As reuniões do executivo municipal de Abrantes têm, neste mandato, registos de conflitualidade entre o presidente e os vereadores da oposição. Em muitos casos essa conflitualidade não é apenas política, entra por outros caminhos de acusações ao presidente da Câmara na forma como gere as reuniões.
Há várias situações em que os vereadores da oposição manifestam discordância com posições assumidas pelo presidente que, também muitas vezes, aponta os resultados eleitorais de 2021 como ato que legitima as decisões que são tomadas. Mas, na maior parte dos casos as “discussões” são feitas no período antes da ordem do dia. E muitas vezes, principalmente por parte do vereador do PSD as questões são levantadas por lhe ser cortada a palavra ou por não poder abordar os assuntos da forma como quer. E já não é a primeira vez que, quando termina o tempo no período antes da ordem do dia o vereador Vítor Moura, contrariado, termina a intervenção e volta ao assunto na reunião seguinte.
Por outro lado, ambos os vereadores da oposição, Vítor Moura (PSD) e Vasco Damas (ALTERNATIVAcom), acusam o presidente de não respeitar o direito de oposição e, várias vezes, também adjetivam a sua ação como autoritária ou pouco democrática.
E esta terça-feira a reunião voltou a ter um momento de conflitualidade. Já com mais de duas horas de reunião, o vereador do PSD Vítor Moura levantou-se e abandonou a reunião a dizer “eu não sei lidar com ditadores”. Ora e o que é que se passou?
Quando o presidente da Câmara, Manuel Jorge Valamatos, estava a fechar o período antes da ordem do dia para passar à agenda da reunião, o vereador Vítor Moura pede para intervir ao que o presidente responde-lhe que poderia intervir nos pontos da ordem de trabalhos. O vereador do PSD disse não fazer sentido falar dos assuntos discutidos antes da ordem do dia em assuntos específicos da agenda.
Manuel Jorge Valamatos ripostou a dizer que o vereador do PSD tem um tempo de intervenção. Vítor Moura insistiu que não faria sentido responder ao vereador Luís Dias [a propósito da Feira Nacional de Doçaria Tradicional] dentro de outros temas.
Manuel Jorge Valamatos repetiu que o vereador do PSD já tinha tido o seu tempo e que tinha percebido que Vítor Moura “estava a fazer uma intervenção na defesa do vereador Vasco Damas.” O vereador do PSD ripostou ao dizer “não estava. Está enganado.”
Manuel Jorge Valamatos avança com a reunião e Vítor Moura insiste: “O senhor não me permite que responda (...) isto é a democracia que funciona aqui. Simbolicamente, em respeito a todos quantos votam no concelho de Abrantes eu vou-me ausentar desta reunião. Eu não sei lidar com ditadores.”
Manuel Jorge Valamatos seguiu com a reunião do executivo municipal, sem a presença do vereador social-democrata.
O vereador eleito pelo PSD quereria responder ao vereador Luís Dias que tinha referido que o vereador Vítor Moura “desmerece a Feira de Doçaria.” E indicou que a Feira promove os doces e as atividades económicas. E Luís Dias perguntou se o “PSD é declaradamente contra a Feira Nacional de Doçaria Tradicional que existe em Abrantes. Parece que é notória que a posição do PSD ou do vereador do PSD é contra esta feira ”
Isto porque o vereador eleito pelo PSD já tinha referido que a Câmara não deveria organizar uma feira que promove os consumos de açúcar, o que cada vez é mais desaconselhado em termos de saúde. Defende o vereador eleito pelo PSD a realização de “uma grande feira de atividades económicas, onde estaria incluída a doçaria.”
Já antes, na abordagem a números do acesso ao ensino superior em Abrantes. Vítor Moura tinha discordado de declarações do presidente Manuel Jorge Valamatos sobre o ensino superior em Abrantes. E a dado momento Vítor Moura refere-se ao projeto da residência para estudantes, uma obra “de 2,4 Milhões de Euros para ‘deitar’ 54 estudantes ...” é interrompido por Manuel Jorge Valamatos que discorda da linguagem utilizada. “Não é para deitar, essa é que é a questão da linguagem (...) peço-lhe desculpa o senhor não volta a utilizar aqui essa linguagem. Não é para deitar. Os alunos do ensino superior merecem muito respeito.”
Manuel Jorge Valamatos tenta passar a palavra a outro vereador e Vítor Moura interrompe a perguntar se o presidente iria-lhe tirar a palavra. ”O senhor nem democrata é. O senhor é um ditador.” E o presidente da Câmara passou a palavra ao vereador Luís Dias.
Pode ver aqui toda a reunião do executivo municipal de 1 de outubro, com estes factos a poderem ser vistos a partir das 02h01.