«Gentes & Plantas – Saberes e Práticas Tradicionais do Uso das Plantas no Concelho de Constância» é o resultado de 20 anos de recolha de conhecimento junto de quem ainda possui o conhecimento do uso das plantas. Anabela Cardoso e Tiago Lopes compilaram parte dessa informação num livro que o pode deixar surpreendido.
Um livro nunca é demais. Acrescenta sempre qualquer coisa. Mas este livro acrescenta muito. É um reviver de histórias que há muito não ouvíamos. E conhecimento, tanto conhecimento.
Anabela Cardoso e Tiago Lopes conheceram-se há 20 anos em contexto profissional e, durante estas duas décadas, o interesse pelas histórias e pelo uso que as pessoas davam às plantas foi sendo devidamente apontado. “Salvaguardar os saberes e as práticas tradicionais do uso das plantas no concelho de Constância” foi o objetivo primordial deste projeto. A obra pretende também “prestar homenagem às pessoas deste território, guardiãs do conhecimento e da cultura local, que, carinhosamente e de forma generosa, transmitem esta herança, através das suas vivências, das suas memórias, dos seus testemunhos e das suas histórias de vida”.
«Gentes & Plantas – Saberes e Práticas Tradicionais do Uso das Plantas no Concelho de Constância» é o título do livro que ambos assinam, que foi editado pela Câmara Municipal de Constância e que está agora disponível.
Anabela Cardoso está à frente do Museu dos Rios e das Artes Marítimas e Tiago Lopes, engenheiro de recursos naturais, responde pelo Parque Ambiental de Santa Margarida. Ela, ligada à história e às pessoas, ele, ligado à natureza, não poderia ter tido outro nome: «Gentes & Plantas».
“Fizemos recolhas, falámos com as pessoas que detêm este conhecimento - uma, duas, três, as vezes que nos abrissem a porta - e ainda há muita gente que sabe”, refere Anabela Cardoso. Por seu lado, Tiago Lopes assinala que “à partida, podemos pensar que muitas destas práticas foram abandonadas e não foram”. É que, se muito deste conhecimento tem tendência a desaparecer, visto a informação estar na posse das pessoas mais velhas, Anabela Cardoso assegura que “muita gente jovem ainda tem na sua despensa frasquinhos com chás, com ervas, e há gente que, ainda que não saibam fazer defumadouros para afastar coisas ruins, para purificar a casa, sabem quem faz e pedem esse trabalho”.
Um outro exemplo de que ainda se recorre às “mezinhas” e conhecimentos ancestrais é o caso do cobrão [zona]. “Às vezes, são mesmo os médicos que dizem aos pacientes para ir procurar quem saiba e tente”, diz Anabela Cardoso. No entanto, não são apenas as plantas a «influenciar» os resultados. Anabela explica que todas estas manifestações “envolvem orações, gestos, uma cruz, objetos utilizados de determinada maneira... mas sempre com o imaterial. E as orações nem sempre são iguais. Num território pequenino como é o concelho de Constância, com três freguesias, vemos diferenças de umas para outras. E isso tem a ver com o sítio de onde vieram. O sul nota-se mais ligado ao Alentejo e a norte, Constância e Montalvo, mais ligado às Beiras”.
Tudo isto e muito mais no livro «Gentes & Plantas – Saberes e Práticas Tradicionais do Uso das Plantas no Concelho de Constância» onde são os verdadeiros guardiões das memórias deste património que o partilham agora com o público.