a pantomina, a música, a fotografia, o teatro, encontram nos frutos múltiplos exemplos de fulgor interpretativo, e porque as nozes (dá Deus as nozes a quem não tem dentes) prevalecem na sazão de agora ressaltam nos receituários conventuais e monacais rivalizando com os verdes frutos, já dizia a raposa “estão verdes, não prestam”. Os cachos de uvas não estavam ao seu alcance.

Ora nestes tempos de globalidade, Abrantes ganha notoriedade e proveito se conceber um programa de afirmação para lá das redondezas se colocar os seus frutos identitários, logo tradicionais, num plano superior aos de outras proveniências. Há inúmeros exemplos de sucesso. Até de cebolas!

Armando Fernandes

 

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