O anterior adjunto de Operações Nacional da Proteção Civil questionou hoje se foi “uma boa metodologia” a substituição da estrutura de comando a poucos meses da época de incêndios, e pediu que não se faça do SIRESP um “bode expiatório”.
Marco Martins, que exerceu funções entre março de 2013 e maio de 2017, foi um dos oradores de um painel na Universidade de Verão do PSD sobre o tema “Incêndios: Porque é que Portugal arde tanto?”, a par de António Louro, vice-presidente da Câmara de Mação com os pelouros da proteção civil e florestas.
Recorrendo a uma metáfora, Marco Martins disse que durante quatro anos lhe foi “atribuído um veículo” que aprendeu a conduzir “por caminhos sinuosos”, tendo recebido muita formação, paga pelos contribuintes, e, “de um momento para o outro, porque a lei o permite”, foi afastado e substituído por outro.
“Tenho consciência de que foram entregues carros a pessoas que nunca conduziram carros daqueles, se calhar nem nunca conduziram carros, só bicicletas”, afirmou, questionando se esta metodologia trouxe alguma mais-valia ao sistema.
Sobre este tema, António Louro, militante do PSD, considerou que as decisões políticas de substituir grande parte da estrutura de comando em abril “estão a ter consequências operacionais” e disse ter “sérias dúvidas” de que as novas chefias “sejam equiparáveis às que saíram.
Sobre o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), os dois oradores na iniciativa de formação de quadros do PSD partilharam a opinião de que teve falhas, mas garantem que estas não explicam tudo.
“O país precisa de encontrar culpados, cabeças para cortar que justifiquem este nível de falhanço do sistema, com certeza que o SIRESP teve problemas, mas todos nós já nos deparámos com pontos escuros da rede”, afirmou o autarca de Mação, um concelho que viu arder este verão 30.000 hectares (75% do município).
Marco Martins, que atualmente pertence ao corpo de comando dos bombeiros de Óbidos, assumiu-se como um “utilizador diário do SIRESP”, que classificou como uma “ferramenta extremamente válida”.
“Tem lacunas, falhas? Tem. Mais do que aquelas que se aceitam hoje, mas estão identificadas as zonas sombra, não podemos usar o SIRESP como bode expiatório”, apelou.
Ambos coincidiram na perda que representou na prevenção dos incêndios o fim dos guardas-florestais e estiveram também de acordo quanto à pouca utilidade que os militares estão a ter no combate.
“Os militares estão neste momento a ser usados mais como ferramenta política e para a comunicação social do que para os combates aos fogos”, criticou António Louro, considerando que “tem sido confrangedora” a atuação do Exército, não por culpa própria, mas por falta de equipamentos adequados e de articulação com o dispositivo no terreno.
Marco Martins, que durante cinco anos deu formação aos militares para o combate aos incêndios, lamenta que, muitas vezes, estes não tivessem depois equipamentos adequados para poder participar devidamente.
“Muitas vezes faziam apenas operações de vigilância ativa porque não tinham equipamentos adequados”, referiu.
Os dois oradores coincidiram ainda nas razões mais profundas dos incêndios em Portugal e que passam, por exemplo, pela prevenção e por um novo modelo de paisagem, adaptado a um país em que a figura do agricultor e da aldeia são muito diferentes do que eram há 50 anos.
“Este é o momento de parar, de discutir, de não nos enganarmos a nós próprios e construirmos para as próximas décadas um modelo para o interior mais equilibrado e mais sustentável”, defendeu António Louro.
Lusa