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Lagar de Vila de Rei: Uma aposta reconhecida por todos

19/06/2018 às 00:00

Surgiu porque não havia nada semelhante no concelho e hoje apresenta resultados muito favoráveis. Em 2017, o Lagar de Vila de Rei transformou 600 toneladas de azeitona só do concelho, num total de mais de 1.400 toneladas a juntar aos concelhos limítrofes.

Vamos recuar na história, porque a ideia é bastante antiga e foi iniciada ainda durante um dos mandatos presididos por Irene Barata…

“Não existia qualquer lagar a transformar azeitona [no concelho] e assistíamos a um aceleramento do abandono das terras agrícolas e queríamos incentivar a sua exploração. Queríamos incentivar o retorno das pessoas aos seus terrenos agrícolas e queríamos também com isto tudo criar faixas de contenção contra incêndios, uma vez que os terrenos ao estarem tratados constituíam-se como barreiras para a propagação e o desenvolvimento natural dos incêndios. Neste sentido, idealizámos a construção do lagar. Fizemo-lo e desde logo na primeira hora o acolhimento foi extraordinário”, conta ao JA, Paulo Cesar Luís, vice-presidente da Câmara Municipal.

O vereador recorda que os lagares limítrofes eram, na sua maioria, estruturas “obsoletas e com muitos anos de existência”. Os produtores vilarregenses muitos vezes ficavam em “listas de espera o que inviabilizava um pouco aquilo que era a extração e depois a transformação” da azeitona.

A obra realizou-se há três anos atrás. Foram 500 mil euros de investimento autárquico e, na altura, com críticas da oposição socialista. “O partido socialista tinha uma opinião diferente e achava que deveriam ser particulares e privados a executar o investimento”. Já a maioria PSD “optou não por continuar à espera [da iniciativa privada], porque o que assistíamos era à não associação, não agrupamento [dos produtores] e decidimos não continuar a contribuir com o nosso silêncio e a nossa inoperacionalidade para o abandono dos terrenos agrícolas”.

Questionado sobre se hoje o PS se revê na aposta que fez a maioria PSD, o responsável respondeu “completamente”.

“Face aos resultados que temos vindo a obter da transformação da azeitona, mas também devido ao retorno dos terrenos agrícolas. Há muitas pessoas, que não morando em Vila de Rei e que estão em Lisboa, vêm cá, tratam as oliveiras e limpam os terrenos agrícolas e temos assistido também a algum investimento não tão grande como nós gostaríamos, mas temos assistido (…) contribuindo assim também para a proteção das aldeias”, salientou o responsável.

Paulo Cesar Luís, vice-presidente da Câmara Municipal

Em 2015, o lagar transformou 830 toneladas de azeitona, em 2016, 540 toneladas. Por último, em 2017, num ano de incêndios, 600 toneladas só do concelho. Os produtores são sobretudo de Vila de Rei, mas não só, vêm de todo o Médio Tejo.

O Município prossegue com o projeto e pretende criar agora uma marca de azeite. “Nós temos vindo a consolidar a transformação do azeite e procuramos que o azeite seja também uma fonte de riqueza para as pessoas (…) Nesse sentido, estamos a trabalhar para criar uma marca de azeite, procurando duas vertentes: divulgar o concelho e ao mesmo tempo dar recursos financeiros ao contribuir financeiramente para os produtores de azeite que têm produção em excesso”, explica Paulo Cesar Luís.

O responsável refere que o Município está focalizado também na aguardente de medronho, sendo que para além do lagar, o espaço dispõe de uma destilaria. “Começou há cerca de um ano. Tem uma desvantagem se no caso do lagar a grande vantagem para além da proximidade, é o preço (7 cêntimos por quilo), na questão da destilaria, o nosso espaço concorre diretamente com o conjunto e infra-estruturas que trabalham de forma ilegal. E sendo que o Município trabalha como deve ser, a carga fiscal associada a estes produtos é muito elevada. Infelizmente, ainda há pessoas que preferem arriscar a destilar os seus produtos noutros espaços, correndo riscos desnecessários, na minha opinião”, considerou.

De volta aos números, segundos os dados fornecidos pela Câmara Municipal, a Campanha 2017/2018 representou um custo de 42.000 euros e um conjunto de receitas de cerca de 109.000 euros, ou seja, um saldo positivo de mais de 67. 000 euros só nesta Campanha.

“Não estou satisfeito, estou satisfeitíssimo”

Custódio Grácio, 74 anos, reside em Milreu, e é um dos principais utilizadores do lagar e destilaria do concelho.

Em conversa com o JA, recorda que é desde pequeno que se dedica a trabalhar na pequena agricultura. O seu pai já tinha um olival. Hoje, é Custódio que tem uma platanção em Milreu, no Pisão e em Valhascos, já no concelho de Sardoal, que totalizam mais de 200 árvores.

Para Custódio, o Lagar e a Destilaria “foram duas obras muito boas para o concelho” e desde que abriram, o agricultor é presença assídua.

“Já há muitos anos que ia a um lagar no Mogão, no concelho de Sardoal. Um lagar à moda antiga, com prensas antigas e o azeite lá também era muito bom”. Contudo, “desde que este abriu, venho sempre aqui”, salientou Custódio, dando conta que para destilar o medronho ia a Oleiros e, hoje consegue fazer tudo em Vila de Rei.

Custódio Grácio

Custódio faz um balanço muito positivo da última campanha, apesar dos incêndios que deflagraram no concelho. “A campanha foi boa e a do outro ano também. A azeitona não se estragou, não houve bicho, foram dois anos maravilhosos de azeitona. E quanto ao que perdeu, o agricultor dá conta que já reflorestou “tudo”. Gastei cerca de 6 mil euros, tudo do meu bolso, mas não conseguia ver aquilo assim tudo queimado”.

O balanço da utilização do lagar não podia ser mais positivo: “Não estou satisfeito, estou satisfeitíssimo. E não sou só eu, vêm produtores de todo lado. Ouvi dizer que o lagar moeu 600 e tal toneladas não é brincadeira. E o ano passado também se moeu muita azeitona e isto deve-se ao preço” de utilização. E no fim de contas “o azeite é muito bom porque é feito com a azeitona galega e venha quem vier não há melhor azeite que este”.

O lagar “foi uma grande mais-valia”

Salomé Peralta, colaboradora do Município, é a responsável pela dinamização do espaço desde que abriu.

A engenheira lembra que o espaço é bastante diversificado nos equipamentos que dispõe. “Temos 4 batedeiras que têm uma capacidade entre 900 a 950 cada uma o que nos permite ter uma produção de 2 toneladas por hora”. 

“Depois das batedeiras, a massa é aquecida mais ao menos a 28 graus, portanto é uma extração a frio o que permite manter as características do azeite e não estragar os ácidos gordos do azeite que depois é extraído através da centrifugadora. De seguida, [a massa] é filtrada por um filtro mecânico e passa para os depósitos pequenos. Temos 8 depósitos de 100 litros cada um o que nos facilita a separação do azeite dos produtores”, acrescenta a responsável.

Salomé Peralta

No que diz respeito à destilaria, o espaço dispõe de “dois alambiques que nos permite estar a destilar dois produtos distintos ao mesmo tempo”.

Também Salomé considera que a construção do lagar “foi uma grande mais valia. Fazia falta aqui no nosso concelho, pois não havia nada do género. As pessoas tinham que se deslocar para longe”. Agora “eles apanham os seus 300 ou 400 quilos vêm no seu trator e não se preocupam mais”.

Joana Margarida Carvalho

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