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Semana Santa Sardoal: “Estou sempre a pensar qual é o ano em que ele não nasça”

28/03/2018 às 00:00

José Martins a tratar dos vasos que irão levar o trigo para enfeitar o altar

Na Igreja Matriz da Paróquia de São Tiago e São Mateus, em Sardoal, podemos encontrar, do lado esquerdo, a Capela lateral dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e onde estão as tábuas do Mestre de Sardoal.

Na Semana Santa, esse altar fica sob a responsabilidade de José Martins. “São uns 38 vasos que lá ponho”, afirma, orgulhoso. Os vasos de que fala não levam flores, levam trigo. Quisemos saber porquê. “Estou quase com 80 anos e desde miúdo que eu via uma senhora fazer isso, colocar trigo no altar do Sagrado Coração de Jesus”, explica. Entretanto, “e durante muitos anos, décadas mesmo, essa tradição parou”.

José Martins recorda que ainda chegou a enfeitar o altar com flores. “Era um trabalhão para arranjar tantas flores. Eram 20 ou 30 jarras”.

Mas José Martins foi buscar as memórias dessa infância e resolveu continuar a colocar o trigo no altar. “Já faço isso há cerca de 30 anos. Creio que, nesse tempo que falei da outra senhora, até semeavam alpista. É parecido com o trigo mas fica mais miudinho”.

E é José Martins que cuida de todo o processo. “Semeio o trigo aqui em casa, nos vasinhos e, aí ao fim de 20 dias, o trigo está com um palmo de altura. Com 15 a 18 centímetros. E cresce numa casa escura, sem janelas. Fica assim amarelinho. Aquela senhora, dizem, até o punha dentro de uma arca”.

“Já estive a ver no calendário e tenho que o semear no dia 8 de março, para estar pronto na Semana Santa. É um risco. E estou sempre a pensar qual é o ano em que ele não nasça”, confessa.

Há algumas pessoas que quando visitam a Igreja, “acham curioso o trigo no Altar e eu digo que é uma herança que eu tenho”, diz, entre gargalhadas. E por falar em herança, quem poderá pegar nesta tradição no futuro? “Ah, isso não sei. Pode ser que seja o meu filho. Ele também gosta disto e vai-me ajudar a colocar os vasos. Pode ser que ele… ou os meus netos…”

“Aquela capela era sempre enfeitada pela minha senhora, creio que até já em solteira”, revela-nos. “Mas, agora, a minha senhora já não pode e é a minha cunhada que trata do altar, até porque as Missas durante a semana são dadas naquela capela”.

O aumento de visitantes durante a Semana Santa também tem sido notado por José Martins. “Ultimamente, tem vindo bastante gente”, afirma.

A Semana Santa é uma altura que “desde a Quinta-feira Santa e até à Páscoa, nós vivemos de forma muito intensa”.

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